PONTO DE VISTA
"Pelo Prêmio Obra do Ano Pré-Fabricados de Concreto é possível ver efetivamente o que está sendo feito em termos de arquitetura industrializada."
Quais são as tendências para esse setor?
R: O desenvolvimento da construção permitiu que esse sistema construtivo pudesse de uma forma evidente prover construções de forma mais rápida, eliminando desperdícios e com qualidade. O uso de novas tecnologias também representou um salto para esse segmento, pois a tecnologia de produto contribui para o aprimoramento da tecnologia de processo. Dentro do campo da pré-fabricação de concreto, é possível citar o desenvolvimento do concreto protendido, posteriormente o surgimento de módulos tridimensionais e mais recentemente o uso das tecnologias digitais de fabricação. Nesse caso, não é apenas a impressão 3D em concreto, já bastante difundida, mas a robotização de atividades dentro da fábrica. Por esse motivo, a tendência é do uso de forma crescente de materiais de última geração e de tecnologias digitais, que vão desde o projeto paramétrico, até a manufatura digital.
Como a industrialização pode contribuir para o desenvolvimento da arquitetura?
R: A industrialização não só pode contribuir para o desenvolvimento da arquitetura, como também do país. É uma ferramenta indispensável para encarar os desafios que a arquitetura tem no campo da habitação e da infraestrutura, e para atender às demandas que vêm do meio urbano, contribuindo diretamente para o desenvolvimento social.
O que falta para a industrialização de concreto avançar entre os escritórios de arquitetura do país?
R: Apesar do número crescente de obras de arquitetura com o pré-fabricado de concreto, inclusive com um reconhecimento do padrão de excelência já alcançado no Prêmio Obra do Ano, ainda não há demanda suficiente para justificar um avanço expressivo em sua aplicação por inúmeros escritórios. Por outro lado, esse avanço está ligado à formação dos profissionais e, nesse sentido, é fundamental que existam disciplinas de projeto que explorem a alternativa da pré-fabricação em concreto, como há na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde temos no terceiro ano a disciplina “Arquitetura e Indústria”. Um caminho seria fomentar a formação dentro das escolas de arquitetura, por meio de ações objetivas de entidades, como a ABCIC.
Em edições anteriores da revista Industrializar em Concreto, o Sr. já havia comentado sobre a disciplina ”Arquitetura e a Indústria”. Poderia falar sobre ela?
R: Essa disciplina é ministrada no terceiro ano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, como já disse, e é a que, dentre as disciplinas de projeto, tem como meta chegar ao nível do detalhamento. No exterior, existe efetivamente uma busca por preparar esses futuros arquitetos para que dominem adequadamente aquilo que irão projetar. Por isso, é importante que essa disciplina faça parte do currículo das escolas de arquitetura. Em minha época de estudante, na FAU-PUCCampinas, no quarto ano, havia a disciplina ”Industrialização da Construção”, ministrada pelo professor Antonio Carlos Sant'Anna, que hoje, para minha grande satisfação, é meu colega na FAUUSP. Foi por meio dessa disciplina que nasceu meu interesse pela industrialização da construção.
Como avalia a formação dos novos profissionais nas universidades do país?
R: Em se tratando da área de pré-fabricados de concreto, uma ponderação importante passa pela docência, uma vez que há uma lacuna em termos de docentes que dominem a tecnologia da pré-fabricação de concreto, o projeto do pré-fabricado do concreto, inclusive do ponto de vista da arquitetura industrializada. Em algumas situações, isso ocorre pela falta de oportunidade dos docentes estarem em contato com o sistema construtivo ou por eles não terem lidado com a tecnologia em sua formação. Dessa forma, uma boa estratégia seria ministrar cursos com especialistas da área junto aos docentes responsáveis pelas disciplinas de projeto que assim o desejarem, a fim de que conheçam o sistema construtivo.