ABCIC EM AÇÃO
Praticamente concluído, texto está em fase de releitura pela Comissão de Estudos de Lajes Alveolares e Painéis Pré-fabricados de Concreto, da ABNT. Expectativa é que o conteúdo final entre em consulta nacional ainda este ano
Sistema de painéis autoportantes utilizado no Condomínio Piemonte, em Belo Horizonte (MG)
Na última década, a normalização no segmento de pré-moldados de concreto avançou significativamente. Foram publicadas a revisão da ABNT NBR 9062:2006 – Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado, que hoje já se encontra em revisão pela comissão de estudos e será objeto de uma próxima matéria da Industrializar em Concreto, e as inéditas ABNT NBR 14861:2011 – Lajes Alveolares Protendidas de Concreto Pré-Moldadas e ABNT NBR 16258:2014 – Estacas Pré-Fabricadas. O setor ainda participou ativamente das revisões da ABNT NBR 15823:2010 - Concreto Autoadensável, da ABNT NBR 15873:2010 - Coordenação Modular para Edificações, da ABNT NBR 15146 - QUalificação de Pessoal para Controle Tecnológico de conreto - Parte 3, específica para pré-moldado, da ABNT NBR 15200:2012 – Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio e da ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto, da ABNT NBR 12655 - Concreto de Cimento Portland- Preparo, Controle, Aceitação e Recebimento, ora em consulta nacional, discutindo os aspectos de interface dessas normas com aquelas específicas do setor de pré-moldados.
Essa evolução vem ao encontro do desenvolvimento tecnológico promovido pela indústria e sua cadeia de fornecedores e, também, do maior uso de pré-moldado na construção civil brasileira. “As Normas Técnicas são um poderoso instrumento de popularização do conhecimento e da melhor solução para o uso de produtos, considerando que tanto podem estabelecer requisitos de qualidade que levem a uma regulação do mercado com base técnica, como definir procedimentos de execução e controle que abrangem desde simples procedimentos de amostragem dos produtos para ensaios de laboratório, como complexos processos construtivos”, afirma Inês Battagin, superintendente do ABNT-CB-18 – Comitê Brasileiro do Cimento, Concreto e Agregados da Associação Brasileira de Normas Técnicas.
O próximo passo para o setor é a publicação da norma de painéis pré-fabricados de concreto (estrutural e vedação), que está em elaboração. De acordo com Augusto Guimarães Pedreira de Freitas, vice-presidente de relacionamento da Abece – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural e coordenadorda Comissão de EStudo responsável pelo desenvolvimento da norma, o texto está praticamente concluído, em fase de releitura pela CE 18:600.19 – Comissão de Estudo de Lajes Alveolares e Painéis Pré-fabricados de Concreto. A expectativa é que essa revisão seja concluída em outubro e o texto final entre em consulta nacional ainda este ano. Com isso, a norma entraria em vigor no primeiro semestre de 2015.
Para Inês Battagin, do ABNT/CB-18, a Norma de Painéis, assim como todos os trabalhos de normalização técnica, propiciam melhorias nos processos de fabricação e controle dos produtos, bem como sistematização e controle de processos, privilegiando a qualidade e facilitando o entendimento entre os intervenientes. “Em decorrência da diversidade de tipologias existentes no mercado, de sua crescente utilização no Brasil, da função da qualidade final obtida e da significativa redução de prazos que possibilita, é certo afirmar que a norma será um instrumento de trabalho muito útil à sociedade, facilitando o desenvolvimento de projetos, a capacitação de fornecedores, o controle e recebimento dos produtos e a manutenção dos sistemas”, acrescenta.
Inês: Normas Técnicas são um poderoso instrumento de popularização do conhecimento
Além desses benefícios, Pedreira de Freitas, da ABECE, pondera ainda que a sua entrada em vigor no próximo ano pode contribuir para uma popularização maior do uso de painéis pré-fabricados, seja de vedação, seja estruturais. “Isso permitirá uma evolução contínua que certamente se refletirá em melhores obras, em maior desenvolvimento tecnológico dentro da construção civil. Hoje, diferentemente de décadas atrás, temos o problema de falta de mão de obra. E, para resolver esta deficiência, precisamos de mais tecnologia e da utilização de mais sistemas pré-fabricados”.
Outro ponto assinalado por Freitas é a colaboração da norma para que a industrialização ganhe ainda mais espaço no setor da habitação e que os profissionais possam contar com informações e um instrumento útil para o desenvolvimento de projetos. O setor de pré-fabricados enfrenta uma série de desafios, como por exemplo, a tributação excessiva que prejudica a competitividade. Já os painéis pré-fabricados, mesmo sendo utilizados desde a década de 40 em diversos países, são considerados inovadores, o que implica em investimento para quem deseja utilizá-lo. “Tudo isso faz com que o Brasil tenha pouquíssima utilização de sistemas pré-fabricados para o setor habitacional, que resulta também em poucos profissionais com conhecimento técnico para o desenvolvimento de projetos neste sistema”, analisa.
