Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 3 - dezembro de 2014

PONTO DE VISTA

Para Arquiteto, pré-moldado viabiliza projetos arquitetônicos

“Acho que o pré-moldado de concreto é uma solução para edifícios altos, principalmente com relação aos revestimentos”

Sócio de um dos mais tradicionais escritórios de arquitetura do País, o  Aflalo & Gasperini Arquitetos, que acaba de completar 50 anos de atividade, o arquiteto Luiz Felipe Aflalo Herman, paulistano de 59 anos, formado na turma de 1978 da Universidade Brás Cubas de Arquitetura, em Mogi das Cruzes, coordenou o grupo que desenvolveu o projeto arquitetônico do edifício sede da Odebrecht, recentemente inaugurado em São Paulo. Com uma área construída de 58 mil m2 e 18 pavimentos, a torre está localizada na Marginal Pinheiros e abriga as atividades de 16 empresas do grupo, num total de 2.500 profissionais.
A obra envolveu vários desafios, sendo o principal deles o curto prazo para sua conclusão. A solução encontrada pela equipe do escritório, em conjunto com os engenheiros da construtora, foi industrializar ao máximo os processos construtivos. “Para que pudéssemos concluir a obra no cronograma definido pelo cliente, uma parte dela, que começou depois em função do atraso na liberação do terreno, foi toda construída em concreto pré-moldado”, informa o arquiteto em entrevista à Industrializar em Concreto, acrescentando que uma parte da obra foi feita com concreto moldado in loco.
Entre as estruturas pré-fabricadas de concreto, foram utilizadas vigas protendidas e lajes alveolares, além de pilares e escadas. “A maior velocidade de construção foi a principal vantagem do uso do pré-moldado nessa obra”, relata o arquiteto. O pré-moldado foi empregado especificamente nos seis sobressolos que compõem o estacionamento do edifício. “O uso do pré-moldado viabilizou a execução da obra no prazo determinado pelo cliente”, acrescenta Aflalo. Na sequência, os demais pontos abordados por ele na entrevista. 
Como foi a opção pelo uso de pré-fabricado na obra da sede da Odebrecht em São Paulo?
A linguagem arquitetônica do prédio foi pensada a partir de uma premissa colocada pelo cliente de que o edifício não tivesse a aparência de uma caixa de vidro. Para tanto, foi definido que o concreto estivesse presente na fachada. Optamos pelo pré-moldado, entre outros fatores, para cumprir o cronograma da obra, que era apertado em razão do atraso na liberação de parte do terreno. Foi usado um concreto com agregado exposto, feito com aquele retardante que gruda na superfície externa da placa e, depois de lavado, resulta numa textura interessante. 
Qual a avaliação sobre o resultado do uso do pré-fabricado?
As placas na fachada atingiram os objetivos tanto do cliente quanto os nossos, em relação à estética. O pré-moldado ficou numa cor bastante interessante e casou muito bem com os outros materiais usados no projeto. Lá trabalhamos com dois tipos de vidros: um na pele que é uma cortina, mais claro, e o vidro que está na área das vigas de concreto, que é um pouco mais escuro e num tom mais quente, justamente para que ele ficasse parecido com o concreto, pois nossa preocupação era ter um prédio “mais esbelto”.
Quais foram os benefícios do uso do pré-fabricado?
A maior velocidade de construção foi a principal vantagem do uso do pré-moldado. Uma parte do edifício foi feita com estrutura moldada in loco. Para que a gente pudesse concluir toda a obra no cronograma determinado, a outra parte, que começou depois em função do atraso na liberação do terreno, foi toda construída em concreto pré-moldado. E deu tudo certo, pois quando a parte do prédio feita com estrutura moldada in loco estava sendo concluída, também ficou pronta a parte da estruturada em pré-moldado. Ou seja, o uso do pré-moldado viabilizou a execução da obra no prazo determinado.
Quais os detalhes do projeto?
Esse tipo de estrutura que nós utilizamos no projeto é quase como se fosse a estrutura de um galpão, formado pela colocação de viga, laje e pilar. E ela atendeu muito bem esse fim, que era, além da velocidade, o vão e a repetição. Nesse sentido, o empreendedor usou o máximo do potencial dessa estrutura. Também era uma estrutura que não tinha balanço e nem permitia balanços. As vigas sempre se encontravam no pilar. Elas não transpassavam por fora do pilar para permitir qualquer tipo de balanço. Por isso mesmo nós tivemos que trabalhar com uma estrutura mista, ou seja, toda a fachada veio pendurada nessa estrutura, o vidro, os revestimentos com o crystalato na parte inferior do prédio. Mas tudo isso teve de ser suportado por uma estrutura auxiliar em balanço, feito em estrutura metálica. Essa estrutura foi no máximo do potencial dela.
