PONTO DE VISTA
"Pelo Prêmio Obra do Ano Pré-Fabricados de Concreto é possível ver efetivamente o que está sendo feito em termos de arquitetura industrializada."
A digitalização é um movimento cada vez mais presente na arquitetura. Como avalia esse movimento?
R: Comecei a lidar com a fabricação digital na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 2009, de forma pioneira. Em 2011, criamos o FabLab SP, primeiro laboratório de fabricação digital do país vinculado à rede mundial FAB LAB, que, de lá para cá, vem crescendo de forma exponencial, no Brasil e no mundo, liderada pelo Center for Bits and Atoms, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Em 2012, implementamos a primeira disciplina de fabricação digital da USP. Conseguimos, assim, incorporar e integrar a inovação tecnológica à formação de arquitetos e designers na FAUUSP. E, essa integração está tanto no projeto paramétrico quanto na execução e manufatura digital. Ao mesmo tempo, há grandes obras em nível internacional fazendo uso da digitalização, como as de Norman Foster, de Zaha Hadid, entre outros nomes conhecidos da arquitetura.
Quais os trabalhos que estão sendo desenvolvidos nesse sentido e de que forma a digitalização pode transformar a arquitetura?
R: A digitalização na arquitetura representa, de fato, uma quebra de paradigma , uma tecnologia disruptiva. O digital veio para ficar e influenciar diretamente os processos produtivos e a linguagem arquitetônica. A arquiteta Zaha Hadid, falecida em 2016, possui projetos que demonstram de forma impressionante o que se pode fazer com a transformação digital. Deter conhecimento sobre a digitalização, mais do que ter acesso a equipamentos e softwares, é entender sua potencialidade e como ela pode ser utilizada para atender às nossas demandas locais. Podemos territorializar essas tecnologias para serem aplicadas em benefício do país. A universidade vem realizando projetos de extensão com a fabricação digital voltados, inclusive, para bairros periféricos da cidade de São Paulo, o que demonstra que nós estamos aptos e somos capazes de empregar bem essa tecnologia.
Como membro do Comitê do Júri do Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados de Concreto, qual tem sido o papel e a contribuição da premiação ao longo desses mais de 10 anos?
R: O Prêmio Obra do Ano em Pré-Fabricados de Concreto apresenta o estado da arte da pré-fabricação em concreto no país, em todas as áreas: infraestrutura, múltiplos pavimentos, grandes superfícies, pequenas obras, arquitetura industrializada, entre outros. Ele representa, em boa medida, aquilo que eu chamo de face pública do pré-fabricado de concreto no Brasil, pois as pessoas, em geral, entendem o que vem a ser o sistema construtivo quando a obra está concluída. O reconhecimento da sociedade vem da excelência das obras que estão sendo construídas e que irão passar a servi-la. Outra questão é que o prêmio permite que a sociedade perceba o quanto esse sistema construtivo é uma alternativa absolutamente indispensável para atender às demandas por habitação e infraestrutura. Espero, realmente, que a construção industrializada de concreto se firme nas próximas décadas como alternativa para o desenvolvimento do país. Por isso, fazer parte do Prêmio como membro do Júri, desde a sua primeira edição, é um tremendo privilégio. Sou agradecido por essa oportunidade. A crescente versatilidade e diversidade de projetos, ano a ano, faz com que nós, membros do Júri, levemos à ABCIC, periodicamente, propostas de criação de novas categorias, porque há obras que passam a ser representativas.
Poderia comentar sobre sua experiência como primeiro diretor Técnico da Abcic? E, agora, como avalia a evolução da entidade e quais ações foram e são mais relevantes?
R: Em minha época como diretor técnico, a ABCIC estava em fase de estruturação, mas já deu passos importantes para criação e atualização de arcabouços normativos do setor, desde a revisão da ABNT NBR 9062 até a normalização de painéis de concreto, por exemplo. Outro ponto a ser destacado foi a abertura de espaço para todos os portes de empresas (grande, médio e pequeno portes), em reconhecimento à amplitude do mercado. Mas, a maior realização, com toda a certeza, foi a criação do Selo de Excelência ABCIC, ao encontrar os caminhos necessários para iniciar esse processo, a fim de qualificar as empresas e conceder a elas um reconhecimento à sua produção. Foi um dos importantes saltos que tivemos, inclusive contribuindo para ampliar o quadro associativo da ABCIC. Tenho muito orgulho por ter desempenhado esse papel.