CENÁRIO ECONÔMICO
Nos últimos meses tem se observado uma mudança importante nas projeções: melhoraram os números do PIB e da inflação para 2022.
As projeções para o PIB agora se aproximam de uma taxa de 2% no ano. A massa salarial cresceu e a nova rodada de saques de recursos do FGTS e antecipação de 13º do INSS contribuíram para mitigar o efeito da inflação e dos juros mais elevados sobre o consumo. E no segundo semestre, a partir de agosto, a PEC 1/2022, conhecida como “PEC das bondades”, adicionará mais de R$ 40 bilhões à renda das famílias.
As desonerações realizadas na tributação sobre combustível reverteram o movimento de alta da inflação.
Parece tudo ótimo, mas não dá muito para comemorar. As desonerações dos tributos federais e o aumento dos benefícios para as famílias têm data para acabar: o final de 2022. Isso significa que o próximo governo vai se deparar já de início com o dilema enorme de manter o benefício adicional ou provocar uma contração expressiva na renda das famílias. Além do retorno da tributação que pressionaria novamente os preços dos combustíveis.
Assim, junto com os números melhores de 2022 veio a piora do cenário de 2023: se a expansão deste ano será maior, a do próximo ano será menor, de tal modo que no final não haverá ganho. As projeções para inflação do próximo ano se elevaram e já estão extrapolando o teto da meta.
As incertezas do cenário econômico doméstico são grandes. Que se somam às do cenário externo: a elevação das taxas de juros mundo a fora e desaceleração das economias de um modo geral. O Fundo Monetário Internacional (FMI) atualizou em julho as projeções de crescimento global, apontando um crescimento de 2,9% para 2023.
Para a cadeia da construção, as projeções para 2022 também melhoraram impulsionadas pelo bom desempenho das construtoras. O ciclo de negócios no mercado imobiliário dos dois últimos anos, assim como o investimento em infraestrutura do ano eleitoral tem repercutido favoravelmente na atividade.
Mas como se sabe, o ciclo precisa de novos negócios para manter a atividade em expansão. Todas as incertezas mencionadas anteriormente atingem a decisão de investir e, portanto, podem ter reflexos sobre o crescimento dos próximos anos. A manutenção da taxa de juros em patamar elevado por mais tempo traz incerteza e dificuldades para a sustentação dos investimentos.
O que nos remete a uma questão recorrente: é preciso aumentar muito a participação do investimento em infraestrutura para garantir um ciclo de crescimento duradouro para o país.
Portanto, o próximo governo terá, além dos problemas de curto prazo, uma questão estrutural premente: a defasagem do investimento em infraestrutura no país.
No último artigo mencionamos a preocupação com a manutenção do cronograma de investimentos em infraestrutura previstos para ocorrer nos próximos anos. É importante que os avanços sejam mantidos e os investimentos se realizem. Mas mesmo o que está previsto representa pouco face às necessidades atuais.
Artigo publicado na Conjuntura Econômica de julho discute “A Premência do Investimento, sobretudo em Infraestrutura e Público”. Como diz os autores, pior que investir pouco, é investir abaixo do mínimo. O investimento público alcançou 1,67% do PIB brasileiro em 2019, o que em um ranking de 44 países, deixa o Brasil no penúltimo lugar. Não por acaso, o estoque de capital na infraestrutura que já ficou próximo a 54% do PIB nos anos 90, representa atualmente pouco mais de 37%, segundo estimativas da InterB. Consultoria.
A despeito da importância crescente do investimento privado, ele não consegue suprir o que o país precisa.