CENÁRIO ECONÔMICO

Ana Maria Castelo Coordenadora de projetos do IBRE/FGV

Podemos começar a coluna de balanço do ano com um “erramos”! Sim, a grande maioria dos analistas foi surpreendida por um PIB acima do projetado. 

Em dezembro de 2022, a mediana das expectativas captada pelo Boletim Focus do Banco Central indicava um crescimento de 0,79% e uma inflação de 5,19% em 2023.  Com os números do terceiro trimestres já fechados e algumas sinalizações referentes aos últimos meses, a projeção mais provável para o PIB é de crescimento próximo de 3%. Por sua vez, a inflação (IPCA) fechará com uma taxa de 4,8%, ou seja, abaixo do limite superior da banda estabelecida como meta do Bacen. Assim, ante esse cenário mais benigno e com as expectativas mais ajustadas, o Bacen iniciou o ciclo de queda da taxa Selic, que chega ao final de 2023 a 11,75% a.a.

Mas a despeito desses bons números, o efeito das altas taxas de juros por todo o ano começaram a se fazer sentir nessa reta final: o investimento caiu.

Para a Cadeia da Construção, os destaques não foram tão positivos. Especialmente no que diz respeito às vendas do comércio varejista, o resultado registrado em 2023 foi novamente de contração (-2,8%), comprometendo também o desempenho da produção industrial, que teve queda de 2,3%. 

O que deu errado para a indústria e comércio?

A despeito da queda nos preços de vários insumos da construção, os custos de construir e reformar ainda estão muito acima do nível pré-pandemia: para um IPCA que acumula alta de 26% no período entre dezembro de 2019 e outubro de 2023, o componente Materiais e Equipamentos do INCC-M aponta alta de 56%.  Além disso, o custo do crédito  e o endividamento direcionaram o consumidor para outras despesas.

Vale destacar que esse desempenho negativo foi mitigado pela atividade das construtoras. O cenário adverso atingiu o ciclo de negócios do mercado imobiliário que viu as vendas encolherem em 2023, mas a atividade ainda refletiu o boom anterior. As obras de infraestrutura confirmaram as expectativas mais positivas para o ano. Assim, o mercado de trabalho do setor chegou ao final do ano aquecido, fazendo com que a falta de mão de obra qualificada se destaque entre as principais limitações das construtoras.

O destaque da infraestrutura, um dos destinos das vendas das empresas de pré-fabricados de concreto, sinaliza que para o setor, o ano de 2023 deve ter sido de crescimento. A supersafra com seus efeitos diretos e indiretos também contribuiu para o resultado do ano.

As atenções agora se voltam para 2024. Novamente os desafios continuam significativos: a geopolítica mundial continua a representar fonte de tensão. No entanto, os efeitos sobre os mercados têm se mostrado razoavelmente controlados. Se por um lado, a economia global vai desacelerar, por outro, o encerramento do ciclo de alta das taxas de juros americanas traz melhores perspectivas para as economias em desenvolvimento.

O país não contará mais com a supersafra de 2023, mas a continuidade da redução da Selic é um ponto bastante positivo para o investimento.

De todo modo, novamente as projeções da maioria dos analistas aponta desaceleração do crescimento nesse final do ano com repercussão nos números de 2024. Mas há muitas questões que ainda não estão sendo bem dimensionadas, como o efeito do Desenrola Brasil sobre o consumo.

Para a construção as projeções positivas se alicerçam nos programas reeditados em 2023 - PAC e MCMV – e no crescimento dos investimentos privados já contratados. Não será um ano de resultado robusto. O cenário mais provável que se desenha hoje é de uma elevação de 2,9% para o PIB da construção, seguido por um crescimento de 2% da indústria de materiais e de 1,5% do comércio varejista. 

De todo modo, a agenda de Sustentabilidade e de Modernização continuará avançando com a aprovação definitiva da RT.