PROJETANDO COM O PRÉ-FABRICADO

O arquiteto Sidonio Porto é um ícone da pré-fabricação em concreto. Desde a década de 1960, tem realizado obras emblemáticas com o sistema construtivo, como as fábricas projetadas para a Brastemp, em Rio Claro (SP), e para a Gessy Lever, em Vespasiano (MG), no qual ele utilizou as possibilidades plásticas dos componentes estruturais em favor da arquitetura e da imagem corporativa das empresas. 

Muitos projetos do escritório foram feitos com base em padrões que poderiam gerar elementos pré-fabricados, tanto estruturais quanto outros arquitetônicos, como brises, beirais, elementos vazados, caixilhos, elementos de vedação, coberturas, entre outros. Esses elementos foram utilizados até em obras residenciais, que nos dias atuais ainda não são usuais no país. 

Outros projetos marcantes do escritório foram para a Petrobras. As sedes para Imbetiba e Imboassica contam com 10 mil m² de construção cada e estruturas de pilares e vigas e lajes, e todos os painéis de fechamento pré-fabricados em concreto. O canteiro e obras significativamente reduzido, devido à produção de petróleo, se transformou em um canteiro de montagem, com o uso de grua central na execução de ambas as obras. Já a sede da empresa em Vitória (ES), com 110 mil m² de área construída, teve grande parte de seus componentes em concreto pré-fabricado, como os painéis de fechamento. E, o Centro de Treinamento do Comperj (CICJ), de pequeno porte, com 3.200 m², teve a pré-fabricação de concreto em toda sua estrutura.

A pré-fabricação em concreto pressupõe a adoção de algumas medidas básicas no ato de projetar, sendo a primeira, a utilização de critérios de coordenação modular. Isso significa que os elementos pré-fabricados precisam trabalhar dentro de dimensões básicas de vãos e alturas, de forma que possam ser organizados como um grande “Lego”. Outro parâmetro é a busca por uma certa padronização dos elementos construtivos, para que se obtenha ganho de escala. Nesse sentido, a arquitetura é fundamental para que a repetição de elementos seja feita com arte, tornando a edificação um belo objeto. O arquiteto precisa também considerar essas dimensões das peças pré-fabricadas em sua arquitetura, para que a compatibilização com o projeto de fabricação produzido pela indústria para sua verificação, não inviabilize o projeto originalmente pensado.

Quanto aos desafios do sistema construtivo, em geral, estão os custos ligados à produção das estruturas. Mas, em termos de benefícios, o processo de pré-fabricação apresenta maior qualidade dentro da indústria, no que diz respeito às melhores condições de trabalho, assim como no melhor aproveitamento dos insumos e descarte dos dejetos. Também imprime melhores condições para que o canteiro de obras seja o mais eficiente possível, onde não há sobras de material nem tampouco ociosidade ou falta de mão de obra. 

Hoje, vemos que a industrialização tem sido foco de todo o setor da construção, devido ao ganho de produtividade e de cronograma.  A industrialização colabora para a sustentabilidade de uma edificação. Uma vez que componentes estruturais em concreto pré-moldado já entram na obra após todo seu processo de confecção, não é necessário o armazenamento de insumos, como areia, brita e cimento no canteiro. O processo de pré-fabricação dos componentes construtivos conta com ambientes controlados para a sua produção o que torna o processo mais racional e consequentemente mais sustentável.

No livro “O Processo de Projeto e a Sustentabilidade na Produção da Arquitetura”, mostro como o grau de sustentabilidade de uma obra está diretamente ligado à concepção do projeto arquitetônico. A fase de concepção de um projeto é quando soluções passivas voltadas a uma obra mais sustentável são definidas. Neste momento, também pode ser definida a utilização de uma estrutura pré-fabricada. Compartilhar esse conhecimento é uma forma de contribuir para que o futuro da construção civil seja cada vez mais sustentável.