CENÁRIO ECONOMICO
Em maio (de novo maio!), o cenário para a economia brasileira voltou a se complicar. O ambiente externo tornou-se mais difícil ante a perspectiva de normalização da política monetária americana e a possibilidade de uma guerra comercial acirrada entre China e os EUA. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da taxa Selic em 6,5% a.a, interrompendo o ciclo de 12 quedas consecutivas, a despeito da inflação dentro da meta e do baixo ritmo de retomada da economia. A greve dos caminhoneiros praticamente paralisou o país por 11 dias.
Vale lembrar que no ano passado, ao comemorar o fim da recessão, o economista Affonso Celso Pastore disse que teríamos pela frente uma retomada com passos de cágado manco.
De fato, o ritmo de crescimento da atividade já estava se mostrando muito lento antes da greve dos caminhoneiros. Assim, o aumento das incertezas no plano externo e interno levaram à revisão para baixo das projeções de crescimento em 2018. O Boletim Macro da FGV IBRE reviu sua projeção de 1,9% para 1,7%. A pesquisa do boletim Focus do Banco Central realizada na última semana de julho com as principais instituições do mercado indicou crescimento ainda menor, de 1,5%.
Para a construção, a FGV manteve a projeção de alta de 0,5% - vale lembrar que no final do ano passado esperava-se expansão de 2% para o setor ante crescimento do PIB do país de 2,5%.
O bom desempenho do mercado imobiliário nos últimos 12 meses responde por parte expressiva desse resultado positivo. No entanto, o setor também foi atingido pela maré negativa de maio, que afetou as expectativas dos empresários da construção, que em junho se recuperaram apenas parcialmente.
Nas Sondagens empresariais de maio, ao se indagar quais os fatores que estariam influenciando negativamente suas expectativas, 62% das empresas apontaram o ritmo lento da economia. Incertezas políticas e a falta de confiança no governo tiveram 57% e 48% das assinalações, respectivamente.
A quebra das expectativas em relação ao crescimento em 2018 e a frustração com o ritmo de melhora indicam que o ponto de partida no próximo ano será muito baixo e agravado por grandes desafios no âmbito fiscal.
Na verdade, as perspectivas para os próximos anos estarão condicionadas à forma como esses desafios serão enfrentados pelo próximo governo, o que explica o elevado percentual de assinalações empresariais no quesito Incertezas Políticas.
Nesse sentido, o que se descortina à frente são cenários possíveis a partir de um conjunto de premissas que podem ensejar futuros mais ou menos desejáveis.
Em um limite extremo e positivo, é possível vislumbrar um crescimento sustentável nos próximos anos, possível a partir das reformas macro e microeconômicas, realizadas nos dois primeiros anos do próximo governo.
Em outro extremo, a não realização das reformas conduziria à volta da inflação, à paralisia dos investimentos e mesmo a uma crise política já no início do governo.
Entre esses dois extremos, há cenários intermediários, como realizar parcialmente as reformas necessárias, e assim, postergar uma crise maior (leia-se empurrar com a barriga!).
Muitos analistas acreditam que não há alternativas entre os extremos, o que fortaleceria o primeiro cenário.
No entanto, ante o ponto de partida bastante baixo - o PIB brasileiro estará quase 5% abaixo do patamar de 2014 - e a enormidade dos desafios, mesmo com a realização das reformas, o cenário favorável prevê um crescimento do PIB do país de 3% ao ano até 2022. Isso significa que apenas em 2020 o país conseguirá recuperar o patamar de atividade de 2014. Não parece muito, mas é o melhor que podemos desejar nesse momento.
Ana Maria Castelo
Coordenadora de projetos do IBRE/FGV