PROJETANDO COM O PRÉ-FABRICADO
O maior desafio em trabalhar em pré-fabricado é que a cultura desse sistema construtivo ainda é jovem no Brasil. Assim, o tempo todo, em cada projeto, temos que desbravar e ser pioneiros, atendendo clientes, construtoras e arquitetos, que muitas vezes não dominam toda a técnica da pré-fabricação e acabam misturando conceitos de estrutura convencional (moldado “in loco”) com a estrutura pré-fabricada. Essa mistura de conceitos gera obras com soluções únicas e precisam de toda a criatividade e soluções técnicas para atender aos desejos e necessidades de edificações que supram as demandas do mercado brasileiro.
Um dos projetos que mais me marcaram foi do shopping Via Brasil, localizado na Avenida Brasil, em Irajá, no Rio de Janeiro. Foi uma das pioneiras obras de grande porte do escritório, com uma metragem muito grande em pré-fabricado.
Para realizar a montagem desta obra, que era muito alta (chegou a ser a obra mais alta em pré-fabricado durante um período), foi definido o uso de guindastes ao invés de grua. Assim tínhamos que elaborar um plano de montagem muito bem definido, para que os pilares fossem emendados, atingido sua altura máxima, sem grande área em planta, permitindo o alcance da lança do guindaste.
Chamamos esse pequeno trecho de montagem de um núcleo rígido, realizado em pré-fabricado, e muito bem travado, que permitiu que a edificação de forma muito esbelta chegasse até a cobertura. A partir desse núcleo, o restante da obra foi montado de maneira a se escorar nesse núcleo rígido, mantendo a estabilidade da edificação durante a fase transitória.
Inclusive esse é um dos pontos mais importantes ao se projetar em pré-fabricado. Sempre existe uma fase transitória, onde a estrutura, durante sua montagem, pode apresentar esforços e condições de vínculos que são diferentes da situação final. Portanto, sempre é necessário e obrigatória a verificação de cada fase construtiva da obra, e não somente da situação final da estrutura pronta.
Tenho percebido, que ao longo dos anos, as construtoras estão mais acostumadas a tratar do sistema pré-fabricado. Essa opção tem sido utilizada com maior frequência pelos clientes, que já perceberam a necessidade de otimizar os prazos e ter controle melhor dos custos. Assim, está começando a se formar uma massa crítica de conhecimento difundida no mercado, que não fica somente no setor. Mais engenheiros de obras estão se familiarizando com a pré-fabricação.
Mas, acredito que ainda sejam necessários cursos de capacitação da engenharia de obra, que está muito mais acostumada com o sistema convencional moldado “in loco”. É muito comum, o engenheiro da obra querer “delegar” o sistema para a empresa de pré-fabricado, sem se aprofundar, não cuidando das interfaces, que levam a dificuldades não usuais no empreendimento.
A normalização do setor, através da ABNT NBR 9062, teve sua primeira norma em 1985. Durante muitos anos ela ficou em vigor, onde não foram introduzidas mudanças. A partir de 2004, já ocorreriam duas revisões, e o setor ficou vários anos discutindo sobre as normas e como o mercado técnico se comportava.
Acredito que hoje temos vários profissionais que estudaram a norma e participaram de muitas discussões. Assim, a sociedade hoje está muito mais técnica e dividindo conhecimentos do que a 30 anos atrás. A Norma deve entrar em mais uma revisão, onde pretendemos dar uma robustez técnica ainda maior, trazendo para o setor e para a norma ABNT NBR 9062 mais informações técnicas que hoje estão divididas em outras normas