CENÁRIO ECONÔMICO
Ana Maria Castelo
Coordenadora de projetos do IBRE/FGV
A incerteza global, título do artigo da última coluna, não se dissipou, pelo contrário, segue presente com a tensão do cenário geopolítico mundial juntando-se às incertezas da política comercial americana. No entanto, contrariando as projeções iniciais, a inflação tem desacelerado. A atividade e o mercado de trabalho domésticos seguem resilientes.
A desaceleração da inflação tem se dado pela queda nos preços dos alimentos in natura e pela estabilidade da alimentação no domicílio. Dessa forma, as projeções para 2025 têm sido revisadas: a mediana das expectativas que chegou próxima a 6%, estava em 5,18% no boletim Focus de 04/07. De acordo com o Boletim Macro do FGV IBRE, a inflação de 2025 pode ficar em 4,9%.
Mas as incertezas do cenário global, assim como a resiliência da atividade podem atrapalhar o percurso de desaceleração. E mesmo no cenário mais favorável, a inflação em 2025 ficará acima do teto da meta de inflação de 4,5%. A alta dos preços no segmento de serviços – alimentação fora do domicílio e serviços pessoais - continua pressionando o índice.
A política fiscal expansionista tem contribuído para atenuar os efeitos da política monetária. A Carta do IBRE da Revista Conjuntura Econômica de junho destaca que a despesa dos Estados e Municípios se tornou uma das principais fontes do desequilíbrio das contas públicas no Brasil, representando um impulso fiscal que vai na contramão dos esforços da autoridade monetária para controlar a inflação.
Assim, a atividade se mantém resiliente e os temores de uma recessão técnica estão afastados, por hora: a taxa de desocupação ronda patamares mínimos históricos. Ou seja, persiste também a escassez de mão de obra, o que, por sua vez, contribui para o aumento dos custos com mão de obra.
Diante dessa conjuntura, o Copom elevou a Selic para 15% a.a., sinalizando a interrupção do ciclo de alta, mas também a manutenção da taxa em patamares elevados por bastante tempo. Ou seja, o choque de juros está sendo mais forte do que o previsto anteriormente. O que nos leva a indagar sobre como irá evoluir o investimento ante essa conjuntura de escassez de mão de obra e elevadas taxas de juros.
Parte expressiva das obras de infraestrutura já está contratada e em andamento. Vale notar que a Sondagem do FGV IBRE apontou que o Indice de Confiança das empresas da construção (ICST) entre janeiro e junho caiu 0,9 ponto. A queda deu-se basicamente pela piora na percepção da situação corrente, ou seja, pressão de custos, dificuldades com financiamento e, principalmente, escassez de trabalhadores. Mas o Indice de Expectativas subiu no mesmo período 2,1 pontos.
O Índice de confiança das empresas de Infraestrutura ficou praticamente estável, mantendo-se próximo ao patamar de neutralidade. Dentro do setor, a infraestrutura tem os melhores índices de Confiança e Expectativas – o Índice de Expectativas subiu 2,5 pontos entre janeiro e junho. O que significa que as empresas estão percebendo as dificuldades, mas se mantêm relativamente otimistas com as perspectivas.
É importante destacar que os indicadores de atividade da construção mostram uma desaceleração do crescimento na comparação com 2024. Mas ainda assim, os sinais são positivos. Uma importante variável é o consumo de cimento: segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, nos primeiros cinco meses do ano, o consumo doméstico aumentou 4,6% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado. Não é possível distinguir a demanda das famílias da demanda das empresas nesse número ou o segmento que mais tem demandado cimento. De todo modo, indicadores de emprego com carteira corroboram o crescimento da atividade formal e o avanço da infraestrutura – o saldo de contratação no segmento da infraestrutura até maio já está 13,7% maior do que o observado no mesmo período de 2024.