1985 - Entrada em vigor da norma brasileira de Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-moldado (ABNT NBR 9062)
2003 - Entrada em vigor da norma brasileira de Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento (ABNT NBR 6118)
2004 - Entrada em vigor da norma brasileira de Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio – Procedimento (ABNT NBR 15200)
2006 - Última revisão da ABNT NBR 9062
2011 - Entrada em vigor da norma brasileira de Lajes Alveolares Protendidas de Concreto Pré-Moldadas (ABNT NBR 14861)
2013 - Entrada em vigor da norma brasileira de Desempenho para Edificações Habitacionais (ABNT NBR 15575)
2014 - Entrada em vigor da norma brasileira de Estacas Pré-fabricadas de Concreto (ABNT NBR 16258)
Íria Doniak, presidente-executiva da Abcic, entidade que tem representado o setor em diversos fóruns, inclusive do próprio Comitê Técnico do SINAT (Sistema Nacional de Aprovações Técnicas), no qual a Abcic possui assento, comenta que, se por um lado aprovar o sistema especialmente no momento inicial do programa foi uma árdua tarefa, por outro lado cumpriu com dois importantes papéis. O primeiro foi restringir a aprovação de produtos por empresas não habilitadas, sem expertise na fabricação e sem o desempenho adequado. O segundo papel foi garantir que os sistemas já aprovados estejam alinhados com os requisitos aplicáveis da ABNT NBR 15575:2013, que estabelece o desempenho mínimo ao longo de uma vida útil para os elementos principais das edificações habitacionais. “No início tínhamos dois caminhos, resistir ou contribuir com o processo. Nossos associados decidiram, através do Comitê Habitacional da Abcic, submeter os sistemas à aprovação. Desta forma, hoje temos em nosso setor um grande case de sucesso já com sua DATEC (Documento de Avaliação Técnica) emitida e estamos com o próximo em fase de aprovação final. Essas empresas comprovam não só o desempenho estrutural de suas tipologias, mas também os desempenhos térmico, acústico, de estanqueidade entre outros aspectos. Ou seja, ao entrar em vigor a norma de Desempenho, já era possível demonstrar a capacidade dos painéis pré-fabricados de atenderem também a estes requisitos, quando produzidos em conformidade com as normas técnicas. Tarefa que, com a entrada da norma, terá de ser realizada também pelos sistemas convencionais. Aprendemos muito ao longo do tempo e hoje podemos, inclusive, contribuir com a própria estrutura das normas de painéis decorrentes deste aprendizado. O Sistema SINAT bem como outros ligados ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat PBQP-h, vem contribuindo significativamente com a construção civil no Brasil. Como todo o processo de qualidade enseja a melhoria contínua, carecem de aperfeiçoamento. Integrar esse processo é a melhor forma de um setor agregar valor ao sistema que representa e também à sociedade", finalizou Íria.
Desafios
Para chegar ao nível atual de desenvolvimento da norma de painéis, a Comissão de Estudo de Lajes Alveolares e Painéis Pré-fabricados de Concreto realizou uma série de reuniões com profissionais da indústria, da academia e de associações a fim de vencer os desafios para a redação de uma normativa sem nenhum texto base. “Elaborar uma norma a partir do zero é uma tarefa bastante árdua”, lembra Freitas. Os trabalhos foram iniciados em setembro de 2012, quando a Comissão foi reativada após a conclusão da norma de Lajes Alveolares.
A primeira etapa envolveu um amplo trabalho de pesquisa em diversas publicações nacionais e internacionais, buscando, também, referências de normas estrangeiras. A Comissão abriu espaço, também, para apresentações das experiências realizadas com sucesso no Brasil, que serviram de base para diversas propostas de texto. Com isso, foi gerado um volume muito extenso de material que precisaram ser discutidos e aprovados.
Segundo o coordenador da Comissão de Estudo responsável pelo desenvolvimento da norma, uma das vantagens foi contar com profissionais renomados e experientes que participaram de toda a discussão. Nesse sentido, o trabalho acadêmico da equipe da Universidade Federal de São Carlos contribuiu sobremaneira com formulações e experiências em ligações bem como os projetistas que participaram ativamente no debate e aprovação dos textos de dimensionamento. Além disso, os fabricantes também enviaram seus representantes para contribuir nos capítulos de produção e montagem.