Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 10 - abril de 2017

DE OLHO NO SETOR

Workshop Cantechis: industrialização contribui para melhorar a sustentabilidade e a segurança nos canteiros de obras


Palestra da professora Sheyla Mara Baptista Serra, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no Workshop Cantechis, no Sinduscon/SP


Sobre a melhoria da condição de trabalho, o professor José Carlos Paliari, da UFSCar, recordou que as atividades no canteiro de obras envolvem riscos ergonômicos, que vão desde o recebimento de material até a execução das tarefas. Já os professores da UFBa, Ricardo Fernandes Carvalho e da UFRGS, Tarcísio Saurin, trouxeram a necessidade de inserir a cultura da segurança no ambiente de trabalho durante a apresentação Sistemas de Proteção Coletiva para Canteiros de Obras. Para Jorge Batlouni, do Sinduscon-SP, “a industrialização também pode ser uma saída porque pode diminuir, por exemplo, a questão da repetição do armador que trabalha agachado”.
Haruo Ishikawa, vice-presidente de Relações Capital-Trabalho e Responsabilidade Social do Sinduscon-SP, destacou a importância desse debate sobre a segurança e a saúde do trabalhador. “É um item muito complexo, mas de fundamental importância para o país, afinal ela não espera, ela acontece. Por isso, em muitas situações, estamos correndo atrás dessas questões”, enfatizou. 
Segundo ele, aproximadamente 80% dos empresários não percebem que, ao não cuidar da saúde e da segurança do trabalho, estão gerando um ônus para suas empresas, em especial, por conta do Fator Acidentário Previdenciário (FAP), multiplicador calculado anualmente que incide sobre a alíquota do Seguro Acidente de Trabalho (SAT) pago pelas empresas. “Se houver uma gestão pode-se reduzir esse custo. Assim, precisamos de canteiros de obras sustentáveis e com segurança”. Ele defendeu também que os estudantes de cursos relacionados ao setor da construção civil deveriam ter conteúdos de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) ainda na faculdade. 
Ainda em seu discurso, Ishikawa comentou sobre a Norma Regulamentadora 18 (NR-18), aprovada em 1995, em um comitê tripartite, e pediu mais colaboração técnica-científica para embasar as ações, as reivindicações e os textos das comissões permanentes. 
Sobre esse assunto, Íria lembrou que há oito anos a industrialização em concreto vem trabalhando para trazer mudanças na NR- 18 “Participamos de todas as reuniões da Comissão Permanente Regional (CPR), produzindo e trazendo as questões de mudanças a respeito de importantes condições que precisam ser avaliadas nas obras em relação às estruturas industrializadas. Apesar da CPR ter encaminhado à CPN (Comissão Permanente Nacional) estas considerações, na versão proposta à Consulta Nacional, infelizmente, nada havia sido contemplado”, explicou. 
Segundo Íria, a construção civil está evoluindo. “As recentes obras (habitacional, aeroportos, arenas, BRTs, estações de metrô) demonstraram claramente que a industrialização está presente e que convivemos cada vez mais com um grande “mix” de tecnologias e sistemas nos canteiros, mas ainda não conseguimos, por entraves políticos, atualizar as normas regulamentadoras que claramente evidenciam não ter acompanhado a evolução tecnológica. Desta forma, somos submetidos a uma fiscalização sem parâmetros ou com parâmetros equivocados, muitas vezes, dispendendo energia e recursos desnecessários, gerando atrasos e, o pior, a falta de segurança nos canteiros”. Ela ainda elogiou o incansável e persistente trabalho do Sinduscon –SP, através de Haruo, que apoiou as reivindicações da ABCIC e tem auxiliado neste processo.
Assim, de acordo com a presidente executiva da ABCIC, a alternativa foi ampliar o capítulo referente à montagem na ABNT NBR 9062:2017 - Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado e desenvolver um Manual de Montagem, que será lançado no segundo semestre deste ano. “Nosso segmento possui uma preocupação séria com questão de logística e de segurança e nossa expectativa é que essas ações contribuam para essa finalidade”, destacou. 
