Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 10 - abril de 2017

INDUSTRIALIZAÇÃO EM PAUTA

“... E esse tal de ´BIM´ aí?...”

Coordenador da Comissão de Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CEE-134)


2. O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DA CONSTRUÇÃO
Então, meu primeiro contato com BIM foi em Janeiro de 2010 na CEE-134 da ABNT, onde está sendo desenvolvida a 1ª. Norma BIM Brasileira, a NBR-15965, que consiste num sistema de classificação das informações, especificamente desenvolvido para atender à indústria da construção civil.
Mas o que seria um “sistema de classificação das informações”?
O texto-base escolhido para o desenvolvimento do sistema de classificação das informações brasileiro foram as 15 tabelas do OmniClass (sistema Norte-Americano).
O OmniClass consiste em 15 Tabelas, ou 15 diferentes tipos (ou ‘classes’) de informações (ou conteúdos). A partir da combinação de diferentes conteúdos (termos codificados), faz com que seja possível descrever e classificar tudo e qualquer coisa da indústria da construção civil norte-americana.
O ponto a destacar aqui é justamente a abrangência de um sistema que se propõe a classificar tudo e qualquer coisa de uma indústria, sejam unidades construídas, que são formadas por espaços, que integram diferentes disciplinas e demandam recursos de diversos tipos (componentes, equipamentos, mão-de-obra) para a realização dos processos construtivos, que se dividem em fases e assim por diante.
O BIM e formatos modernos de “Procurement” exigem a definição de sistemas de classificação das informações, para a viabilização da troca de dados entre os diversos participantes (intervenientes) e aplicações (software) que necessariamente precisam se inter-relacionar durante o desenvolvimento de um empreendimento típico da indústria da construção civil.
A parte 2 da Norma Internacional ISO 12006 define uma estrutura para sistemas de classificação de informações no setor e identifica um conjunto de tabelas de conteúdos recomendados, com seus respectivos títulos e definições. O OmniClass e, por decorrência, a norma brasileira, foram desenvolvidos em compatibilidade com a norma ISO 12006-2.
Considere no diagrama mostrado a seguir, as diferentes classes de informações definidas pela ISO 12006-2, assim como as principais inter-relações e inter-dependências entre os diferentes tipos de informações ou classes conceituados.


2 Os 5 Guias BIM e uma cartilha focada nos principais benefícios podem ser baixados gratuitamente no website da CBIC: http://cbic.org.br/bim/index.html


Figura 1: Diagrama do conceito de classificação das informações para a indústria da construção civil, de acordo com a Norma ISO 12006-2:2015


