Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 19 - julho de 2020

INDUSTRIALIZAÇÃO EM PAUTA

Base tecnológica é fundamental para o desenvolvimento contínuo da cadeia do pré-fabricado

Em todas as áreas, desde os fornecedores de insumos e matérias-primas, passando pelos desenvolvedores de softwares e fabricantes de equipamentos até a indústria, o desenvolvimento tecnológico é fator decisivo para aumento da produtividade, qualidade, maior competitividade e sustentabilidade

Um dos maiores setores da economia global, a construção é responsável por empregar 7% da população mundial em idade ativa, com a promoção de gastos anuais na ordem de US$ 10 trilhões em bens e serviços relacionados à atividade. Contudo, o segmento vem enfrentando nas últimas décadas dois grandes desafios. O primeiro está relacionado ao impacto ambiental proporcionado pela atividade. Já o segundo refere-se à baixa produtividade. 
Um estudo do McKinsey Global Institute, intitulado Reinventing construction: A route to higher productivity (Reinventando a construção: uma rota para maior produtividade, em tradução livre), revelou que o crescimento da produtividade mundial da mão de obra no setor da construção foi de 1% ao ano, em média, nas últimas duas décadas. Ao passo que o setor industrial chegou a 3,6% e a economia global, a 2,8%. Além disso, uma amostra de países analisados pela consultoria apontou que menos de 25% das empresas de construção civil foram capazes de atingir o mesmo nível de crescimento da produtividade alcançado pelas economias em que atuam.
A estimativa do relatório é que se o setor atingisse, ao menos, o crescimento percentual de produtividade da economia global, a construção ganharia US$ 1,6 trilhão em valor agregado, aumentando em 2% a economia mundial, o que equivaleria a atender aproximadamente à metade da demanda global por infraestrutura.
O material elaborado pela McKinsey avaliou ainda que o desempenho da produtividade não é uniforme e que existem áreas e empresas que são mais produtivas do que a média geral da construção. Nesse sentido, o setor da construção industrializada de concreto ganha destaque por ser altamente produtivo, ter elevado nível de controle de qualidade e mão de obra qualificada. Além disso, o sistema também contribui para diminuir o impacto ambiental da construção, ao reduzir o consumo de recursos e matérias primas e evitar o desperdício de materiais. 
Segundo a consultoria, a baixa produtividade culmina em atrasos de cronograma e aumento de custos. Contudo, os benefícios da industrialização presentes na adoção da pré-fabricação em concreto, possibilitam a redução dos prazos sem que haja detrimento da qualidade e com ganhos estéticos, de desempenho e de funcionalidade pelas tecnologias adotadas na indústria,  como  por exemplo a protensão.
A engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Abcic, relembra o protagonismo da construção industrializada para viabilizar não somente os equipamentos esportivos dos eventos esportivos mundiais sediados pelo Brasil, mas também a infraestrutura em especial a mobilidade urbana necessárias no mesmo período. “Além de atender os cronogramas bastante ousados das obras, as estruturas pré-fabricadas de concreto também possibilitaram cumprir as demandas dos projetos arquitetônicos, com qualidade, sustentabilidade e eficiência”, acrescenta.
Outro aspecto importante da construção industrializada é o desenvolvimento tecnológico. “O Brasil tem certa tradição no desenvolvimento tecnológico do pré-fabricado de concreto. Considero que, atualmente,  existe uma boa base tecnológica para sustentar o desenvolvimento de pré-fabricados no país”, afirma Mounir Khail El Debs, professor sênior junto ao Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. A tradição citada pelo professor Mounir está retratada no livro O concreto no Brasil: pré-fabricação, monumentos, fundações, de autoria do professor Augusto Carlos Vasconcelos. 

Professor Mounir: “Hoje, existe uma boa base tecnológica para sustentar o desenvolvimento de pré-fabricados no país”

“Se for considerado o desenvolvimento com base tecnológica, o que inclui quatro partes: os fabricantes de pré-moldados, os fabricantes de insumos, os projetistas e as pesquisas realizadas na academia, pode-se notar que a participação da academia era periférica até 20 anos atrás. Hoje, o cenário mudou e existe um maior envolvimento da academia. Com a criação da ABCIC foram feitas várias iniciativas no sentido de envolve-la”, avalia Mounir. 
Nesse contexto, o professor destaca unidades e núcleos que têm realizado pesquisas diretamente relacionadas como o concreto pré-moldado, como o Netpre (Núcleo de Estudo e Tecnologia em Pré-Moldados de Concreto) da UFSCar, e os trabalhos de vários pesquisadores com UHPC (Ultra-High Performance Concrete ou CUAD – Concreto de Ultra Alto Desempenho, em português), que seria uma segunda geração de CAD (Concreto de Alto Desempenho), de grande importância para o futuro dos pré-fabricados de concreto.  
O NetPre, por exemplo, tem contribuído com desenvolvimento tecnológico e para a normalização do setor. De acordo com o coordenador Marcelo Ferreira, os resultados das pesquisas conseguem ser aplicáveis até em normas técnicas brasileiras. “Temos, inclusive, áreas de pesquisas inéditas, onde ultrapassamos até o que tem sido feito no exterior, por conta da oportunidade que temos de estudar problemas reais, por meio da parceria entre a Abcic e o NetPre”, contou o professor durante o Prêmio Obra do Ano 2019.
Para o professor Antonio Domingues Figueiredo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a evolução do pré-fabricado e da tecnologia do concreto são indissociáveis, dado que é o principal material utilizado pela indústria de pré-fabricação. “Então, inovações em termos de materiais, métodos de otimização de misturas, sistemas de controle do material e dos próprios elementos pré-fabricados podem ser sempre considerados como de grande interesse da indústria da pré-fabricação. Considero como inadmissível que a indústria ignore inovações tecnológicas que lhe possam trazer maior competitividade e melhoria da qualidade das estruturas. Portanto, o investimento em pesquisa e desenvolvimento deve ser garantido para que o setor se mantenha robusto no mercado e em boas condições de competitividade”, comenta. 
O sistema construtivo também é reconhecido pelo uso de novas tecnologias. "As principais tendências em pré-fabricação envolvem a digitalização dos processos, desmaterialização e a busca do baixo impacto ambiental. O uso do BIM no projeto já é prática bem estabelecida entre as melhores empresas no Brasil. Mas, como em quase todo mundo, aspectos mais avançados são incipientes. Novas ferramentas de projeto que trazem novos conceitos como o projeto paramétrico, gradações funcionais, entre outros, ainda não chegaram no Brasil”, explica o professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Vanderley M. John.

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