PONTO DE VISTA
O engenheiro civil José Carlos Martins é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), desde julho de 2014. Durante esse período, tem liderado diversas ações para fomentar o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do setor da construção civil no Brasil. Sua destacada atuação tem contribuído também para a disseminação dos benefícios da industrialização no segmento.
Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Martins foi presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR) de 1998 a 2001, e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR), de 2001 a 2004. Também atuou como presidente do Comitê Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação (CTECH) do Ministério das Cidades, entre 2010 e 2012.
Em entrevista exclusiva para a Industrializar em Concreto, Martins trouxe sua avaliação sobre o mercado imobiliário e de infraestrutura na pandemia e no pós-pandemia. Para ele, “a industrialização é essencial, inclusive deveríamos aproveitar a reforma tributária para que esse conceito fosse modernizado, para estimular a industrialização”. A seguir, confira os principais pontos trazidos pelo presidente da CBIC.
Como vê o cenário da construção civil no pós-pandemia considerando as possibilidades para o mercado imobiliário e de infraestrutura?
Entendemos que o momento da pandemia foi também um momento de reflexão, as pessoas passaram a dar mais valor à sua moradia e às suas necessidades pessoais. Reduziram os gastos por impulso e investiram. Essa nova forma de viver, reduzindo trajetos e valorizando sua residência, certamente irá incrementar o setor da construção.
O setor da construção ganhou destaque durante a pandemia pela rápida adoção de práticas de segurança e proteção sanitária de seus trabalhadores. Como o Sr. avalia essa questão e como foi o comportamento do segmento no período?
Foi uma grande vitória setorial. Nós rapidamente instrumentalizamos nossos associados, que discutiram em termos locais a necessidade de manutenção dos empregos, logicamente atendendo a todas as recomendações e protocolos sanitários. Saímos da discussão ideológica para a discussão de saúde pública.
Qual sua análise sobre os impactos da reforma tributária no setor da construção civil? Nesse sentido, qual sua visão sobre o fato dos sistemas construtivos industrializados, como as estruturas pré-fabricadas de concreto, terem a carga tributária maior do que os sistemas convencionais?
Precisamos efetivamente fazer uma reforma tributária, não apenas uma reforma de imposto sobre consumo. Já temos como base de tributação consumo, propriedade, renda, trabalho e agora uma nova base, que é a das transações digitais. Entendemos que se não for discutido o conjunto, teremos setores que ganharão e outros que perderão. Não será dessa forma que conseguiremos desburocratizar a nosso emaranhado de legislações tributárias.
Qual sua visão sobre a industrialização da construção? Qual a relação da industrialização com o desenvolvimento da Habitação 2030 no contexto da CBIC?
Industrialização é essencial, inclusive deveríamos aproveitar a reforma tributária para que esse conceito fosse modernizado, para estimular a industrialização. Não como é hoje, onde a competitividade é perdida pela tributação não inteligente. Não teremos outra saída para ganhar escala e produtividade que não seja via industrialização, onde cada vez mais as construtoras são montadoras.
Em sua opinião, qual é o impacto do desenvolvimento tecnológico dos sistemas construtivos para o crescimento do setor da construção?
Quando analisamos tudo que há para ser feito e o quanto necessitamos de recursos naturais, de prazos, etc., entenderemos que: ou investe-se em tecnologia ou perderemos grandes oportunidades de crescermos. As políticas públicas precisam estar alinhadas com esse princípio. Faz anos que a CBIC discute que o setor público deveria ter um núcleo estratégico que desse diretriz às construções dos vários ministérios. Um exemplo é o combate à informalidade. Como queremos ser construção 4.0 se 62% dos ocupados na construção civil não recolhem previdência? São informais?
No caso do BIM, a CBIC tem trazido importantes discussões sobre a aplicação dessa ferramenta. Como sua aplicação tem contribuído para o desenvolvimento do setor?
Ele é a grande plataforma, é o nosso Windows, nosso iOS. Sobre ele que precisamos desenvolver nosso futuro. O maior problema que temos chama-se gestão, todo resto é consequência.
A CBIC tem realizado diversos eventos de conteúdo online para tratar de importantes temas do setor da construção. Um deles foi sobre a NR-18. Poderia comentar a importância da norma regulamentadora para o setor? O que representa essa atualização da norma?
A NR-18 foi a primeira norma a ser atualizada pelo atual governo, infelizmente veio a pandemia e acabou ficando no esquecimento. Está previsto para entrar em vigência a partir de fevereiro de 2021, estamos iniciando uma grande mobilização de informação a respeito.
A 92ª edição do ENIC tem como tema central O Futuro em Construção. Qual a expectativa referente ao evento online?
Será um grande desafio para fazermos um evento de tal magnitude totalmente online. Realizaremos nos dias 2 e 3 de dezembro. Também fará parte da programação do Enic os ‘Quintas da CBIC’ de novembro. Além disso, no dia 10/12, véspera do Dia do Engenheiro, faremos um evento especial sobre valorização da engenharia. Teremos mais de 50 palestras dos mais variados assuntos relacionados à construção civil. O conteúdo ficará disponível por 60 dias, para as pessoas poderem assistir no conforto de seu lar, do seu escritório, todas as discussões e palestras. Temos certeza que todos irão gostar, estamos finalizando os preparativos para lançá-lo brevemente.
Qual sua opinião sobre as ações do setor das estruturas, fachadas e fundações pré-fabricadas de concreto no estimulo da maior industrialização da construção civil?
Sou suspeito para falar porque, além de estar presidente da CBIC, sou um entusiasta dos processos industrializados. Entendo que precisamos cada vez mais investir nesse modelo, pois reduziremos as agressões ao meio ambiente, teremos trabalhadores mais capacitados, poderemos pagá-los melhor, reduziremos a informalidade, acidentes. Os setores de estruturas, fachadas e fundações pré-fabricadas estão totalmente inseridos nesse contexto. É fundamental olhar com bastante carinho para esse segmento, para ele ser o elo que inicia todo esse processo.