Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 21 - dezembro de 2020

PONTO DE VISTA

Estruturas leves e de alto

A engenharia de concreto no mundo tem recebido importantes contribuições da fib – Federação Internacional do Concreto, por meio de suas atividades de conhecimento e da publicação de boletins, estudos, relatórios e códigos modelo que orientam e norteiam os profissionais e empresas em nível global. A reunião de engenheiros, pesquisadores e profissionais altamente qualificados de todos os continentes tem possibilitado disseminar novas tecnologias e inovações em materiais, projetos, técnicas, metodologias e processos construtivos, alavancando o desenvolvimento do setor. 
Sua atuação em nível global pode ser mensurada ainda por sua presidência, eleita pela Assembleia Geral, a cada dois anos. O presidente até o final deste ano é o norueguês Tor Ole Olsen, enquanto a gestão anterior foi presidida pelo espanhol Hugo Corres Peiretti e seu antecessor foi o alemão Harald S. Müller. Para o próximo biênio (2021-2022), o engenheiro japonês Akio Kasuga, que já esteve no Brasil, em 2016, para uma conferência organizada pela Abcic e pela fib, terá a missão como novo presidente de liderar as ações da mais importante entidade do setor de concreto no planeta, que impulsionam a evolução desse segmento em todos os seus aspectos – tecnológico, técnico, de normalização, segurança, sustentabilidade e social. 
Atualmente, Kasuga é vice-presidente executivo e CTO da Sumitomo Mitsui Construction. Ele já projetou e construiu mais de 200 pontes, sendo o responsável pelo desenvolvimento de muitas tecnologias inovadoras nesse segmento. 
Ele conversou com a Industrializar em Concreto sobre o cenário atual da engenharia de concreto no mundo e o impacto da pandemia do novo coronavírus no setor. Avaliou ainda as questões da sustentabilidade e do desenvolvimento tecnológico no segmento e a participação brasileira nas diversas atividades promovidas pela fib, com destaque para o engenheiro Fernando Stucchi (líder) e para a engenheira Íria Doniak, presidente-executiva da Abcic, membro do fib Presidium. A seguir, estão os principais pontos abordados por Kasuga:
Qual a sua opinião sobre o cenário atual e futuro da engenharia de concreto?
A tendência para o concreto de alto desempenho é a direção certa. É importante para países desenvolvidos. No entanto, ao mesmo tempo, as tecnologias básicas de concreto também são necessárias para os países em desenvolvimento, especialmente usando materiais locais. Ambas irão coexistir, por aspectos que envolvem custos e Pesquisa e Desenvolvimento, mas requerem atenção. Cada vez mais o concreto de alto desempenho e elevada performance ocuparão espaço por questões de competitividade e sustentabilidade. Pensar globalmente e construir localmente é o nosso tema principal. Como usuários, projetistas, engenheiros e pesquisadores do concreto, devemos buscar tecnologias de baixo carbono cada vez mais. Esses requisitos serão acelerados e nunca interrompidos. Isso porque as emissões de CO2 do concreto são enormes. As tecnologias de baixo carbono incluem não apenas seleção de materiais, mas também estruturas, construção e demolição, que são necessárias para a nossa sociedade.
Quais serão as diretrizes e ações prioritárias de sua gestão na presidência da fib?
A fib deverá focar suas atividades para disseminar informações que atendam as demandas das mudanças climáticas. Por exemplo, concreto de baixo carbono, construção off-site, construção acelerada, estruturas leves e estruturas altamente duráveis são as chaves de nossas tecnologias para a era vindoura. Entendo que é importante mostrar como a fib pode contribuir com a redução das emissões de CO2 apoiando o desenvolvimento e aplicação das tecnologias de ponta. O concreto é um material essencial para a construção civil. No entanto, não devemos descansar nesta situação. Agir é necessário. Para mim, colocar o vetor da fib nessa direção é um grande desafio.
Como avalia o uso de tecnologias (digitalização, BIM, ferramentas da indústria 4.0, Inteligência Artificial) nesta área?
A fabricação digital e a inteligência artificial são tecnologias importantes. Entretanto, precisam de mais tempo para serem usados no campo prático. Neste momento, a impressão 3D é útil para sistemas de formas mais complexas. A modelagem 3D por BIM (Building Information Modeling) e CIM (City Information Modeling) é a chave da construção futura. Além disso, o 4D para cronograma, 5D para o custo e 6D para as emissões de CO2 serão a modelagem essencial para os gêmeos digitais em um futuro próximo. Combinando com IA, os dados de construção podem ser otimizados simulando no computador antes da construção física.
