CENÁRIO ECONÔMICO
Em 2021 o país colheu os benefícios do avanço da vacinação e da reabertura ampla das atividades. O mercado de trabalho passou a dar sinais mais sólidos de retomada. Assim, estimativas, ainda preliminares, apontam um crescimento do PIB brasileiro de 4,6%, o que garante a superação do patamar pré-Covid.
A análise sob essa perspectiva, no entanto, sugere um cenário mais promissor do que o efetivamente percebido pela maioria das empresas e consumidores do país neste final de ano. A questão é que apesar do crescimento na comparação com 2020, no segundo semestre de 2021, a economia perdeu parte do fôlego do período anterior e houve a deterioração de vários indicadores importantes.
A inflação medida pelo INPC já alcançou dois dígitos. O crescimento ainda está desigual e parte expressiva dos novos empregos estão ocorrendo no mercado informal. Assim, com o aumento da informalidade, em um cenário de maior disseminação da alta dos preços, a renda média do trabalhador está em queda. Para piorar, o crédito ficou mais caro com a elevação da Selic.
A deterioração de credibilidade fiscal acentuou o risco e a incerteza que tendem a aumentar com a proximidade do ano eleitoral. Vale lembrar que as incertezas são grandes inimigas do investimento.
A piora do cenário no segundo semestre já afeta de forma negativa as projeções de 2022, que nesse momento oscilam entre um PIB negativo ou levemente positivo. Na verdade, não importa o número em si, mas o fato que representa uma economia que não conseguiu sustentar o ritmo de crescimento observado até o primeiro trimestre de 2021.
Mas para não ser arauta apenas de más notícias, vale destacar que a cadeia da construção foi mais uma vez o destaque positivo do ano. Deve-se lembrar que o setor da construção foi o maior gerador de postos formais em 2020, posição que se manteve mesmo após a revisão recente dos números do Caged. Em 2021, o setor perdeu protagonismo, mas se manteve como um importante gerador líquido de empregos formais.
A produção da indústria de materiais encerrará o ano de 2021 com crescimento da ordem de 8%, desempenho alcançado a partir dos resultados favoráveis do comércio varejista de materiais e da expansão das atividades das construtoras/incorporadoras.
Se o PIB do país no terceiro trimestre do ano registrou ligeira queda na comparação com o trimestre anterior, a construção teve crescimento de 3,9%, na mesma comparação, contribuindo para a melhora da taxa de investimento do país. Dessa forma, a projeção de crescimento setorial, anteriormente prevista para alcançar 5%, deve chegar a 8%.
Sabe-se que o setor tem um efeito multiplicador importante sobre a atividade em geral, por ser bastante intensiva em mão de obra. Além disso, por seus ciclos longos, a dinâmica tende a se estender.
De fato, o expressivo crescimento do mercado imobiliário dos últimos dois anos, deve repercutir à frente. Na infraestrutura, os leilões de concessões realizados no ano - saneamento, rodovias e aeroportos -, devem começar a se traduzir em investimentos e obras a partir de 2022. Além disso, os planos de investimentos dos estados começam a ganhar destaque. Assim, esse ciclo em andamento, deve garantir, em alguma medida, nova expansão da atividade setorial, dessa vez impulsionado pela demanda das empresas.
Isso não significa que o cenário macroeconômico mais adverso não terá repercussão sobre o crescimento setorial. Investimentos adiados por conta de incertezas maiores e de taxas de juros mais altas reduzirão o ritmo de expansão dos próximos anos.
As sinalizações que serão dadas pelos candidatos no que diz respeito ao compromisso com reformas no próximo ano serão importantes balizadores do ciclo.
Por fim, pode-se dizer que o ano de 2022 será um ano de transição, com muitos desafios domésticos, mas também do além-mar, pois a conjuntura externa já não é tão favorável, com a provável alta de juros americana. Por outro lado, a alta dos custos industriais, que foi o grande vilão em 2021, deve registrar uma evolução mais próxima da inflação esperada de 2022.