CENÁRIO ECONÔMICO
Desde 2020, o setor da construção tem se destacado como um dos principais geradores de empregos com carteira. Nos primeiros cinco meses de 2023, a construção ficou atrás apenas do setor de Serviços, respondendo por 18% do saldo líquido de empregos gerados registrado nos meses de janeiro a maio.
Os números refletem, em parte, o boom do mercado imobiliário do período 2020 a 2021, quando as taxas de juros baixas impulsionaram as vendas, que agora se traduzem em obras. Mas nesses primeiros cinco meses do ano, vale destacar os empregos gerados pela infraestrutura – 33% do saldo no ano da construção.
Esse aquecimento do mercado de trabalho traduz a alta dos investimentos na área – resultado dos leilões de concessão dos últimos anos, do aumento dos recursos federais para as estradas e dos investimentos dos entes municipais.
Estimativas da InterB. Consultoria apontam que em 2023 devem ser direcionados para a infraestrutura R$ 204,6 bilhões, montante 29% superior à média de R$ 158,4 bilhões executados no quadriênio 2019- 2022.
A maior parte (64%) terá origem privada e será canalizada para as seguintes áreas:
Energia elétrica – R$ 86,2 bi
Transportes – R$ 67,5 bi, sendo R$ 47,9 bi em rodovias
Telecomunicações – R$ 26,5 bi
Saneamento básico – R$ 24,4 bi
Vale notar que mesmo com essa projeção de crescimento, os investimentos em infraestrutura só alcançarão 1,94% do PIB, continuando abaixo do patamar mínimo para cobrir a depreciação do estoque existente. O aguardado novo PAC pode contribuir para elevar um pouco mais essa participação, mas o desafio de chegar a 4% do PIB, que garantiria a sustentabilidade do crescimento, passa pela atração de mais capitais privados.
No entanto seja pelas mãos do setor público ou do capital privado, o investimento em construção no país tem um grande desafio: melhorar sua produtividade.
Artigo publicado no blog do IBRE, “Construção: produtividade e modernização”1 traz um perfil bastante negativo da produtividade setorial.
De acordo com o estudo: “entre 2007 e 2021, a produtividade das empresas da construção diminuiu cerca de 0,37% a.a., sendo o pior resultado observado no segmento de Serviços Especializados (- 1,22% a.a.); na Infraestrutura, a perda de produtividade foi de 0,72% a.a. Apenas no segmento de Edificações houve melhora ao ritmo de 0,92% a.a.”
Como o estudo menciona, a baixa produtividade do setor tem muitas causas, mas há uma relação importante da questão com os baixos níveis de utilização de processos industrializados. Nesse sentido, Sondagem realizada pelo FGV IBRE em abril junto às empresas de construção do país corroborou a percepção corrente: apenas 34,6% das empresas fazem uso de sistemas pré-fabricados em suas obras. As empresas de Edificações Não Residenciais ficam acima da média, com 47,7%, mas na infraestrutura apenas 33,2% usam sistemas pré-fabricados.
A menor utilização de processos industrializados pelas empresas de infraestrutura possivelmente está relacionada à quebra de grandes empresas e redução drástica do investimento na área. Entre 2014 e 2021, o valor das incorporações, obras ou serviços da construção como um todo caiu 38%. No segmento de infraestrutura, a queda foi 48% (considerando correção pelo INCC).
Vale destacar que poucas usam sistemas industrializados em mais de 50% de suas obras: apenas 24,5% das empresas.
De fato, o resultado não surpreende, mas se torna um ponto de referência que dá uma clara mensagem a toda a cadeia: é preciso aumentar muito esses números.
Hoje a tributação é um desestímulo à utilização de processos industrializados. Assim, a reforma tributária pode contribuir para a isonomia tributária dos processos, mas esse é apenas um dos fatores a se transpor. Há questão da escala e, principalmente, de gestão e qualificação da mão de obra.