Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 32 - agosto de 2024

CENÁRIO ECONÔNICO

Há dez anos...


Ana Maria Castelo Coordenadora de projetos do IBRE/FGV

Vamos começar festejando a aniversariante, a Revista, que faz dez anos fomentando o debate e trazendo contribuições relevantes à pauta da industrialização e sustentabilidade da construção!

Além da festa merecida, o evento nos remete a revisitar o tempo.  Há dez anos, em 2014, o setor da construção deixaria para trás um período de forte crescimento: entre 2007 e 2013, o PIB da construção registrou crescimento de 62% contra uma expansão de 31% da economia nacional.

Mas já em 2014, o PIB da construção encolheu (-2,14%), refletindo a mudança de cenário tanto no âmbito macroeconômico quanto setorial. A mudança repercutiu por toda a cadeia: a Sondagem realizada pelo FGV IBRE para a Abcic apontou que a produção de pré-fabricados no ano de 2014 havia diminuído 3,2% na comparação com o ano anterior. Por sua vez, a capacidade de produção instalada das empresas de pré-fabricados de concreto teve recuo de 2,6%.

Os dez anos que se seguiram foram bastante desafiadores. Os investimentos em infraestrutura que em 2014 alcançavam 2,4% do PIB passaram para apenas 1,9% em 2024 , aumentando a distância em relação às necessidades mínimas de reposição do capital em depreciação.  Houve uma pandemia, que ceifou muitas vidas e exigiu uma adequação sem precedentes das empresas.

Mas o pior desse período já parece ter ficado para trás, como apontou a última Sondagem da Indústria de Pré-Fabricados realizada em 2023. 
O último Boletim Focus do Bacen, de 28 de junho, trouxe projeção de crescimento de 2,1% para o PIB nacional. Por sua, vez, o PIB da construção deve retomar a rota de crescimento, com alta de 3,1%, alavancado tanto pela produção das famílias, quanto das empresas.

A Sondagem da Construção do FGV IBRE também tem mostrado a percepção mais otimista das empresas em relação à demanda prevista. No entanto, o que seria apenas uma boa notícia traz também pontos de preocupação: a falta de mão de obra qualificada para atender a essa maior demanda.

Na sondagem realizada em junho, o quesito assumiu o primeiro lugar na relação dos fatores que estão limitando à capacidade de crescimento das empresas do setor. No segmento de Obras de Acabamentos, um dos mais intensivos em mão de obra, 44% mencionaram o problema, que já começa a afetar a evolução dos custos setoriais. O INCC-M de junho registrou variação de 3,8% em 12 meses, mas o componente mão de obra teve alta de 6,9% no mesmo período.

Escassez de mão de obra qualificada, % de assinalações, mm3


Fonte: Sondagem da Construção, FGV IBRE.

Vale recuperar que no final de 2013, em novembro, 54% das empresas sofriam que esse mesmo problema. Ou seja, essa é uma questão recorrente, que ressurge nas fases do ciclo em ascensão.

Mas em 2013, o setor vivia um ciclo de forte e contínuo crescimento. Já em 2024, as projeções para o ano apontam inequivocamente a expansão da atividade e do investimento, mas não são as mais exuberantes. Ou seja, voltamos a lidar com a mesma dificuldade de 10 anos atrás, ainda que em um cenário de baixo crescimento.

É importante destacar que nesses dez anos houve um avanço da pauta da sustentabilidade, demandando das empresas mais recursos para modernização e descarbonização. No entanto, relativamente à necessidade de aumentar a eficiência e à produtividade, é preciso avançar muito mais ou a cadeia da construção ficará presa eternamente em uma armadilha de baixo crescimento, sem capacidade de expandir mais.

Nós usamos cookies para compreender o que o visitante do site Industrializar em Concreto precisa e melhorar sua experiência como usuário. Ao clicar em “Aceitar” você estará de acordo com o uso desses cookies. Saiba mais!