OPINIÃO DA ACADEMIA
Mounir Khalil El Debs: Professor Sênior do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo
A academia tem contribuído com a formação de recurso humano em todo o mundo. Desse modo, ao considerar que a pré-fabricação representa uma evolução em relação aos processos tradicionais da construção, a academia pode e deve colaborar para o desenvolvimento desse setor, consequentemente, alavancando o mercado no Brasil.
Essa colaboração pode ocorrer através do fomento às pesquisas focadas nas necessidades do setor produtivo, que precisa explicitar suas demandas, estando ciente de que há um tempo de maturação para alcançar os resultados. Um mestrado acadêmico leva entre 2 e 3 anos e um doutorado, entre 4 a 5 anos. Entre a proposta, seleção de alunos, desenvolvimento da pesquisa e a obtenção de resultados é necessário ampliar mais dois anos a esses números.
Ao integrar esses dois setores, as pesquisas geradas pelo setor acadêmico terão melhores condições de serem transferidas para o setor produtivo, com um grande benefício para a indústria nacional ou regional, conforme o caso. É uma parceria em que todos saem vencedores. Essa questão é tão fundamental, que concebi e coordenei os Encontros Nacionais Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto Pré-moldado (PPP), realizados na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), nos anos 2005, 2009 e 2013.
Ademais, pesquisas sob minha orientação e supervisão têm sido utilizadas no mercado. As pesquisas sobre cálice de fundação foram incorporadas, em parte, na ABNT NBR 9062, em 2017, enquanto as relacionadas com ligações semirrígidas, particularmente que tratam da possibilidade de propiciar uma certa rigidez à ligação vigaxpilar, mediante pequenas modificações em ligações consideradas articuladas, estão sendo usadas pela indústria para aumentar o número de andares reservados a sistemas estruturais com ligações articuladas. Pesquisas relacionadas com almofadas de argamassa modificadas também estão em uso.
Destaco também a contribuição que a academia pode oferecer com a publicação de obras didáticas. A ideia de redigir “Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações” ocorreu no meu retorno de um pós-doutorado nos Estados Unidos, em 1995. Mesmo sendo trabalhoso, foi muito gratificante ver a primeira edição publicada em 2000. A segunda edição (2017), com a Oficina de Textos, recebeu atualizações, incorporando novos conhecimentos e resultados de pesquisa desenvolvidas sob a minha orientação e supervisão. Em 2021, lancei “Pontes de concreto com ênfase na aplicação de elementos pré-moldados”, em que sou autor e também editor.
Além disso, a academia pode contribuir com o setor produtivo no desafio da neutralidade de carbono, pois as inúmeras pesquisas e publicações destacam tendências como construção modular e off site, automação da produção e do seu controle, desenvolvimento de novas ligações, novos materiais, impressão 3D, que impactam o desenvolvimento do setor. As características da pré-fabricação - melhores condições de apropriar de novos materiais mais resistente e mais duráveis, como o UHPC, de redução de materiais pelo uso de formas adequadas, redução de desperdícios – favorecem a incorporação dessas inovações. A academia aqui no Brasil pode ajudar a viabilizar estas inovações, particularizando os estudos para a nossa realidade ou desenvolvimento novos estudos.
Por fim, ressalto como é gratificante ver a evolução deste setor, ao atuar na academia, ministrando aulas até hoje, nas disciplinas que criei: em 1989, na EESC-USP, em nível de pós-graduação e, em 1993, a disciplina optativa em nível de graduação. Também destaco a importância da Abcic, que apoiou minhas iniciativas – eventos e publicações -, e parabenizo os 10 anos da Revista Industrializar em Concreto, espaço fundamental para a divulgação desse mercado.