Qual sua visão sobre o uso do pré-moldado de concreto de forma geral? Costuma considerá-lo nos seus projetos?
Nós trabalhamos mais com edifícios de escritórios. Mas, pensando em prédios mais horizontais e dependendo das necessidades, principalmente em relação a custos, existem discussões nesse sentido. Os dois sistemas atendem muito bem as necessidades. Do ponto de vista plástico, não vejo nenhum problema. Com o pré-moldado você pode conseguir atingir diversos objetivos. Vejo isso com mais intensidade nos projetos fora do Brasil. Você olha os projetos, por exemplo, do Calatrava [arquiteto espanhol Santiago Calatrava] e nota que são projetos que possuem uma estrutura que envolve quase que uma espinha dorsal, com elementos muito repetitivos onde o pré-moldado se encaixa perfeitamente. E ele se utiliza toda essa plástica que o pré-moldado permite pela repetição. Isso se aplica quando você vai fazer uma obra com muitas peças repetidas e desenvolve formas orgânicas, que tenham curvas e que resultem num desenho muito elaborado. 
O que falta para o pré-moldado ganhar mais espaço no Brasil?
Eu vejo que, em relação às formas empregadas na confecção de pré-fabricado mais elaborado têm sido largamente importadas. Entendo, no entanto, que essas coisas andam juntas: na medida em que a indústria de pré-moldados conseguir dar saltos, no sentido de trazer tecnologias de formas mais elaboradas, penso que o pré-moldado poderá ser utilizado de uma maneira mais plástica e muito mais requintada. Acredito que passa pela viabilidade da execução das formas que possibilitem projetos mais leves, que resultem em projetos de maior beleza plástica. Agora em relação às placas pré-moldadas, acho que houve um avanço no que diz respeito a texturas. Evoluímos numa série de coisas que tem nos atendido bem. Temos, inclusive, vários edifícios que estão em fase de projeto agora nos quais nós estamos voltando a utilizar o concreto aparente, até em edifícios residenciais e de uso misto.
Percebe no Brasil a tendência de maior uso de pré-fabricado em edifícios altos, como tem ocorrido na Europa? 
Quando a gente imagina que esse material não necessita de nenhum revestimento, que é um material pronto, penso que sim, que as perspectivas são boas do uso de pré-moldado em edifícios altos. Acho que o pré-moldado de concreto, sem dúvida é uma solução, pois nós temos observado aqueles materiais que a gente trabalhava antigamente, pastilhas ou massas, envelhecem muito mal, tem muito problemas de fixação, e as argamassas descolam com facilidade. Realmente, nós temos um ponto delicado hoje nos edifícios com relação a revestimentos. Penso que, para uma maior utilização do pré-moldado nós temos de equacionar a questão do concreto ser um material que retém muito calor. Nesse sentido, temos de sempre pensar num driwall ou lã de rocha como revestimento interno para atenuar a inercia térmica, pois vivemos num país tropical. Temos de ter esses cuidados, mas sem dúvida, o pré-moldado garante uma velocidade para a obra e uma durabilidade diferenciada para as fachadas. 
Qual sua análise sobre o atual momento da arquitetura brasileira?
Sou otimista em função de que existe a formação de uma cultura de jovens profissionais hoje no país que estão buscando valores no sentido da expressão arquitetônica. Acho que essa conscientização é muito importante. É o consumidor quem, em última instância, define o que será produzido.  Se as pessoas compram Neoclássico, a coisa vai continuar sendo feita, mas na medida em que as pessoas falam não a esse tipo de construção, as coisas mudam. Com a disseminação instantânea de informação possibilitada pelos novos meios de comunicação, os consumidores passam a dizer que estão vendo coisas no mundo que são, segundo eles, tremendamente superiores. Com isso, ele passa a demandar e aí tudo muda. Nesse sentido, eu acredito nessa transformação. Gostaria de ver os governos promovendo concursos. Gostaria que eles estivessem mais conscientes da importância que eles têm como mecenas na produção arquitetônica. Mas isso não está ocorrendo. Sou otimista, no entanto, quando olho para o lado privado da sociedade, por incrível que pareça, pois o lado privado, muitas vezes, é criticado pelos arquitetos por não proporcionar a realização da boa arquitetura e tudo mais. No final, ele é o grande impulsionador de inovação na arquitetura. E hoje ele busca também, além dos objetivos econômicos, a valorização da arquitetura.

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