CENÁRIO ECONÔMICO
Ana Maria Castelo Coordenadora de projetos do IBRE/FGV
O PIB da construção cresceu 4,3% em 2024. Ao contrário do PIB nacional, o setorial registrou aceleração no último trimestre do ano, mais que recuperando a queda do período anterior. O resultado do último período gera um efeito carregamento de 2% para 2025, ou seja, mantendo o patamar por todo o ano, a construção terá garantido uma expansão muito próxima da que hoje está sendo projetada para a economia como um todo.
A primeira questão que o resultado suscita é: em que medida ele traduz o crescimento da produção formal da construção. E a segunda, se em 2025 haverá crescimento de fato, além do efeito estatístico.
Vários indicadores como produção da indústria de materiais, consumo de cimento e vendas no varejo e ocupação, confirmam o desempenho positivo do setor como um todo em 2024. Parte desse crescimento teve origem na demanda direta das famílias, favorecida pela melhora da renda e do mercado de trabalho. Mas, a produção formal alavancou também a expansão da atividade no ano passado. O boom do mercado imobiliário aliado ao aumento dos investimentos em infraestrutura foram forças determinantes do resultado setorial.
De acordo com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), no ano passado, os investimentos em infraestrutura tiveram um aumento real estimado de 15,3% em comparação com 2023, sendo que os investimentos em transporte e logística cresceram 16%, e, em saneamento básico, aumentaram 13,7%.
Vale lembrar que a Sondagem do Setor de Pré-Fabricados de Concreto realizada com os associados da ABCIC em 2024 pelo FGV IBRE indicou o crescimento de participação das obras de infraestrutura como destino das vendas já em 2023. A Sondagem do FGV IBRE também apontou que as empresas de pré-fabricados estavam otimistas em relação à continuidade do ciclo de crescimento. De fato, a tendência de aumento na participação da infraestrutura como destino das vendas deve ter prosseguido no ano passado e, provavelmente, vai se estender por 2025. A Abdib projeta mais investimentos em infraestrutura, com uma alta real estimada de 11% em relação a 2024, impulsionada por projetos privados, através de concessões e parcerias público-privadas (PPPs). Pode-se acrescentar que, além das obras de infraestrutura, obras relacionadas ao setor agropecuário devem voltar a ganhar importância em 2025: as projeções para o ano apontam outra supersafra que, certamente, aumentará a demanda da agropecuária.
As sondagens empresariais do FGV IBRE realizada nesses primeiros meses do ano, mostraram que as empresas de construção tinham o indicador de expectativas mais alto na comparação com os demais setores. Assim, no que diz respeito à segunda questão acima, pode-se dizer que há indicadores que sinalizam de forma positiva para um crescimento no ano em curso superior ao efeito estatístico.
De todo modo, é importante destacar que as perspectivas e projeções se tornaram mais difíceis, com o aumento recente das incertezas do cenário global. Em 2025, as medidas tomadas pelo governo americano trouxeram muita inquietude e adicionaram níveis de incerteza sem precedentes. Já há uma possibilidade real de recessão na economia americana.
E ainda: no mercado doméstico, não se pode subestimar o enorme desafio que o choque de juros impõe às empresas e famílias.
Assim, se há indícios promissores, há também muitas inquietudes que não devem ser subestimadas. Como se sabe, a instabilidade e volatilidade dos mercados são muito danosos aos investimentos. E o ano está apenas começando!