PONTO DE VISTA
Fernando Forte (primeiro à direita), ao lado dos sócios Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz
Há 18 anos, os arquitetos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz decidiram, ainda na faculdade, criar um escritório de projetos autorais, que fosse, ao mesmo tempo, profissional. Então nasceu o FGMF, cujo objetivo é realizar uma arquitetura contemporânea, investigativa e inovadora, com atuação em todas as escalas e programas, do detalhe do mobiliário ao edifício multiuso e ao plano urbanístico. São mais de 400 projetos em seu portfólio e mais de 140 distinções, incluindo o Wan 21 for 21, que os colocou na lista dos “21 escritórios de arquitetura do século 21”.
O FGMF recebeu, ainda, no ano passado, a Menção Honrosa do Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados de Concreto pelo projeto Casa das Pérgolas Deslizantes. Em entrevista à Industrializar em Concreto, Fernando Forte destaca os benefícios da construção industrializada de concreto e mostra o papel da solução de engenharia em projetos de arquitetura desenvolvidos pelo escritório. “Gosto muito do uso de pré-moldados. Já o utilizamos diversas vezes e sempre se mostrou muito prático, rápido e preciso”.
Na sequência, confira os principais pontos abordados por ele:
Qual sua visão sobre o uso do pré-moldado de concreto em obras?
Gosto muito do uso de pré-moldados, pois podem acelerar bastante a etapa da estrutura nas obras e geralmente esse sistema possibilita mais intervenções pontuais do que se imagina. Já o utilizamos diversas vezes e sempre se mostrou muito prático, rápido e preciso, além de também possibilitar o uso de outros sistemas estruturais de forma híbrida ou mista.
Em quais tipos de projetos se recomenda o uso do sistema?
Acredito que qualquer tipo de uso aceita o sistema, depende mais das exigências do projeto e do arquiteto. Sugiro sempre analisar as dimensões do projeto versus o número de peças por conta do custo de partida e também o tipo e formato do terreno por conta das necessidades de içamento das peças e logística de canteiro.
Em sua opinião, quais são os principais benefícios da aplicação da solução de engenharia?
Os benefícios são diversos, mas citaria sobretudo o controle absoluto do número de peças, o controle preciso do orçamento, a maior sustentabilidade comparado à modalidade in-loco, a rapidez na montagem estrutural (ou dos componentes de vedação se for o caso), a precisão de projeto, a rapidez no cronograma da obra por possibilitar a abertura de diversas frentes de trabalho após a montagem estrutural e a possibilidade de ser mesclado com outros sistemas estruturais, se for desejado.
Quais aspectos dificultam o uso do pré-fabricado de concreto?
As dimensões robustas das peças, a familiaridade de arquitetos com o sistema e, sobretudo, com suas inúmeras variações, a necessidade de guindaste ou similar (em determinadas situações se torna um pouco complexo), a dificuldade com alguns tipos de ligações e a necessidade de cálculo estrutural com conhecimento do sistema.
Poderia citar alguns projetos que foram feitos com o sistema? E por que houve a opção pela construção industrializada de concreto?
Gostaria de citar três casos em que utilizamos o sistema:
A Casa das Pérgolas Deslizantes é uma casa pequena, um projeto residencial que utilizou painéis pré-moldados com função estrutural e de vedação. Optamos pelo sistema para investigar o uso de um produto que normalmente é feito em fábricas ou Centros de Distribuição e Logística (CDLs) e também para verificar o acabamento final em concreto aparente e a velocidade de montagem de obra.
O edifício Corujas é um edifício de escritórios de alto padrão em que utilizamos o sistema de forma híbrida com sistema metálico. Foi sugerido pela construtora com o objetivo de acelerar o processo da construção, o que por conta do formato e local do terreno não aconteceu. Porém, foi um exercício muito interessante e pudemos verificar a aceitação do público final pelo sistema que ficou aparente.
A Escola FDE é uma escola pública em que o sistema pré-moldado era de uso obrigatório. Foi nossa primeira obra utilizando esse sistema e uma excelente experiência. Desenhamos vigas sob medida para o suporte de elementos vazados e conseguimos aproveitar de forma muito interessante o que era uma imposição do Estado na época.
O que falta para o pré-moldado ganhar mais espaço no Brasil?
Em primeiro lugar, aproximar mais as soluções em pré-moldado dos arquitetos e dos projetistas de estrutura. Atualmente, salvo algumas exceções, sentimos que o sistema fica restrito a grandes obras como shoppings, CDLs e outros. O uso do sistema em construções de porte ou em projetos com diferentes usos não só o aproximaria mais do dia a dia das pessoas, como ajudaria a vencer questões culturais de resistência ao sistema.
Há uma tendência maior do uso de pré-fabricado de concreto em obras cuja arquitetura destaca-se por um estilo inovador?
Não acredito muito nessa afirmação. Eu diria que infelizmente é mais raro o uso de pré-moldados em obras de destaque em arquitetura no Brasil, sobretudo nos casos residenciais. No entanto, acredito que, quando o arquiteto se debruça sobre o sistema e o propõe utilizando suas vantagens e aparência, alcança uma estética singular, que pode se destacar muito.
O FGMF recebeu ano passado a Menção Honrosa do prêmio Obra do Ano pelo projeto da Casa das Pérgolas Deslizantes. Qual a importância de receber o prêmio?
Ficamos muito felizes com a premiação, sobretudo por se tratar desse projeto muito querido por nós e que deu bastante trabalho em sua elaboração. A opção pelo pré-moldado foi iniciativa nossa e o cliente foi muito compreensivo em topar o desafio. Receber uma homenagem por este trabalho é coroar um resultado que gostamos muito, fruto de um grande esforço.