CENÁRIO ECONÔMICO
No último artigo para a Revista Industrializar em Concreto, a partir dos resultados do PIB de 2016, tentamos fazer um exercício sobre as perspectivas do setor da construção. As pesquisas da FGV vinham mostrando melhora (ou “despiora”) do índice de confiança tanto das empresas como dos consumidores. Na construção, a confiança crescia alimentada especialmente pelas expectativas de retomada da demanda do mercado imobiliário e das obras e infraestrutura. Mas alertamos para a fragilidade do cenário.
Infelizmente essa fragilidade começou a se mostrar mais cedo do que o imaginado. Desde a divulgação dos resultados do PIB de 2016, o cenário político voltou a se complicar significativamente. O IBGE divulgou os números do primeiro trimestre de 2017, mas que também já passaram a representar um retrato do passado e que diz pouco sobre os próximos meses.
A incerteza certamente é uma das maiores inimigas do investimento. Assim a questão primordial hoje é: as decisões tomadas anteriormente serão mantidas?
A Sondagem da Indústria de Transformação da FGV mostrou que a confiança que vinha crescendo, em junho retrocedeu para o patamar de fevereiro de 2016. Na construção, houve forte queda da confiança em maio e pequena melhora em junho, que não compensou o resultado anterior.
O resultado de junho revelou uma dinâmica diferenciada entre os segmentos da construção. Em Edificações, as expectativas voltaram a subir, enquanto no segmento de Obras de Infraestrutura, houve piora adicional neste último mês. Vale lembrar que a área imobiliária é menos dependente de iniciativas diretas do governo e a redução das taxa de juros e algumas medidas de estímulo trouxeram novo ânimo aos empresários. No entanto, com renda e emprego em queda é difícil esperar recuperação da demanda. E o Programa Minha Casa Minha Vida pode ser novamente afetado pela conjuntura fiscal e política.
Por sua vez, em infraestrutura, as dificuldades políticas podem comprometer severamente o cronograma dos leilões.
Enfim, qualquer projeção de curto e médio prazo torna-se muito mais difícil, uma vez que as premissas que embasam os modelos mudam a cada momento. Mas algumas coisas podem ser ditas com maior certeza. I) Está-se jogando a recuperação mais para frente; e II) o adiamento dos investimentos em infraestrutura irá afetar a competitividade e possibilidade de crescimento do país como um todo.
Os números do primeiro trimestre mostraram que a taxa de investimento como proporção do PIB caiu para 15,6%, o pior resultado da série histórica iniciada em 1995. A construção representa um pouco mais da metade dessa taxa. Não por acaso, o último relatório de competividade global do Banco Mundial mostrou que o Brasil ficou na 81ª posição em um conjunto de 138 países. Um dos pilares do índice é a infraestrutura, na qual o país atingiu a 116ª posição no quesito Qualidade Geral.
Ana maria castelo
Coordenadora de projetos do IBRE/FGV