CENÁRIO ECONÔMICO
A necessidade de maior modernização do setor da construção e os subsequentes ganhos de produtividade que essa modernização ensejaria tem sido tema recorrente dessa coluna. No entanto, dispomos de poucos números que mostrem o grau de disseminação de processos industrializados no país. Como medir avanços sem um perfil atualizado?
Pesquisa realizada pelo FGV IBRE para a Francal Feiras1 começou a cobrir parte dessa lacuna. A Sondagem da Construção em Sistemas Industrializados realizada em 2024 com 510 empresas da construção civil brasileira de todos portes e segmentos setoriais trouxe um retrato bastante abrangente da questão.
Um ponto de partida importante nessa discussão é o que considerar como sistema industrializado. Nesse sentido, a pesquisa definiu os sistemas industrializados como independente do material, aqueles que estariam associados à produção dos componentes em ambiente industrial e posteriormente montados nos canteiros de obras.
Essa definição tornou o conceito mais abrangente que a utilizada em pesquisa realizada em 2023 pelo próprio FGV IBRE. No entanto, continuou-se a excluir a produção realizada diretamente nos canteiros como os pré-fabricados de concreto.
A pesquisa apontou que na construção civil brasileira 64,5% das empresas fazem uso de sistemas industrializados. Aqueles 35,5% que não utilizam mencionaram motivos diversos, mas o destaque principal, com o maior número de assinalações, foi a autodeclaração de não ter o perfil adequado. A resposta remete à questão de qual seria o perfil necessário para uma empresa do setor fazer uso de sistemas industrializados. Algumas são prestadoras de serviços, como empresas de instalações elétricas e de ar-condicionado. Outras trabalham com obras públicas, e há ainda aquelas que fazem edificações residenciais nos segmentos de alto padrão ou Minha Casa Minha Vida. Ou seja, a resposta pareceu ser um grande guarda-chuva para justificar a não utilização de sistemas industrializados, seja por falta de interesse ou conhecimento. Mas vale destacar a menção à falta de capacitação da mão de obra, projetista e gestores como a segunda principal razão.
A despeito da maioria das empresas consultadas ter indicado usar sistemas industrializados, é importante observar que não o fazem em todas as obras. De acordo, com as próprias empresas, mais da metade, ou 58% das empresas, mencionaram que os sistemas são utilizados em no máximo 50% de suas obras. Apenas 24% delas utilizam os sistemas em mais de 75% de suas obras.
E quais são os sistemas utilizados? A maioria apontou os kits elétricos, seguidos pelas estruturas pré-fabricadas de concreto.
Em relação às motivações para o uso dos sistemas industrializados as empresas deram maior ênfase à redução do prazo de produção, ou seja, as empresas apontaram a maior produtividade da mão de obra. O segundo item da lista foi a diminuição do uso de mão de obra no canteiro. Em tempos de escassez de trabalhadores, como tem sido reportado pelas sondagens mensais da construção do FGV IBRE, são, de fato, duas questões fundamentais para a sustentação do atual ciclo de negócios das empresas.
Questões relacionadas à sustentabilidade, como menor geração de resíduos e de impactos ambientais também aparecem como motivações importantes.
Enfim, podemos comemorar que a utilização de sistemas industrializados é uma realidade no setor da construção. Mas há ainda um percentual significativo das empresas de construção civil no país indica não fazer uso de nenhum tipo de sistema industrializado. O que sugere uma necessidade de uma ação de conscientização.
O resultado da sondagem traz ainda pontos de reflexão importantes. O primeiro deles é que a produtividade é uma discussão que caminha com a necessidade de indicadores de sustentabilidade setorial. As empresas relacionam essas duas questões como principais motivadoras. De fato, a industrialização une essas duas questões, mas ainda encontra muitos obstáculos para avançar no setor e a maior delas é a qualificação.
O segundo ponto que emerge desse levantamento é que a construção civil brasileira precisa de ações institucionais efetivas para melhorar seus indicadores de industrialização.