Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 8 - agosto de 2016

PONTO DE VISTA

Para presidente da ASBEA, maior industrialização da construção no Brasil é uma questão mais cultural do que econômica

"Quando se pensa no déficit habitacional, o uso de pré-fabricado vem ao encontro das necessidades de velocidade e confiabilidade das obras"


Qual sua análise sobre o atual momento da arquitetura brasileira? 
As transformações rápidas pelas quais tem passado o país nos anos recentes - desenvolvimento econômico, inserção de novas camadas sociais no mercado de consumo, protagonismo do Brasil no contexto internacional, sede dos dois principais eventos esportivos Copa do Mundo e Olímpiadas – criaram uma nova agenda para a arquitetura e o urbanismo. Os investimentos nas áreas de educação, saúde, esportes e infraestrutura, que esperamos que aumentem nos anos próximos, já começam a dar seus primeiros frutos, com a ampliação dos sistemas metroviário, ferroviário e aeroportuário, modernização na infraestrutura de transporte público urbano, renovação e construção de estádios, ampliação das redes de escolas, hospitais e equipamentos culturais.
Infelizmente ainda temos um grande caminho a percorrer. Não podemos esquecer das licitações públicas de projetos (básicos!) por menor preço. Também o sistema de RDC e a Contratação integrada (de projeto e obra), que não exige a existência de um projeto para contratação da construção. Hoje sabemos o resultado que este tipo de solução vem apresentando à sociedade brasileira e aos usuários dos equipamentos públicos, obras que desabam, as não finalizadas e várias citadas na Operação Lava Jato. Acredito que enquanto o projeto completo for dispensado nas contratações públicas, não haverá transparência nem possibilidades de termos obras seguras, dentro do valor justo e sustentável.  

Qual o papel do BIM nos projetos arquitetônicos?
O Building Information Modeling é um processo de trabalho que veio para ficar. Ele abrange todo o ciclo de vida de um edifício, podendo ser aplicado desde os estudos de viabilidade até a demolição. Ainda há algumas barreiras a se vencer no Brasil para sua total aplicação, e uma delas é a transparência que este sistema dá como resultados do processo de trabalho. Na fase da arquitetura, muitos escritórios já iniciam sua preparação de trabalho neste novo processo. Deixar claro que o BIM não é um software é importante. Como trata-se de um processo, o mesmo deve ser assumido pela empresa de projeto, desde seu treinamento, mudanças de hábito, a revitalização do parque informático, treinamento em diversos softwares, mudança nos parâmetros de contratos de projetos e outros. Como a fase de projeto é a primeira a ser desenvolvida no ciclo de uma edificação, é de se entender porque o BIM vem se desenvolvendo mais nesta fase. A tarefa agora é difundir este processo, passar aos sistemas públicos de contratação, desenvolver os próximos passos de 4D e 5D para que os frutos a serem colhidos sejam cada vez maiores e mais abrangentes durante os anos de vida de uma edificação. O BIM vem ao encontro das necessidades prementes de atendimento dos projetos arquitetônicos: padronização, novos sistemas construtivos, norma de desempenho, sustentabilidade. Ele não é um software mas trabalha com ferramentas que apoiam as decisões de projeto em relação a estes temas.

 
Uma tendência arquitetônica internacional compatibiliza vários sistemas construtivos industrializados. Como correlaciona esse nível de desenvolvimento com a arquitetura brasileira?
A busca de soluções arquitetônicas para um determinado problema ou situação, necessariamente deve estar vinculada a abertura de ideias e proposições. A tolerância deve ser sempre praticada para que se encontre a melhor solução. Sistemas fechados ou engessados nem sempre encontrarão a melhor solução. Exemplo disso são os sistemas industrializados que estão se mimetizando nas cidades brasileiras, sendo utilizados em conjunto com sistemas moldados in loco e que não se consegue mais distinguir se são ou não industrializados. A busca de sistemas eficientes que tenham como meta a edificação sustentável, respeito ao meio ambiente durante seu ciclo de vida, vai passar pela busca da compatibilização de sistemas industrializados. Sairá ganhando edificações com menor consumo de água, energia, transporte e montagem da obra. Nesse contexto inclui a execução de um projeto completo, que é prioritário para que se atinja altos níveis de performance da edificação com seus sistemas industrializados. 

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