ARTIGO TÉCNICO
3) Cenário Internacional
Tendo em vista os casos descritos, lições podem ser aprendidas com base no desempenho de edifícios que sofreram incêndios reais. De acordo com a publicação do texto “Concrete and Fire Safety” pela The Concrete Centre [3], diferentes tipologias de estruturas de concreto danificadas pelo fogo no Reino Unido foram investigadas. Nesta investigação foram reunidas informações sobre o desempenho, avaliação e reparação de mais de 100 estruturas, incluindo edificações residenciais, escritórios, armazéns, fábricas e estacionamentos. As tipologias estruturais examinadas incluíam pisos planos, vigas e pilares, tanto pré-moldadas quanto de concreto moldado “in loco”.
Foi concluído que a maioria das estruturas foram reparadas e voltaram a ser utilizadas. Para as outras que não tiveram esse destino, poderiam ter sofrido algum tipo de reforço estrutural, porém, por motivos diversos, foram demolidas. Por fim, quase sem exceção, as estruturas funcionaram bem durante e após o incêndio.
Na Europa, recentemente foi realizado um amplo estudo sobre a questão da resistência ao fogo em um dos produtos pré-fabricados considerado mais crítico. Nele, destaca-se que a laje alveolar, utilizada em edifícios de multipavimentos de grandes proporções, especialmente na Bélgica e Holanda, apresenta características que devem ser avaliadas com grande critério. Sua geometria, sua armação ser composta apenas por armadura ativa e, em algumas situações, a utilização de concreto de alto desempenho, tendo como características principais a elevada resistência e o baixo índice de absorção, são exemplos de características importantes a serem avaliadas.
Este estudo integra um projeto denominado HOLCOFIRE (Hollow Core Fire Resistance), que consiste no estado da arte sobre o assunto e foi baseado em testes de laboratório que conduziram a uma análise estatística com 162 resultados de ensaios, simulações com métodos de elementos finitos em diferentes situações de projeto e metodologias revisadas. Envolvendo toda a indústria europeia, seu escopo foi definido na Bélgica em 2009 e apresentado em maio de 2010 na Holanda. Por fim, foi finalizado em 2013, após exaustivos trabalhos realizados nos laboratórios mais renomados da Europa em condições de ensaiar não apenas elementos isolados, mas o sistema estrutural como um todo.
Os dados foram publicados em um livro em 2014, pela BIBM (Federação das associações de estruturas pré-fabricadas da Europa), que coordenou as atividades definidas neste projeto e organizou as reuniões do grupo de trabalho, reunindo os mais renomados experts e pelo IPHA (International Prestressed Hollowcore Association). O título do livro em tradução livre é “O comportamento estrutural das lajes alveolares protendidas expostas ao fogo”.
O estudo, registrando que existe na Europa milhões e milhões de metros quadrados de lajes alveolares já instaladas, com base numa infinidade de testes realizados e nas conclusões do acidente ocorrido em Rotterdam, concluiu que os sistemas de lajes alveolares atendem a todos os regulamentos de segurança, qualidade e requisitos de resistência ao fogo. Além disso, o estudo salientou que as lajes alveolares apresentam desempenho adequado quando expostas ao fogo, e que, portanto, a sociedade pode continuar a confiar no desempenho deste tipo de solução [4].
Na Bélgica e Holanda, a solução com pré-fabricados de concreto tem sido amplamente utilizada em edifícios de múltiplos pavimentos, de altura considerável de até 60 andares, porém, com diferentes tipologias. Na Bélgica, com estrutura tipo esqueleto com núcleo rígido moldado “in loco” (Figura 1) e, na Holanda, com painéis autoportantes (Figura 2). A primeira missão técnica da ABCIC realizada em 2008 visitou, acompanhada do projetista Arnold Van Acker, um dos idealizadores destes edifícios, a fábrica produtora dos elementos e também as obras em fase de montagem.