Outro ponto de discussão no Workshop Cantechis foi a importância da gestão no canteiro de obras, trazida pelo professor Carlos Torres Formoso, da UFRGS. “O pré-fabricado de concreto diminui os riscos de acidentes e a geração de resíduos. Mas, não adianta fazer uma estrutura pré-fabricada super-rápida e, depois chegarem as demais  etapas convencionais e, tudo aquilo que se ganhou de prazo na estrutura ou na fachada, se perder parcial ou integralmente. Por isso, precisamos pensar a obra como um todo, realizando a gestão da obra e a gestão da fábrica de forma integrada”, evidenciou. “Uma regra básica do pré-moldado de concreto é realizar a montagem, assim que o caminhão chega ao local da obra, mas se as peças não vierem na sequência adequada ou se a logística não estiver adequada não será possível realizar isso. Então, há uma série de aspectos de gestão que deve ser considerada”, complementou. Além disso, para ele, o pré-fabricado de concreto tem um impacto na economia e no custo da obra, em decorrência de atender com qualidade cronogramas ousados. 
Íria concordou com avaliação de Formoso e acrescentou que para ter uma industrialização pura ou etapas intermediárias de racionalização, é necessária uma mudança de conceito. “Não conseguimos implementar tecnologias ou passar de um sistema convencional para 100% industrializado, se fizermos isso com o mesmo raciocínio dos sistemas convencionais. Temos que racionalizar de uma forma diferente, com logística, e se o planejamento adequado não considerar as interfaces e outros processo em realização simultânea nos canteiros se  perdem benefícios”.  
Porém, ela ressaltou ainda, que o ideal seria um maior tempo de planejamento e menor em execução, pensar mais e realizar com racionalização.  “O interessante seria o planejamento já nascer integrado com o projeto. No Brasil ainda temos que “converter”, na grande maioria dos casos projetos que nascem apenas para sistemas convencionais. A cultura de contratar obras com projeto básico, especialmente no caso das obras públicas é muito prejudicial”, acrescentou.
Para Maurício Bianchi, vice-presidente Institucional do Sinduscon/SP, há também a questão do planejamento em uma edificação de habitação de interesse social. “Se não soubermos o que vamos fazer e quando vai fazer, as coisas podem não dar certo. É fundamental o planejamento, saber tudo antecipadamente e fazer gestão de risco antecipada”. Ele também ressaltou que projetos como o Cantechis deveriam ser mais frequentes para que as soluções chegassem ao mercado de maneira mais rápida. “Precisamos inserir a segurança, o meio ambiente e a sustentabilidade no orçamento das obras das empresas. O Brasil precisa amadurecer em relação a esses aspectos”.
 De acordo com a presidente executiva da ABCIC, a questão da industrialização em empreendimentos para habitação social é fundamental. “Sabemos que ela fez parte do Europa pós-guerra. E, atualmente, pela questão da imigração vem sendo largamente utilizadas novamente. Visitamos na Dinamarca e Finlândia, durante a Missão Internacional da Abcic, empresas de pré-fabricados de concreto que só podem aceitar pedidos para 2018.”
Ao final dos debates, Íria ressaltou também a parceria com o Sinduscon/SP e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que foi representada por Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais e Tecnologia (COMAT). “Temos encontrado apoio dessas duas importantes instituições para o desenvolvimento da produtividade que é relevante para a atividade de construção civil do país. Isto engloba alcançarmos, quando possível à industrialização, que seria o máximo da racionalização dos processos construtivos, transformando os canteiros de obras em centrais de montagem, aumentando o nosso índice de industrialização, chegando mais próximos da relação dos países desenvolvidos. Precisamos mobilizar o poder público com a força da união das entidades e o apoio da academia. Mas, sabemos que existem fases de transição e questões de aculturamento, o que significa que temos um caminho a trilhar”. 
Sobre o Cantechis, Íria agradeceu o convite da professora Sheyla para integrar o projeto, que retribuiu a gentileza, contando que: “a Abcic foi uma parceira de primeira hora. Assim, que saímos da reunião da FINEP, em setembro de 2010, procuramos instituições representativas do setor, que poderiam trabalhar conosco nos cinco aspectos determinados. E, quando pensamos em tecnologia inovadora e uso de industrialização , sem dúvida a Abcic, se destaca  Além disso, dentro da UFSCar, temos o NETPré, que trabalha fortemente os aspectos técnicos relacionados ao pré-fabricado de concreto. Lembro-me que, desde o início do desenvolvimento do NetPré, o Paulo Sergio Teixeira Cordeiro, então presidente da Abcic, muito nos apoiou. Assim, agradeço a ABCIC, a Íria , o Paulo (in Memoriam) e o corpo diretivo da entidade, que  se sensibilizaram e foram sempre muito importantes nessa parceria”.

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