Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 15 - dezembro de 2018

CENÁRIO ECONÔMICO

As agendas de 2019

Ana maria castelo
Coordenadora de projetos do IBRE/FGV

Ao longo de todo o ano, as incertezas associadas às eleições dividiram e preocuparam a maioria da população. Essas incertezas contribuíram para minar ainda mais a já reduzida confiança de empresários e consumidores, que preferiram adiar decisões envolvendo compromissos mais duradouros.  Resultado: o investimento continuou patinando e a economia não decolou. 
Refletindo esse cenário, a última rodada de projeções do Boletim Focus (16 de novembro) apontou um PIB de 1,4% para 2018.  Novamente, o investimento em construção contribuiu para segurar a retomada da economia e pelo quinto ano consecutivo, o PIB do setor será negativo (-0,6%). 
No entanto, a retrospectiva do ano tem também alguns fatos positivos que merecem destaque. O principal é, sem dúvida, o próprio PIB. Apesar do ritmo de “cágado manco”, o ano de 2018 se encerrará com crescimento, assegurando a sequência de expansão. E o que é mais relevante: depois da forte retração ocorrida em maio, houve melhora no segundo semestre, reafirmando a fase ascendente do ciclo econômico. Também merece menção honrosa o bom resultado das contas externas. E por fim, vale destacar a inflação, que deverá ficar no limite da meta estabelecida pelo Banco Central, de 4,5%, permitindo a taxa Selic ser mantida em 6,5% ao ano até dezembro. 
No que diz respeito à construção, também há fatos positivos. Especialmente no mercado imobiliário. As contratações de crédito para habitação já registravam expansão de 25% até setembro, superando as projeções do início do ano. As vendas de imóveis novos seguiram em alta ao longo do ano e o número de lançamentos aumentou como há muito não se via. 
As sondagens empresariais e do consumidor refletem o momento: o fim do período eleitoral contribuiu para reduzir as tensões e houve melhora da confiança. 
No entanto, as sondagens da FGV mostram que os indicadores de confiança ainda estão em patamar que indica pessimismo. E esse será um dos grandes desafios a serem enfrentados no próximo ano pelo novo governo: montar uma agenda capaz de elevar a confiança para um patamar que represente novamente otimismo. Ou melhor, que reestabeleça a crença no crescimento sustentado do país.
A agenda do crescimento precisa ter como pilar principal um plano de ajuste das contas públicas.  De fato, essa é uma condição absolutamente necessária. Mas, não será suficiente para assegurar um crescimento sustentado. 
A recuperação do investimento em construção precisa também ser parte essencial dessa agenda. Segundo levantamento da ABDIB, entre 2014 e 2017, houve queda de 34% dos investimentos em infraestrutura no país, que precisará investir cerca de 4,3% do PIB, nos próximos dez anos para dar conta das necessidades atuais. 
Estudo da FGV para a ABRAINC estimou que tender as necessidades habitacionais nos próximos dez anos, ou produzir de 12 milhões de moradias, demandará anualmente cerca de R$ 240 bilhões.
O estudo da FGV sobre as necessidades habitacionais também apontou que parte expressiva da demanda estará nos segmentos de menor renda, o que significa que não será possível atendê-la sem uma política pública que some recursos onerosos e subsídios. Por sua vez, as dificuldades da infraestrutura irão requerer uma participação ativa do setor privado, o que vai exigir uma agenda microeconômica que abranja as questões regulatórias, resolva gargalos jurídicos, reduza a burocracia e melhore o ambiente de negócios do país. Ou seja, a agenda macroeconômica precisa andar junto com as agendas social e microeconômica.
Iniciar o ano na fase ascendente do ciclo econômico é uma boa notícia, que muito provavelmente irá garantir um terceiro ano de alta para o PIB e o primeiro resultado positivo da construção dos últimos cinco anos. Mas as condições para o crescimento sustentado ainda precisam ser assentadas.

Nós usamos cookies para compreender o que o visitante do site Industrializar em Concreto precisa e melhorar sua experiência como usuário. Ao clicar em “Aceitar” você estará de acordo com o uso desses cookies. Saiba mais!