DE OLHO NO SETOR
A Federação Internacional do Concreto (fib) elaborou um Documento Oficial sobre Sustentabilidade, por entender a importância do tema em sua área de atuação. No Brasil, a ABCIC segue difundindo a interligação entre industrialização e sustentabilidade em diversos contextos e apoiando importantes eventos como o Congresso Brasileiro do Concreto e o Movimento BW.
Nesse contexto, a fase de construção representa apenas cerca de 5% do impacto total gerado e, consequentemente, esses programas creditam poucos créditos à estrutura de concreto, ou seja, dão pequena importância ao impacto do concreto estrutural. Por outro lado, o insumo principal do concreto, o cimento Portland, é responsável por cerca de 5% da emissão mundial de gases de efeito estufa, ou seja, merece uma atenção especial da engenharia.
“Então dedicar esforços para otimizar as estruturas de concreto, minimizando seus impactos passa a ter uma importância vital nesse esforço global”, pontuou o presidente do Ibracon.
Sobre os avanços do setor da engenharia e construção, Helene avaliou que essas áreas passaram a ser mais pragmáticas e a concentrar os esforços nos impactos relacionados mais diretamente aos gases estufa, às fontes de energia e de consumo de água potável, deixando para segundo plano as questões sociais, de saúde, e econômica.
Ele lembrou que, no início, a engenharia concentrou esforços nos 3 Rs (reduzir-reutilizar-reciclar), nos procedimentos de Life-cycle Assessment, e nas EPDs - Environmental Product Declaration. “Tudo isso já foi implementado e continua sendo importante, mas o foco agora é a redução urgente de emissões de gases de efeito estufa tendo como meta reduzir muito, se possível zerar, a emissão de carbono na cadeia da produção de estruturas de concreto até 2050”, asseverou.
Nessa direção, ele registrou o papel decisivo da GCCA (Global Cement and Concrete Association), que representa cerca de 35% da indústria mundial de cimento, e que foi constituída com o propósito de reduzir a emissão de gases de efeito estufa na cadeia produtiva do cimento e concreto. A entidade tem sido muito ativa, envolvendo indústrias brasileiras e universidades, participando das COP24, COP25 e COP26, e lançando o GCCA 2050 Cement and Concrete Industry Roadmap for Net Zero Concrete.
No que tange à pré-fabricação de concreto, Helene ressaltou que o setor combina em gênero, número e grau com o conceito amplo de sustentabilidade e tem grande potencial de contribuição à redução de gases de efeito estufa.
“A indústria da construção é itinerante e o local de implantação da obra está sempre mudando, o que dificulta o treinamento de mão de obra, a manutenção dos insumos e a organização do trabalho, obrigando a indústria a trabalhar com coeficientes de segurança elevados e a favor da segurança, mas contra a economia e a sustentabilidade. Otimizar o processo construtivo visando reduzir emissões nefastas pressupõem insumos controlados e com pequena variabilidade, equipamentos eficazes e de baixo consumo energético, volume grande de produção, e, principalmente, produzir mais com menos matéria prima e com insignificante desperdício”, comentou Helene.
Ele considerou ainda que faz parte da pré-fabricação em concreto estrutural utilizar concretos de alta resistência, que automaticamente consomem pouca água potável e apresentam elevados índices de eficiência medida, por exemplo em demanda de clínquer/MPa. Há ainda a importante redução de geometria e volume final na medida que as peças são otimizadas e com cobrimentos inferiores aos necessários a uma construção tradicional, para assegurar uma mesma vida útil, frente a certa agressividade ambiental.
A seu ver, atualmente, é possível pré-fabricar painéis de fachada com menos de 3 cm de espessura e, se utilizar os concretos com fibras e de UHPC (Ultra High Performance Concrete), é possível construir pilares e vigas tubulares ou com geometrias inteligentes e não maciças com redução enorme de volume consumido. “Some-se ainda os benefícios sociais aos trabalhadores, a precisão, a velocidade e a versatilidade, e podemos entender porque a China, por exemplo, adotou a pré-fabricação como o processo primordial para enfrentar o desafio da sustentabilidade e redução de gases estufa na construção civil chinesa”, finalizou.