CENÁRIO ECONÔMICO
Vendas do comércio, produção industrial e investimento registraram crescimento nos dois primeiros meses do ano na comparação com igual período de 2019.
Também começamos o ano com queda na taxa de desemprego. A taxa média de desocupação no país caiu em 2019, passando de 12,3% para 11,9%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e alcançou 11,6% no trimestre findo em fevereiro.
Assim, os números dos primeiros meses corroboravam as projeções positivas, embora reafirmassem também uma recuperação frágil, com o baixo ritmo de crescimento. Até o início de março, o Boletim Focus do Banco Central apontava um crescimento de cerca de 2% para a economia. Para a construção, as projeções da FGV eram de uma elevação da ordem de 3%, indicando o segundo ano de retomada.
Já sabemos que os números disponíveis para a economia referentes ao primeiro bimestre do ano mostraram um cenário que não existe mais, anterior à mudança dramática da economia brasileira e mundial advinda das consequências da Covid-19.
A maior parte do país, em maior ou menor grau, parou a partir da segunda metade de março. Os efeitos já foram percebidos nos resultados do PIB do primeiro trimestre do ano, que na comparação com o último trimestre de 2019, feito o ajuste sazonal, registrou variação de -1,5%, refletindo a queda em Serviços (-1,6%) e na Indústria (-1,4%). O setor da construção teve retração de 2,4%.
Ainda não existe um consenso em relação à dimensão e extensão total da crise. Mas pode-se dizer que há um consenso de que os impactos negativos sobre a produção, emprego e renda serão expressivos. Assim, todas as projeções anteriores foram revistas para baixo: as novas projeções para o PIB passaram a refletir tanto a retração pelo lado da oferta quanto da demanda, com queda no consumo e no investimento. O Boletim Focus do dia 19 de junho apontou de queda de 6,5% para a economia e de 5,50% para a produção industrial em 2020, já o FMI indicou uma retração possível de 9,4% para o PIB brasileiro.
As pesquisas qualitativas da FGV mais do que nunca passaram a ser um referencial importante da dimensão que a crise pode alcançar, assim como da retomada. O núcleo de pesquisadores da FGV IBRE vem atualizando suas projeções a partir dos resultados das sondagens empresariais e do consumidor. O Boletim Macro da FGV IBRE de junho divulgou projeção de queda de -6,4%, com queda superior a 9% do setor da construção.
É importante observar que a construção sofrerá tanto pelo impacto da crise no segmento de obras de autoconstrução e autogestão quanto no segmento formal. No primeiro caso, pelo aumento do desemprego e queda da renda das famílias. A sondagem do Consumidor apontou que as famílias estão comprando apenas o essencial, quando conseguem.
No segmento formal, apesar de o setor ter sido enquadrado como atividade essencial na maioria dos estados, nas sondagens realizadas em abril e maio, os empresários reportaram uma piora significativa no ambiente de negócios, atingindo todos os segmentos.
Em junho, com a reabertura gradual dos negócios, as expectativas dos empresários da construção tiveram grande melhoram, mas a atividade ainda se mantém em patamar muito baixo.
O segmento de Edificações Residenciais começava a recuperar, impulsionado pelo crédito mais farto e em condições mais acessíveis. As empresas do segmento reportaram redução das vendas. E há o temor de que a inadimplência venha a crescer. Novos projetos estão sendo adiados ou cancelados, postergando o ciclo de novas obras.
Na infraestrutura, o governo manteve o cronograma de leilões e concessões do segundo semestre. No entanto, a atividade deprimida, o elevado nível de incerteza referente à recuperação e o aumento da tensão política, são todos elementos que podem dificultar o interesse dos investidores privados.
De todo modo a recuperação deverá ser lenta. No momento, todos os esforços estão sendo direcionados para mitigar os efeitos do desemprego e da queda da renda sobre a população mais vulnerável, assim como sobre as pequenas empresas que enfrentam maiores dificuldades para subsistir. Após esse período, será necessário pensar em políticas anticíclicas, onde a construção deve ter um maior protagonismo.