PONTO DE VISTA

A partir do aspecto da sustentabilidade como devem ser consideradas as soluções pré-fabricadas de concreto em relação a uma obra? Qual é a meta final?

Cada vez mais é importante a questão de sustentabilidade na concepção de uma obra. O máximo potencial dos pré-fabricados de concreto podem ser alcançados se é a opção escolhida desde o princípio, antes mesmo da concepção do projeto, e levando-se em consideração todos os benefícios do sistema, em termos de controle e apoio técnico, que ao final têm reflexos na parte ambiental quantificadas através das Declarações Ambientais de Produto. 

Como considerar o aspecto de durabilidade?

Na ANDECE temos uma ferramenta tecnológica que possui uma metodologia de cálculo alternativa para quantificar as estruturas de concreto, tradicionalmente para cumprir com as resistências de durabilidade exigidas em normas técnicas em função da classe de exposição ambiental, vem indicada uma série de valores correspondentes a relação de água e cimento máxima que se pode utilizar, resistência mínima do concreto, recobrimentos, conteúdo mínimo de cimento. 

O que se sucedeu, é que a partir disso, começamos a calcular se havia uma melhora já que por normas gerais, a indústria poderia trabalhar com relação de água e cimento menor e com conteúdo de cimento maior, e obter avanços em relação à vida útil. Isso nos incentivou a aprimorar essa metodologia de cálculo, e demonstramos de maneira direta que, com pequenas mudanças e com os parâmetros que a indústria de maneira natural está utilizando, respeitando as limitações de durabilidade e as normas de estrutura em geral, poderíamos aumentar a vida útil das estruturas, melhorando sua durabilidade. 

A partir dessas informações, desenvolvemos outra ferramenta de cálculo, no qual os fabricantes podem fazer simulações com seus dados, os distintos concretos que fabricam em função da classe de exposição ambiental onde trabalham atualmente, e estimar a vida útil. E isso está alinhado com o tema sustentabilidade, sempre com o objetivo de amortizar os impactos ambientais ao longo do tempo.

Uma construção que não é durável não pode ser considerada sustentável. Não há sentido projetar uma construção com um impacto ambiental reduzido a princípio, se daqui 5, 10 ou 20 anos vai se deteriorar de maneira acelerada, acarretando problemas e levando a necessidade de uma reabilitação. A indústria de pré-fabricados de concreto tem conhecimento suficiente para fornecer elementos mais otimizados, estruturas, edifícios e fachadas de maior qualidade, que repercutem diretamente em favor da durabilidade, além de prevenir investimentos em reabilitação no futuro. Lembrando que isso também é sustentabilidade. 

Como foi sua experiência no Brasil? Qual a sua percepção sobre a indústria brasileira e o papel da Abcic?

O período curto em que estive no país me despertou a vontade de ver mais sobre o mercado da construção no Brasil. Mas, as apresentações que pude acompanhar no Congresso do Ibracon me deixaram impressionado com o alto nível do setor no país, alinhado, inclusive, com o que temos na Espanha. Os engenheiros e profissionais têm amplo conhecimento e o setor tem ainda margem para se aperfeiçoar. Agradeço a Abcic, através da engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Abcic, e do arquiteto Paulo Santos, coordenador de projetos da Abcic, por me acompanharem nesses dias. Percebi, ainda, as oportunidades e potenciais para iniciar um processo de colaboração, uma vez que os níveis de tecnologia são muito parecidos, o que facilita o compartilhamento de experiências, incluindo os acertos e os erros, para fazer sempre melhor. Pode ser possível realizar essa troca de trabalhos entre as indústrias do Brasil e da Espanha.