CENÁRIO ECONÔMICO
Como antecipado no artigo anterior, em 2022 a economia cresceu acima do esperado pela maioria dos analistas no início do ano passado: a alta do PIB alcançou 2,9%, impulsionada fundamentalmente pelo setor de Serviços.
Mas o crescimento médio do ano representa um retrato e não reflete o filme. Ou seja, a desaceleração no segundo semestre também se confirmou e no último trimestre do ano, houve uma queda em relação ao trimestre anterior. Um movimento que se seguiu a 5 trimestres consecutivos de expansão. O que isso significa para as empresas?
Que a economia iniciou o ano em ritmo lento, sob os efeitos das altas taxas de juros. Vale notar que o destaque negativo foram os investimentos, que acusaram o cenário mais adverso de incerteza e de crédito mais caro.
A incerteza global se mantém nesse início de ano e foi elevada por novos fatos. Além das tensões geopolíticas, que permanecem, surgiu a ameaça de uma crise de crédito. A insolvência do Silicon Valley Bank, a possibilidade de outras quebras e as dificuldades do Credit Suisse e Deutsche Bank trouxeram questionamentos sobre como o quadro pode impactar o crédito no Brasil, que já sofre por conta da crise com uma grande rede do varejo.
Na verdade, ainda não há respostas, o que mantém as incertezas elevadas. Em princípio, acredita-se que o risco de contágio doméstico é baixo. O sistema financeiro brasileiro é mais fechado e menos alavancado. Ainda assim, o impacto pode vir de outras formas, na medida em que o fluxo de capitais seja afetado. Um movimento mais conservador em relação ao risco pode causar uma saída indesejada de recursos do país.
Domesticamente, o COPOM manteve-se na ortodoxia e não descartou um cenário possível de novos aumentos da Selic, caso a inflação não ceda, convergindo para a meta.
O anúncio do tão aguardado arcabouço fiscal trouxe algumas sinalizações positivas relacionadas a um maior controle de despesas, assim como metas de resultado primário, acenando com uma estabilização da dívida pública a médio prazo. No entanto, os objetivos estabelecidos dependem de um aumento significativo no nível de receitas, o que significa que a taxa de juros mais elevada pode persistir.
Portanto, a oferta de crédito doméstica seguirá apertada e o custo elevado, reforçando as projeções de um baixo crescimento da economia em 2023.
Não é um cenário promissor para o investimento, mas, por enquanto, as perspectivas para a cadeia da construção continuam positivas. Em fevereiro houve uma virada nas expectativas dos empresários da cadeia da construção, em todos os elos: depois de sofrer sucessivos reveses desde final do ano passado, as sondagens empresariais da FGV apontaram que as percepções em relação à demanda dos próximos meses melhoraram. Por trás desse movimento, houve a renovação do Programa Minha Casa Minha Vida, a sinalização de retomada de obras de infraestrutura (novo PAC) e a alta do salário-mínimo. A desaceleração dos preços dos materiais também tem contribuído para reduzir as dificuldades setoriais.
Esse movimento vai ao encontro do que foi sinalizado pela Sondagem realizada em outubro do ano passado pelas empresas da indústria de pré-fabricados de concreto, que já se mostravam mais otimistas.
É importante destacar que a construção deve desacelerar ao longo do ano, mas manterá um ritmo superior à média da economia. De fato, sinais mais favoráveis estão vindo da construção. Em janeiro e fevereiro, a pesquisa de emprego (CAGED) apontou que o número de trabalhadores do setor continuou crescendo.
O desempenho reflete o ciclo de negócios do mercado imobiliário e da infraestrutura nos últimos anos, que deve continuar impactando positivamente a atividade – na demanda por emprego e materiais. Os programas renovados podem contribuir para sustentar esse ciclo.