Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 25 - maio de 2022

CENÁRIO ECONÔMICO

Preocupação com custos retorna

A cadeia da construção chegou ao final de 2021 comemorando seu excelente desempenho: o PIB da construção cresceu 9,7%, o faturamento real da indústria de materiais teve alta de 8,1%  e as vendas de materiais no varejo ainda subiram 4,4%, depois de um crescimento de quase 11% em 2020.

A expansão da construção pode ser celebrada como a mais alta desde 2010.  No entanto, como se sabe, as similaridades entre os dois anos são quase inexistentes. Em 2010, o PIB setorial alcançou a marca de dois dígitos (13%), depois de quatros anos de taxas positivas, que ainda foi seguido por mais três de crescimento, configurando um ciclo mais duradouro de investimentos no mercado imobiliário e em infraestrutura.

Em 2021, a taxa vem depois da forte queda de 2020 (-6,3%). E mesmo o resultado robusto do ano passado ainda deixou o PIB setorial 27% abaixo do pico alcançado em 2013. De todo modo, o resultado foi, com justa razão, celebrado, pois representou uma inflexão muito forte alavancado pela demanda das famílias e de investidores. E para além, de uma taxa muito robusta, o resultado representou uma retomada que ainda terá repercussões nos próximos anos.

Infelizmente, porém, as ameaças a esse ciclo, já delineadas no final do ano passado, ganharam maior dimensão e outras vieram se somar.

A reversão do ciclo monetário ocorreu ainda em 2021. A taxa Selic que em janeiro estava em 2% a.a chegou em dezembro a 9,25% a.a. Uma elevação tão expressiva, em tão pouco tempo, foi um recorde histórico, com consequências imprevisíveis sobre as decisões de investimento. Mas ao final de 2021, havia a expectativa de que o ciclo de elevação dos juros pudesse ser invertido até o final de 2022.

Já não há mais essa expectativa e a taxa prevista para o final de ano supera 13%, uma revisão para cima que veio com as projeções para a inflação do ano, que agora estão próximas de 8%. Vale notar que o IPCA-15 chegou em abril com variação acumulada em 12 meses de 12,03%.

Sabe-se que a deterioração que levou a revisão para cima da taxa de juros e inflação é consequência da guerra na Ucrânia, que aumentou muito as incertezas sobre os cenários global e doméstico.

Um primeiro efeito do conflito foi o aumento expressivo nos preços das commodities de energia, mas também as agrícolas e metálicas subiram significativamente neste novo contexto. A Rússia é um dos principais produtores e exportadores de commodities  - responde por cerca de 10% da produção e do comércio globais de petróleo - e as sanções impostas pelos EUA e Europa afetaram a oferta desses produtos, repercutindo sobre seus preços.  

O preço do barril do petróleo tipo Brent, que em dezembro estava em US$ 74, passou para US$ 139 no início de março. Em relação às commodities metálicas, vale mencionar especialmente à reversão da queda dos preços do minério de ferro como efeito de uma nova onda de Covid na China. A valorização cambial mitigou um pouco da alta em dólar, mas não anulou. Como mostram as revisões das projeções de inflação, haverá um efeito importante sobre os preços praticados no país.

Essa piora no cenário também pode repercutir no setor, especialmente em relação à evolução dos preços dos insumos. Como mencionado no último artigo aqui nesta revista, a percepção dominante era que os preços iriam desacelerar. 

As Sondagens da Construção da FGV realizadas em março e abril mostrou uma mudança, com o aumento das assinalações no item custo da matéria-prima como fator limitador do crescimento da empresa. 

Esse temor procede? De fato, a questão é que a maior parte das indústrias de materiais é intensiva em energia. Isso sem mencionar o efeito no custo do frete.

De todo modo, é importante notar que nos quatro primeiros meses do ano, a história contada pelo INCC não indica piora no ritmo de aumentos dos insumos na comparação com 2021. Há uma redução expressiva no ritmo de elevação em relação ao ano passado, quando a cesta de materiais já registava variação superior a 10% em abril.  No entanto, é possível que a alta dos custos de matérias-primas e frete, venha repercutir de modo mais significativo nos preços nos próximos meses. As perspectivas estão condicionadas à evolução do cenário.

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