CENÁRIO ECONÔMICO
A recessão acabou! Essa é, sem dúvida, a principal boa notícia dessa segunda metade do ano. Os números do PIB referentes ao segundo trimestre divulgados em setembro já haviam mostrado o movimento ascendente da atividade. A alta do PIB por dois trimestres consecutivos, tecnicamente, configura o fim da pior recessão sofrida pelo país.
O crescimento acumulado desses dois trimestres foi pífio, apenas 1,3% e nem de longe recupera a queda de 8,6% observada no período entre o segundo trimestre de 2014 e o último de 2016. No entanto, depois dessa forte retração, o sinal positivo do PIB já representa um alívio, especialmente pelo destaque que teve o aumento dos gastos das famílias. A alta do consumo ocorreu após nove trimestre seguidos de queda na série com ajuste sazonal e foi possível pela combinação favorável de fatores como a liberação das contas inativas do FGTS, a queda da inflação e a diminuição da taxa de juros.
No final de outubro, considerando um conjunto mais amplo de indicadores, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE), formado por renomados economistas e abrigado na FGV, confirmou, o fim da recessão.
No entanto, Affonso Celso Pastore, que participa do CODACE, caracterizou bem o novo momento: “Saímos da recessão, com certeza, mas temos pela frente uma retomada com passo de cágado manco”. Em outras palavras, o crescimento que se vislumbra ainda é muito tímido e a recuperação será lenta. Os principais analistas projetam para 2017 cerca de 0,8%, e entre 2,5% a 3% para 2018.
A despeito dos claros sinais de melhora bastante disseminados, ainda existe uma certa relutância em simplesmente se comemorar os resultados. Isto ocorre porque todos sabemos do enorme desafio que será sustentar as taxas positivas do PIB nos anos seguintes. Especialmente porque o crescimento ocorreu por conta do consumo, mas os investimentos mantiveram a trajetória de declínio registrada desde o último trimestre de 2013.
Os resultados do PIB do segundo trimestre mostraram que a taxa de investimento do país registrou novo recorde negativo da série iniciada em 1995 - apenas 15,5%. Em mapeamento recente, o BNDES indicou que os investimentos em infraestrutura devem seguir em declínio nos próximos anos, apesar do Plano de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo que prevê uma série de leilões e privatizações. O mapeamento realizado para o período 2017 a 2020 aponta que a infraestrutura deve atrair R$ 104 bilhões em média por ano no período, o que significará uma queda de 16% na comparação com 2016.
No entanto, no segundo trimestre, a construção começou a dar sinais de “despiora” de sua atividade. Em julho e agosto, as empresas da construção registraram os primeiros saldos positivos na contratação desde setembro de 2014. A geração de pouco mais de 3 mil postos com carteira nesses meses ainda representa uma atividade muito incipiente e abaixo da sazonalidade, ou seja, quando se exclui os fatores sazonais, a variação foi negativa, mas houve uma redução expressiva no ritmo da queda que se observou até o ano passado. Vale notar que entre janeiro e setembro, as empresas demitiram 36,7 mil trabalhadores em 2017, enquanto no ano passado, no mesmo período as demissões atingiram 225,1 mil trabalhadores. Paralelamente, o mercado imobiliário começou a reagir, apresentando melhoras nos lançamentos e vendas. E a Sondagem da Construção da FGV vem apontando há alguns meses que a percepção dominante do empresário é que o pior ficou para trás.
A verdade é que ainda há muitas incertezas no horizonte. E essas incertezas se traduzem na postergação do investimento, ou em uma baixa taxa de investimento.
Os elevados níveis de ociosidade da economia devem permitir o crescimento moderado previsto para 2018, sem que a inflação volte a pressionar os orçamentos das famílias e empresas. Mas depois disso, o investimento tem que crescer acima do consumo.
Na fábula de Esopo, a esperta tartaruga consegue vencer a lebre. Na vida real, ou em nosso país, para vencer a corrida, ou garantir um crescimento sustentado nos próximos anos, ainda serão necessários alguns passos fundamentais tanto no âmbito macroeconômico quanto setorial. Portanto, temos ainda muitos desafios.
Vale observar que os planos de investimento podem ser revistos e melhorados. Basta se restabelecer a confiança no país. Feliz 2018!