Mesmo tendo trabalhado mais de 30 anos com engenharia em diversos cargos e empresas, nunca havia parado e feito uma reflexão tão interessante quanto esta, provocada pelo esforço de tentar entender o sistema de classificação das informações da indústria da construção.
Talvez esse seja o principal e real ´valor´ proporcionado por um sistema de classificação das informações, a ampliação do nível de compreensão sobre a indústria que ele ´descreve´, da forma mais abrangente possível. Sua adequada compreensão provocou em mim uma sequência de insights e reflexões sobre a indústria e facilitou muito o meu entendimento do BIM.
BIM é um processo baseado em objetos que, por definição, pode ser aplicado a todo o ciclo de vida de um empreendimento e onde são empregados e utilizados muitos conceitos oriundos da tecnologia da informação (TI).
Então, talvez se possa dizer que o BIM ´enxerga´ a construção civil pelas lentes da TI, ou seja, como bancos de dados que são inter-relacionados.
No desenvolvimento de qualquer sistema de TI uma das primeiras tarefas necessárias é justamente a de separar e diferenciar as informações em diversos ´bancos de dados´, para então mapear e identificar as regras de relacionamento e interdependência entre esses dados.
Aplicando a abordagem de análise na indústria da construção, percebemos que, sem a definição de um sistema organizado e completo para a classificação das informações, acabamos confundindo e misturando coisas e conceitos. Por exemplo: na especificação de um piso cerâmico para uma dada construção, não raramente podemos encontrar algo como:
Piso cerâmico porcelanato em placas de 60cm x 60cm x 2cm, PEI 4, fabricante “X”, linha “Y”, cor creme, acabamento fosco, assentado com cola e rejuntado com rejuntamento “Z”, cor creme, com juntas de 2mm.
Ao olhar para essa especificação sob as lentes de um sistema de classificação, podemos construir vários raciocínios. O primeiro seria que, considerando o nível de detalhamento da especificação, trata-se de um empreendimento que já estaria, no mínimo numa fase de projeto executivo ou posterior (construção ou operação). Porque, obviamente, houve um momento anterior, considerando o ciclo de vida deste empreendimento que, embora se tivesse a certeza de que haveria um revestimento no piso, ainda não se sabia qual seria seu tipo e especificação.
Os sistemas de classificação definem diversos conceitos aplicáveis a esse exemplo.
Enquanto não se sabia ainda qual seria o piso a ser aplicado, mas, por exemplo, era preciso fazer uma estimativa do custo do empreendimento, poderia ser utilizada uma classificação do ´elemento´ piso, para o qual se poderia atribuir um preço estimado (do serviço já realizado, compreendendo o piso, mão-de-obra e materiais de aplicação).
Na NBR-15965 há a Tabela 3E – Elementos, que é utilizada para classificar elementos da construção, quando ainda não se sabe bem que material ou que tipo específico de solução técnica será aplicada em alguma parte de uma construção. Um dos usos principais dos conteúdos desta tabela de elementos é o desenvolvimento de estimativas de custos.
Continuando a análise do exemplo do piso cerâmico, após a estimativa de custos, assumindo que o empreendimento tenha se mostrado viável, na evolução pelo seu ciclo de vida, chegaria o momento da especificação detalhada do piso, quando já teriam sido escolhidos os fabricantes e modelos específicos. Para a classificação de produtos ou componentes, que correspondam a itens fabricados e comercializados, há na NBR-15965, a Tabela 2C – Componentes, que pode ser utilizada para a classificação nesta fase do ciclo de vida do empreendimento.
Já a classificação do piso específico e já assentado, considerando inclusive a mão-de-obra, a argamassa (ou cola) e também o rejunte, ou seja, todos os recursos necessários para realização completa do serviço, há na NBR-15965, a Tabela 3R – Resultados da construção.
Ou seja, o sistema de classificação deixa claro que uma coisa é um componente fabricado e comercializado e outra é o serviço de instalação ou assentamento deste componente, para incorporá-lo num ‘ambiente’ de uma ‘unidade construída’.
Prosseguindo neste raciocínio, um sistema de classificação das informações, oferece de maneira organizada e estruturada, as várias ´lentes´ pelas quais se pode ´olhar´ e analisar uma indústria e ajuda a consolidar conceitos e entendimentos, discernindo fases, recursos, processos, etc. de uma maneira organizada e inequívoca, ou seja, com fronteiras bem definidas e bem conceituadas.
Ainda raciocinando sobre o exemplo do piso cerâmico, algumas perguntas que podem emergir a partir da análise baseada num sistema de classificação das informações, poderiam ser:
Piso cerâmico para que tipo de ambiente? As características do piso precisam estar coordenadas e adequadas ao tipo de ‘ambiente´ onde ele será instalado (anti-derrapante em áreas molhadas, resistência superficial adequada para tráfego intenso (comércio por exemplo).
Que atividade lhe interessa, sobre o piso cerâmico? Fabricar o piso? Especificá-lo? Instalá-lo? Fazer sua manutenção?
A quem interessariam informações sobre um piso cerâmico? A um incorporador, a um orçamentista, a um planejador, etc.
• Quais seriam os equipamentos e ferramentas relacionados aos pisos cerâmicos? Obviamente dependeria da atividade relacionada: para fabricar? para assentar? para manter? E aqui, observa-se a característica ´facetada´ do uso do sistema de classificação das informações.Quais seriam as propriedades relacionadas a um piso cerâmico?
Resumindo, o sistema de classificação em que consiste a NBR-15965, oferecerá informações (termos, palavras) padronizadas, em bom Português, de compreensão inequívoca, refletindo as práticas construtivas brasileiras, codificadas, para que sejam entendidas também por computadores (softwares), organizadas e estruturadas em 13 tabelas de conteúdos. Conteúdos (ou Tabelas) cuidadosamente conceituados (definidos), abrangendo todo o ciclo de vida dos empreendimentos, de tal forma que, combinando as palavras destas tabelas³, seja possível classificar tudo e qualquer coisa da indústria da construção civil, incluindo não apenas edificações, mas também empreendimentos de infraestrutura e construções específicas (mineração, óleo e gás, etc.).
Cabe observar que os conteúdos das tabelas da norma brasileira não são uma tradução simples das tabelas Omniclass™, e incluem um trabalho de exclusão de itens tipicamente utilizados no mercado norte-americano e a inclusão das soluções e técnicas construtivas utilizadas no Brasil.

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