Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 4 - abril de 2015

CENÁRIO ECONÔMICO

Conjuntura desfavorável

Os números do PIB recém-divulgados pelo IBGE confirmaram o que outros indicadores já sinalizavam: de 2007 a 2012, a construção civil registrou taxas de crescimento vigorosas que superaram bastante o crescimento do País. Impulsionado pelo crédito e por programas governamentais, o PIB setorial elevou-se 42%, enquanto o PIB brasileiro aumentou 19%. A construção passou a representar metade do investimento realizado no País.
A expansão desse período foi impulsionada especialmente pelas empresas da construção, que tiveram expansão superior ao do próprio PIB setorial. Ou seja, houve um avanço na formalização da produção no comparativo com as atividades realizadas pelas próprias famílias ou por pequenos empreiteiros não formalizados. Essa é uma boa notícia que mostra que a importância do setor na geração de renda e emprego na economia é ainda maior que a estimada anteriormente. 
Mas os números do IBGE estão retratando um momento que já passou. A partir de 2012, o setor começou a reduzir o ritmo de crescimento e em 2014 deve ter registrado sua primeira retração desde 2006.
As perspectivas para 2015 são ainda mais negativas. A percepção do empresário sobre o cenário setorial mostra-se bastante pessimista. No primeiro trimestre do ano, o Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas registrou queda de 13,5% na comparação com o último trimestre do ano passado. E como tem sido recorrente, a pesquisa registrou novamente seu pior resultado desde que começou a ser realizada em julho de 2010. 
A pesquisa traduz a queda da atividade que começou a se acentuar no segundo semestre do ano passado e se aprofundou nos primeiros meses de 2015. Um declínio que foi puxado pelo indicador que capta a situação atual dos negócios e das atividades das empresas.  Em fevereiro, o emprego formal na acusou queda de 7,8%, na comparação de 12 meses, sendo que na infraestrutura a retração alcançou 11,4%. 
Mas a percepção do empresário em relação aos próximos meses também se deteriorou muito, ou seja, o empresário está pessimista em relação às possibilidades de recuperação do crescimento. 
O quesito da sondagem que mostra a intenção de contratar nos próximos três meses aponta a continuidade na redução do número de empregados.
A sondagem da FGV procurou identificar os aspectos que mais estariam influenciando negativamente a avaliação das empresas sobre os negócios. Para os empresários da construção, destacaram-se o desempenho geral da economia, com 82% das assinalações e o ambiente político, com 54%. Ou seja, os empresários estão atribuindo majoritariamente à economia e a política mais que às questões relacionadas ao próprio setor, o cenário negativo atual. O que significa que estão atribuindo a crise atual mais a aspectos da conjuntura. 
De fato, a forte deterioração observada nas áreas de infraestrutura é o elemento mais inesperado do quadro atual e que se mostra mais relacionado à conjuntura política e econômica do que a problemas específicos do setor como falta de mão de obra qualificada, equipamentos ou materiais. A queda na arrecadação dos governos em suas várias esferas, a pressão por um resultado fiscal positivo, além dos problemas decorrentes da operação lava-jato estão atuando para a redução de ritmo ou mesmo parada de várias obras, determinando a elevação das demissões pelas empresas.
Assim, as possíveis fontes de sustentação da atividade da construção em 2015 que estavam concentradas no Programa Minha Casa Minha Vida, nas obras do PAC e nas novas concessões não apenas não estão contribuindo para atenuar a queda na atividade setorial, mas estão deprimindo-a ainda mais. 
Esse é um cenário que não deveria ocorrer. O ajuste das contas públicas deve e precisa ser feito para que o País possa reencontrar a rota do crescimento e principalmente possa sustentá-lo em uma perspectiva temporal maior que a observada até 2012. No entanto, o ajuste não pode ser feito à custa do investimento sob pena de comprometermos ainda mais as perspectivas de retomada. É hora de olharmos para as reformas microeconômica e tributária, promover melhoria de gestão e de governança.

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