Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 21 - dezembro de 2020

CENÁRIO ECÔNOMICO

O V da questão

No início de dezembro, o IBGE anunciou o resultado do PIB brasileiro do terceiro trimestre e confirmou o que todos aguardavam, ou seja, um crescimento expressivo, depois do forte tombo do período anterior. Os números também mostraram que a retomada está sendo razoavelmente disseminada e muito desigual. Quase todos os setores tiveram crescimento, mas enquanto a Indústria de Transformação conseguiu recuperar o patamar anterior ao início da pandemia, o setor de Serviços, especialmente de Serviços Prestados às Famílias, ainda está distante de voltar à situação anterior. 
O consumo das famílias, do governo e os investimentos, todos, tiveram bom desempenho no trimestre, refletindo o conjunto de ações tomadas pelo governo, que somadas representaram cerca de 7% do PIB brasileiro ou quase meio trilhão de reais. O Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, o auxílio emergencial, o saque do FGTS foram ações fundamentais para mitigar os impactos negativos da crise e dar impulso à recuperação. 
No entanto, com a retomada mais lenta dos serviços, o desempenho da economia no terceiro trimestre foi insuficiente para recuperar as perdas do período anterior. Ou seja, o V ainda não se completou.
O formato da curva de recuperação do PIB tem alimentado bastante as discussões de analistas e pesquisadores. Na verdade, essa é uma discussão que trata dos grandes desafios que o país ainda terá para conseguir recuperar plenamente, ou, de como sustentar o crescimento e não perder fôlego no início do ano.
Com a redução do auxílio emergencial e a aceleração da inflação, o ritmo de retomada deve diminuir já no último trimestre do ano. Considerando essa perda de ritmo, as projeções de mercado sinalizam uma queda para o PIB no ano de cerca de 4,5%. 
De todo modo, a despeito do sinal negativo do PIB anual, o impulso dos dois últimos trimestres gera uma dinâmica positiva para o próximo ano, o que, de certa forma, garantiria um patamar mínimo de crescimento em 2021 superior a 2%. 
É importante destacar que as projeções para 2021 tem a seu favor o desempenho da construção ao longo de 2020.
O impacto inicial da paralisação e a redução de ritmo de obras irá se refletir na queda no PIB do setor. Por outro lado, a redução das taxas de juros representou um impulso aos negócios muito positivo. Na infraestrutura, a aprovação do marco regulatório do saneamento trouxe perspectivas de novos recursos para a área.
A mediana das projeções do mercado aponta uma alta de 3,5%, o que ainda deixaria o PIB quase 4% abaixo do patamar alcançado em 2014. Para a construção, a projeção do Sinduscon-SP/FGV é de alta de 3,8%, impulsionado pelo melhor desempenho do setor formal.
Enfim, isso significa o retorno definitivo do crescimento?
Na verdade, significa que a percepção dominante e refletida nas projeções é de que o pior da crise passou. 
No entanto, é preciso destacar que as incertezas ainda são muito elevadas. Primeiramente, ainda não é possível falar sobre a evolução da pandemia, que no Brasil irá depender da velocidade e abrangência da vacinação. O que, por sua vez, irá determinar o ritmo da retomada da economia, especialmente, do setor de Serviços, mais afetado pelo fechamento dos estabelecimentos.
A partir de janeiro, as famílias não contarão mais com o auxílio emergencial e a economia ainda estará em ritmo lento. É verdade que a taxa de poupança das famílias cresceu significativamente, mas esses recursos conseguirão alavancar o consumo até que o mercado de trabalho recupere? 
Há ainda outras preocupações como a questão fiscal. Ou seja, para além da crise na saúde, nossos problemas estruturais permanecem como a necessidade de uma reforma administrativa e de aumentar a produtividade do país. 
Todas essas preocupações explicam a queda recente na confiança de empresas e consumidores expressa nas últimas sondagens do ano.  Mas olhando para trás, para o V incompleto do PIB, não há como negar o sentimento de alívio que a retomada trouxe.

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