Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 10 - abril de 2017

INDUSTRIALIZAÇÃO EM PAUTA

“... E esse tal de ´BIM´ aí?...”

Coordenador da Comissão de Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CEE-134)

1. INTRODUÇÃO
Meu primeiro contato com o BIM aconteceu no início de 2010, quando então, recém-contratado pela Pini, recebi a missão de acompanhar os trabalhos da CEE-134 na ABNT, a comissão de estudo especial que é responsável pelo desenvolvimento da primeira Norma BIM Brasileira.
Lembro-me que no início, ia nas reuniões mas não entendia nada direito; tive dificuldades para compreender realmente os conceitos, e que foi preciso fazer um esforço pessoal e especial para que ´minha ficha caísse´, mas, quando isso aconteceu, fiquei muito impactado e disse a mim mesmo – “Wow!... isso vai mudar tudo!... e eu quero participar dessa revolução.”
Embora não faça tanto tempo assim, percebo que depois de oito anos estudando BIM, agora, para tentar deixar neste artigo uma mensagem apropriada, preciso fazer uma espécie de ´exegese ´ e tentar enxergar este assunto pelo ponto de vista dos leitores, que muito provavelmente, já ouviram falar bastante sobre o assunto, mas que, de fato, ainda não entenderam bem do que se trata e qual a sua importância e o real impacto que causará na indústria da construção civil no Brasil.
E o primeiro ponto a destacar é justamente essa dificuldade de entendimento do que realmente é BIM, que eu mesmo tive e que hoje percebo, não é só minha.
Atualmente sou o Coordenador da CEE-134 na ABNT, assumi a coordenação no início do 2º. Semestre de 2013 e mesmo lá, nas reuniões mensais plenárias, e também em outros fóruns, foram inúmeras as vezes que percebi importantes lacunas na compreensão de alguns conceitos importantes em pessoas que já estudam e trabalham com BIM há anos. São principalmente as dúvidas e as perguntas que denunciam a falta da compreensão mais exata. É óbvio que ainda tenho muito o que aprender sobre BIM, não estou cometendo aqui, a tolice de me vangloriar e não estou fazendo essa observação agora por outro motivo senão o de destacar minha primeira mensagem aos leitores:


1ª. Mensagem:  
BIM não é um conceito simples.
É preciso fazer um esforço especial para entender corretamente alguns dos novos conceitos relacionados ao BIM e utilizados nele.
Tentar fazer uma espécie de ´exegese´ é importante porque alguém que já entendeu o real valor e o que a adoção BIM de fato significa para a indústria, fica tão convencido e consciente das vantagens que pode enfrentar dificuldades para explicar porque está demorando tanto para que a indústria se converta de vez ao uso desses novos processos.
Para desenvolver os guias BIM publicados pela CBIC  em Julho de 2016, fiz uma pesquisa informal com um grupo de pessoas que podem ser consideradas ´notáveis´ no cenário brasileiro, porque tem trabalhado sistematicamente com BIM. Enderecei a mesma pergunta para essas pessoas – “Por que a adoção BIM não acontece mais rapidamente no Brasil?”
A maior parte das respostas se alinharam na questão da dificuldade de entendimento e compreensão do que é BIM e quais são seus reais benefícios.
Muitos mencionaram a inércia e resistência natural das pessoas e organizações, que em geral, não apreciam mudanças.


1 Segundo o dicionário o termo ´exegese´ significa a análise, explicação e interpretação de uma obra de maneira cuidadosa e detalhada. Lembro-me que não faz muito tempo que ouvi pela primeira vez esta palavra e que foi numa palestra religiosa, onde o palestrante, doutor em teologia, explicava aos presentes que uma adequada interpretação das parábolas bíblicas, só poderia ser feita a partir de um exercício de uma abstração da realidade atual; ou seja, o leitor deveria transportar-se mentalmente para aquele contexto e para aquele momento histórico, quando a parábola foi escrita. E é claro que este exercício de exegese não é simples nem tampouco fácil de se fazer.
Outros apontaram barreiras culturais e peculiaridades do ambiente brasileiro e listaram pontos como:
•    Porque não costumamos valorizar o planejamento e o projeto e preferimos ´sair fazendo´
•    Porque não temos ainda suficiente quantidade de profissionais capacitados em BIM
•    Porque os brasileiros ainda acreditam e apostam em soluções ´rápidas e baratas´
•    Porque não temos interesse pelo trabalho colaborativo, cada um se preocupa só com sua parte
•    Porque muitos são céticos e pensam que BIM é um ´modismo´ passageiro
•    Porque alguns preferem o caos e a indefinição para tentar tirar proveito desses embaraços
•    Porque as margens brasileiras na construção ainda são altas, quando comparadas com mercados mais maduros, e os erros e desperdícios ainda são considerados ´normais´ e aceitáveis
Um ponto muito interessante apontado foi o atual ´modelo´ de negócio e contratação que atualmente é o mais utilizado nas construções no Brasil.
Os maiores beneficiados com a adoção BIM são os contratantes, sejam proprietários ou investidores. Mas o BIM precisa começar com o desenvolvimento dos projetos, porque sem isso, não existe BIM. Para os Arquitetos e projetistas, no entanto, a exigência do BIM significa necessidade de investimento e capacitação, além de aumento de escopo e responsabilidades, sem que sua remuneração seja adequadamente rediscutida e negociada. Esse é um ´nó´ que precisa ser desatado.
Além de todas essas razões, sim, estamos enfrentando uma crise econômica sem precedentes, mas não são justamente nos momentos de dificuldades que se exige maior precisão e eficácia na realização dos trabalhos, para produzir mais, e mais rápido, com menos recursos?

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