CENÁRIO ECONÔMICO
Ao longo de 2014, assistiu-se a uma progressiva deterioração de diversos indicadores da economia. Junto caminhou a confiança das famílias e dos empresários, que chega ao final do ano abaixo de sua média histórica.
O balanço de 2014 mostra as razões do pessimismo: a inflação em 12 meses, depois de ultrapassar o teto da meta estabelecida pelo próprio governo, retrocede, mas fica no limite superior. Na área fiscal, já se reconhece que a meta que não será cumprida. E o PIB depois de dois trimestres de queda, configurando uma recessão técnica, deve registrar um resultado consolidado que será apenas levemente positivo. As boas notícias ainda vêm do mercado de trabalho, com taxas de desemprego bastante baixas. Mas o enfraquecimento da atividade já começa a se refletir também na redução do ritmo de contratação.
Na construção, o momento vivido pelo setor também é de forte desaceleração do crescimento. A taxa medida pelo IBGE a partir da produção de materiais de construção deverá registrar em 2014 queda superior a 5%. O emprego com carteira mostra um cenário menos dramático para as empresas. Mas elas empresas chegaram ao final do ano com menos atividades, indicando que o ajuste do mercado imobiliário ainda não chegou ao fim e os investimentos em infraestrutura não fizeram a diferença.
Nesse cenário como falar de 2015? Embora seja tarefa dos economistas traçar cenários e fazer projeções, há momentos em que ela se torna especialmente difícil.
Indiscutivelmente, um dos maiores desafios do próximo ano será recuperar a confiança de empresários e consumidores. Isso é fundamental, porque importantes decisões são tomadas a partir desse sentimento subjetivo, mas que depende de sinalizações efetivas para ser revertido.
De todo modo, em qualquer cenário, os números de 2015 não deverão ser robustos, ou seja, os indicadores não serão expressivamente melhores que os de 2014, na média do ano. Mas sua dinâmica pode fazer a diferença, ou seja, o legado de 2014 não é dos mais positivos, mas o de 2015 pode ser expressivamente melhor, na medida em que os indicadores de atividade comecem a ganhar força ao longo do ano.
Mas para isso, há os desafios a serem enfrentados. Medidas no plano macroeconômico mostram-se fundamentais, especialmente no que diz respeito à recuperação de uma política fiscal equilibrada e transparente e no retorno da inflação para níveis mais próximos do centro da meta estabelecida pelo governo.
Mas além do ajuste macroeconômico torna-se imperativo uma agenda positiva para o País. E ela passa pelo setor da construção.
Como se sabe, a taxa de investimento do País está aquém de nossas necessidades de crescimento. E na infraestrutura, a taxa de 2,5% prevista para 2014 sequer atinge o percentual que dá conta da depreciação natural do capital existente. Em uma perspectiva de crescimento sustentado, será necessário, no mínimo, dobrar a taxa de investimento em infraestrutura.
O que se precisa, acima de tudo, é transformar o investimento em infraestrutura em um programa de Estado, que sinalize sua priorização em todas as esferas governamentais.
Assim, falar que a taxa de crescimento da economia será baixa e o setor pode não crescer no ano que vem é menos importante do que a perspectiva de que a partir do segundo semestre pode se voltar a ter uma dinâmica positiva para o País. Enfim, 2015 pode ser apenas mais um ano difícil para todos ou um período de transição para um novo ciclo de crescimento. Vamos apostar no reinício!
Feliz 2015!
Ana maria castelo
Coordenadora de projetos do IBRE/FGV