Cenário Econômico
Copa do Mundo, eleições, concessões, enfim muitos acontecimentos importantes vão ocorrer em 2014, o que deveria tornar bastante promissor o ano para a economia e para o setor da construção, em especial.
No entanto, desde o final de 2012 o empresário não tem mostrado muito otimismo com as perspectivas setoriais, e, nos dois últimos meses – março e abril – houve uma piora acentuada na percepção das empresas da construção em relação ao desempenho dos seus negócios e às perspectivas para os próximos meses.
Em parte, esse cenário está ligado ao aumento das incertezas relacionadas aos fundamentos da economia: a aceleração da inflação, a maior vulnerabilidade externa e o crescimento mais fraco da atividade complicaram o cenário de curto prazo. A necessidade de adoção de medidas de ajuste, especialmente para conter a inflação dentro dos limites da meta, aponta para algum tempo ainda pela frente com crescimento fraco. Essas incertezas têm afetado as decisões de investimento. A necessidade do governo de atender à meta fiscal proposta, por exemplo, pode afetar negativamente o início de novas obras, ou comprometer as que estão em andamento. O Programa Minha Casa Minha Vida começa a chegar a sua fase final de contratação sem que novas metas sejam apresentadas. E o mercado imobiliário voltado às classes de renda mais elevadas ainda está se ajustando a uma velocidade de vendas menor.
Os indicadores de atividade começaram a refletir essa deterioração. Depois de um início de ano promissor, com aumento expressivo das contratações, as construtoras demitiram fortemente em março e o trimestre fechou com um menor número de contratados em relação ao mesmo período de 2013 – queda de 10%.
No entanto, não se pode perder de vista o fato que as perspectivas de médio prazo para o setor continuam extremamente favoráveis. Vale lembrar que as famílias aumentam em um ritmo muito superior ao da população, gerando uma necessidade de novas moradias acima de um milhão a cada ano. Assim, o Pais possui hoje o desafio de atender à demanda por moradias das novas famílias que se formam, além de resgatar o passivo habitacional, o que representa um horizonte de demanda bastante positivo para o setor nos próximos anos.
No final do ano passado, as concessões realizadas pelo governo trouxeram também uma perspectiva positiva de retomada do investimento em infraestrutura. E novas concessões estão programadas. São investimentos que têm o poder de recolocar o País na rota do crescimento. A repercussão na atividade só se dará mais a frente, possivelmente além de 2014, mas os efeitos sobre a competitividade serão permanentes.
Enfim, já se tinha certo que 2014 não seria um ano de taxas robustas – nem para a economia, nem para o setor. As turbulências de curto prazo estão deprimindo mais as projeções realizadas no início do ano. Ultrapassar esse período vai exigir do governante definições claras e transparentes de prioridades.
Para as empresas, o desafio será não deixar que o cenário de desalento com o curto prazo contamine os planos de negócios.
Ana maria castelo
Coordenadora de projetos do IBRE/FGV