PONTO DE VISTA
"Pelo Prêmio Obra do Ano Pré-Fabricados de Concreto é possível ver efetivamente o que está sendo feito em termos de arquitetura industrializada."
Entusiasta da industrialização, o arquiteto Paulo Eduardo Fonseca de Campos é membro do Comitê do Júri do Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados de Concreto, desde sua primeira edição. Para ele, a premiação apresenta o estado da arte da pré-fabricação em concreto no país, em todas as áreas. Ele foi ainda diretor Técnico da ABCIC no biênio 2003-2004, contribuindo para a estruturação da associação e para a implementação de ações importantes, com o arcabouço normativo e o Selo de Excelência ABCIC.
Professor Livre-Docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), onde coordenou o laboratório de fabricação digital FabLab SP e o Grupo de Pesquisa DIGI-FAB - Tecnologias digitais de fabricação aplicadas à produção do Design e Arquitetura Contemporâneos, Campos afirma que a digitalização na arquitetura representa, de fato, uma quebra de paradigma, uma tecnologia disruptiva. "O digital veio para ficar e influenciar diretamente os processos produtivos e a linguagem arquitetônica".
Em entrevista para a Industrializar em Concreto, o arquiteto apresenta suas avaliações sobre a interface entre arquitetura e pré-fabricação de concreto, a formação de novos profissionais e o trabalho realizado pela ABCIC nos últimos 20 anos.
A seguir, estão os principais pontos abordados por ele:
Qual sua avaliação sobre a área de arquitetura nos últimos anos?
R: A área de arquitetura tem plena capacidade de se desenvolver no país. Os profissionais são bem formados e o setor tem correspondido todas as vezes que é demandado, seja no âmbito público seja no segmento privado. Mas, ainda, faltam oportunidades de a arquitetura demonstrar toda sua capacidade, ou seja, cumprir o papel fundamental de melhorar as condições de vida nas cidades. Quando a demanda não ocorre de forma organizada, não é possível se ter um movimento que possa representar um ciclo virtuoso para a arquitetura.
Como analisa a aplicação do pré-fabricado de concreto do ponto de vista do projeto arquitetônico?
R: Pelo Prêmio Obra do Ano Pré-Fabricados de Concreto é possível ver efetivamente o que está sendo feito em termos de arquitetura industrializada. A grande questão está no ganho de escala. Como a pré-fabricação em concreto poderia de fato cumprir a mesma função que possui em países do Hemisfério Norte. No Brasil, não há falta de tecnologia nem de fundamentos, apenas de demandas e oportunidades. Nesse ponto, as políticas públicas poderiam fomentar um maior desenvolvimento da construção industrializada, por suas inúmeras vantagens.
Além disso, é importante refletir: Por que os nossos arquitetos não utilizam mais a pré-fabricação de concreto como sistema construtivo em suas obras?
Muitas vezes por desconhecer a tecnologia, por não ter intimidade com ela, ou seja, essa é uma questão básica vinculada à formação dos arquitetos, que deveriam ter contato com a industrialização desde cedo. E, por que isso deve ser fomentado? Porque efetivamente é uma alternativa tecnológica extremamente reconhecida. Nos Estados Unidos ou na Europa, a utilização de sistemas industrializados é algo natural, que se encontra incorporado à cultura construtiva.
Quais são os benefícios do uso do pré-fabricado de concreto para a arquitetura?
R: Os arquitetos, devido aos avanços na tecnologia do concreto, podem trabalhar hoje com estruturas mais esbeltas, ganhando mais espaço, e explorar outras possibilidades, como o uso de cor e textura, principalmente nos painéis pré-fabricados de fachada. Outro benefício inerente é a sustentabilidade, pois a solução elimina desperdícios, e o canteiro de obras se transforma em um local de montagem, não mais de manufatura. Na medida em que tenho um projeto estruturado e uma obra planejada em seus mínimos detalhes, não há atrasos de cronograma e há mais controle e previsibilidade. Em resumo, não há espaço para improvisação, o que traz segurança e tranquilidade para construtor e proprietário.