Ponto de Vista
Nesse processo todo, qual a importância da atuação das associações empresariais brasileiras?
O Brasil tem um relacionamento com a fib desde meados dos anos 60 que foi intensificado a partir de 2008. Temos hoje no país dois grupos muito interessados nessa interação. De um lado, a Abcic, que desenvolve um notável trabalho no âmbito da Comissão 6 (pré-fabricação) da fib, talvez a comissão mais produtiva. De outro lado, a Abece – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural que, por natureza, está ligada à questão estrutural em todas as possibilidades de estudos e aplicação do concreto, que é o foco primordial da fib.
A seu ver, como a engenharia brasileira é vista no exterior?
No círculo ligado à fib e entre os profissionais que tem mais contato conosco há um natural interesse deles por nossas atividades, principalmente no aspecto de que somos um país que constrói com concreto, otimizando recursos e de forma altamente competitiva. Logicamente que não somos ainda um gerador de tecnologia.
Em que medida o período de estagnação econômica afetou o desenvolvimento da área de engenharia?
Entendo que afetou efetivamente. Lembro que, em 1975, minha turma tinha 220 alunos e, ao longo dos anos 90, já como professor, cheguei a ter turmas de apenas 60 alunos. Houve casos de formatura com 50 alunos. O que acontecia: os estudantes queriam fazer qualquer coisa, menos engenharia, principalmente civil.
E como está a situação hoje?
Observei ao longo do tempo que, a partir de 2008, em função da melhoria do mercado de construção, cresceu o interesse pela carreira de engenheiro. Percebi que mais alunos se voltaram para a construção civil, que o interesse nas aulas aumentou e até as notas evoluíram. Isso vem acontecendo pelo fato de que, com certo aquecimento do mercado, o aluno percebe que pode ter um bom salário e uma boa perspectiva de carreira. Na hora em que o mercado aquece, naturalmente tem mais gente querendo estudar. Cria-se um círculo virtuoso: com maior interesse pela escola temos melhores profissionais tanto nos escritórios de projetos, quanto nas construtoras.
Esse movimento positivo influencia também a área de pesquisa e novas tecnologias?
Penso que sim, mas acho que aí tem um passo a mais e que vejo com certa delicadeza. Para melhorar a tecnologia é preciso investir, pois soluções novas exigem recursos. Tenho insistido na tese de que a alta direção das construtoras tem de perceber que precisa colocar dinheiro numa obra para absorver a tecnologia e saber que só após duas ou três obras começará a colher frutos daquela inovação. Da parte do governo também é preciso esforço da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a fundação vinculada ao Ministério da Educação, e do próprio MEC, pois todos os recursos de pesquisa na área de projeto e de engenharia vão para quem publica trabalhos em revistas internacionais e quem pesquisa problemas específicos brasileiros tem dificuldade de publicar nessas revistas.
Em que isso prejudica o segmento?
Trata-se de uma distorção, pois nas revistas internacionais da área de engenharia, é natural, dar preferência a trabalhos sobre temas que interessam ao mercado, americano ou europeu: concreto de altíssima resistência, concreto armado com fibras de vidro, com fibras de carbono. Os nossos problemas de concreto acabam não sendo publicados e, muitas vezes, sequer pesquisados. Para resolver isso nós vamos ter de valorizar um pouco mais a pesquisa aplicada aos temas importantes e que interessam ao Brasil. Outro ponto em que tenho insistido muito é no fato de que a escola precisa ter professores em período integral, com foco em pesquisa, mas tem de ter uma parte dos professores – pode ser uma parcela menor – com sólida experiência prática. É este profissional quem vai levar os problemas rotineiros do mercado para a universidade e fazer com que a academia se motive a solucioná-los. Temos que abrir as portas das universidades para a pesquisa e publicar estudos ligados à realidade brasileira, em boas revistas brasileiras.