PROJETANDO COM PRÉ-FABRICADO
A forma de projetar estruturas pré-fabricadas de concreto está em constante evolução, principalmente, para atender as demandas da sociedade. As exigências de desempenho e segurança têm sido mais recorrentes e, em um futuro próximo, conceitos adicionais de colapso progressivo e robustez tendem a ser incorporados nos projetos.
Essa evolução é vista no concreto utilizado na sua estrutura, nos processos executivos ou nos materiais empregados nas ligações entre os elementos. Com isso, é preciso sempre se atentar às exigências normativas e boas práticas de engenharia frente a todas as fases construtivas: desde a fabricação, passando pela montagem e situações transitórias até a fase da obra finalizada.
O avanço da industrialização na construção civil possibilitou projetos mais arrojados como, por exemplo, com o uso de vigas de transição com pilares e vigas pré-fabricadas. Para a fabricação e execução de edifícios em paredes de concreto pré-fabricadas, algumas indústrias já utilizam o sistema carrossel.
No caso do projeto, os desafios são inúmeros, pois nenhum projeto e nenhuma obra são iguais. Nossa atividade exige ajustes contínuos de parâmetros e soluções, como nas ligações, que geram impactos consideráveis no preço da estrutura; ou no detalhamento para execução das fábricas, a fim de obter os benefícios do sistema construtivo, que estão em destaque no site da ABCIC: a redução de prazos; maior controle de custos; elevado nível de controle de qualidade; menor desperdício de materiais; maior sustentabilidade; boas condições para os trabalhadores; eficiência; flexibilidade para projetos mais arrojados; compatibilidade e uso de tecnologias avançadas.
Em projeto, é de suma importância evitar fissuras e deformações excessivas para garantir que o padrão industrializado esteja presente na estrutura final do empreendimento. Além disso, usar ferramentas BIM contribuem nesse tipo de projeto, uma vez que este conceito “dá vida” ao elemento estrutural, atribuindo informações que o acompanham na interoperabilidade entre as disciplinas de projeto e na fabricação.
Meu primeiro contato com o pré-fabricado foi em agosto de 2005, quando iniciei na Zamarion e Millen Consultores. Foi um grande privilégio trabalhar com o Dr. José Zamarion Ferreira Diniz, realizando o estudo do uso de fibra de aço nos capeamentos dos pré-fabricados. Na sequência, fui privilegiado novamente ao trabalhar com o Eduardo Barros Millen, no projeto do pré-fabricado das docas do Aeroporto de Congonhas, com seções e vãos nada convencionais para um recém-formado (Viga “C” com 2 m de altura e vãos de 18 m) e o uso de aduelas pré-fabricadas para túneis de acesso às docas. As duas ocasiões representaram grandes desafios, enormes aprendizados e concretizaram o caminho profissional a ser trilhado.
Outro importante projeto foi o do Estaleiro Atlântico Sul, com pontes rolantes de 150 tf com vãos de 40 m, pilares com 30 m de altura sem travamento intermediário e com o conceito de viga Vierendeel, ligação entre os elementos sem a utilização de soldas de campo e a interação com a cobertura metálica. Foi um divisor de águas trabalhar com o Dr. Zamarion e o Millen no mesmo projeto, pois compreendi os desafios a serem vencidos para prosseguir na área. Como a pressão para não errar e um cronograma ousado, realizamos, em parceria com o Mateus Fram Zóboli, uma grande revolução no fluxo de trabalho da empresa, por meio da implantação e desenvolvimento de produtos que viabilizaram o projeto e melhoraram o fluxo de trabalho no escritório.
Assim, veio a certeza de que não bastava saber fazer, é preciso sempre buscar fazer melhor, com assertividade, prevendo revisões e alterações de projeto, em um tempo menor.
José Carlos do Amaral
Sócio-Diretor da ZMC Consultores