A sustentabilidade está na agenda mundial, incluindo a construção civil. Na sua opinião, quais são as diretrizes fundamentais para o desenvolvimento sustentável da construção no mundo? A industrialização é uma forma a ser considerada?
Do ponto de vista da sustentabilidade, muitos são os aspectos que levam a esse movimento. Na gestão contínua de estruturas de concreto, projetistas, engenheiros e pesquisadores podem contribuir para concretizar soluções de sustentabilidade no processo de aquisição, projeto, construção, conservação e intervenção, e claro, incluindo a industrialização.
Qual a sua opinião sobre a industrialização da construção? Qual é o papel e os benefícios das estruturas de concreto pré-moldado em países do hemisfério norte?
A construção off-site é tendência no mundo. Especialmente a tecnologia pré-moldada é útil para reduzir as emissões de CO2.
Você poderia analisar o papel do Model Code 2020 para a evolução da engenharia de concreto no mundo?
Acho que o MC2020 deve focar na sustentabilidade mais do que o MC2010. Porque o mundo mudou depois da COVID-19. O aspecto mais importante é que as estruturas existentes são tratadas de forma independente no MC2020. Este é um novo conceito como Código.
Como você analisa a participação brasileira na elaboração e revisão do Código Modelo 2020?
Com relação ao Model Code 2020, o professor Fernando Stucchi (líder da delegação brasileira na fib) tem representado a América Latina. Sabemos que ele interage no Brasil com a comunidade técnica e criou um grupo de discussão dos temas e revisão dos capítulos. Este é um trabalho muito importante e a participação de todos os países que integram a federação é de fundamental importância.  
Como entidade global, a fib tem a participação de vários países. Então, você poderia avaliar a contribuição do grupo brasileiro na fib?
Em minha opinião, o professor Stucchi e a engenheira Íria Doniak (membro do fib presidium) são muito relevantes. Eles têm sido muito ativos em nossa entidade e sociedade. Eventos importantes têm sido realizados no Brasil com a participação da  fib, como o seminário de divulgação e apresentação do MC2020   em setembro de 2017, ocasião em que o Ibracon passou a integrar o Grupo Nacional Brasileiro. Nesse momento de transformação da construção na era digital e com os desafios em relação as questões ambientais, saber que as entidades brasileiras estão alinhadas e atuantes na fib é de extrema importância.
Sua participação no Seminário Internacional (em 2016) sobre a pré-fabricação em concreto, promovido pela Abcic e fib foi muito elogiada. Qual a sua opinião sobre vir ao Brasil?
A Conferência de 2016 foi um evento muito interessante para mim. Se eu tiver chance de novo, gostaria de ir para o Brasil. Mas depende das situações mundiais, infelizmente.
Em 2019, a ABCIC realizou a missão técnica ao Japão, que foi considerada pelos participantes um programa muito bem estruturado e que contribuiu para ampliar a visão dos avanços tecnológicos. Você foi o coordenador local deste programa. Como você avaliaria esta experiência? 
A integração dos países, no que diz respeito a pré-fabricação e cultura, proporcionada por este programa foi muito boa. Eu tive a oportunidade de trocar informações e passar um tempo valioso em Tóquio com o grupo. Espero que todos os amigos do Brasil tenham gostado da estadia.
Que mensagem final, você gostaria de deixar nesta entrevista?
A pandemia pela qual o mundo atravessa deixou legados importantes, muitas reuniões e eventos ocorrem  hoje de forma virtual, o que possibilita que mais pessoas estejam presentes. Por outro lado, lacunas têm sido deixadas. É necessário que os encontros presenciais continuem existindo no futuro ou talvez híbridos, pois o resultado de podermos estar juntos se potencializa. A fib avançou em muitos contextos e temos um website mais interativo e dinâmico que convido todos os leitores acessar bem como as redes sociais. Além desses aspectos, gostaria de destacar, a presença do público jovem e incentivar que o Brasil tenha mais jovens participando da fib, através do Young Members Group. Sugiro que entrem em contato com o Grupo Nacional e ampliem esta participação. Unir as gerações em torno dos temas é fundamental para o desenvolvimento sustentável da engenharia e de nossa entidade.

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