Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 12 - dezembro de 2017

ARTIGO TÉCNICO

A Pré-fabricação em concreto e sua relação com o desenvolvimento das Cidades Inteligentes

Alex Abiko, Engenheiro Civil e Professor Titular da Escola Politécnica da USP 
(Universidade de São Paulo) em Planejamento e Gestão Urbana.
Iria Lícia Oliva Doniak, Engenheira Civil, Presidente Executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção industrializada de Concreto). Membro do Presidium - fib  (International Federation for Structural Concrete)


RESUMO: As cidades inteligentes, não há dúvida, se constituem em um novo desafio para os governantes de todos os países, apesar de que a tecnologia, cada vez mais, deva agregar novas possibilidades de comunicação, reduza as distâncias e aumente a produtividade, a grande questão será prover a energia necessária. Neste contexto, desde o ponto de vista engenharia e arquitetura, haverá cada vez mais a necessidade de uma criteriosa análise de materiais, sistemas e tecnologias a serem adotados nos projetos, levando a reforçar que necessariamente os projetos deverão estar em consonância com o desempenho e, portanto devem ser desenvolvidos de forma integrada levando em consideração todos os requisitos e disciplinas. A industrialização é fundamental, pois é uma forma inteligente de construir, pois a racionalização ocorre desde a construção e não apenas ao longo das demais etapas da vida útil da edificação. Outro importante aspecto a ser considerado diz respeito às edificações como unidades autônomas em armazenamento de energia. Extrapolando o conceito, a partir de fontes renováveis de energia as edificações passariam a funcionar também como “baterias”.  O presente artigo visa ressaltar com base em documentos internacionais, num primeiro plano quais seriam as necessidades para as cidades, pois não seria coerente abordarmos tais aspectos sem compreender de forma mais ampla o que as cidades de fato necessitam. A parte o conceito de cidades inteligentes a resiliência é outro aspecto face aos eventos de natureza diversa que requerem atenção. Não entendemos que um único material irá por si só resolver todas as questões: sustentabilidade, desempenho, estética, funcionalidade entre outros. Mas demonstramos que o concreto em sua forma mais racional de utilização, a pré-fabricação tem um grande potencial de atender as demandas propostas. A parte toda esta questão, citamos aspectos importantes relacionados às pessoas, pois entendemos que de nada adiantaria tantos estudos se efetivamente as necessidades básicas da população não forem supridas e que o ponto de partida deve visar o incremento da qualidade de vida das pessoas que habitam numa cidade. Sem infraestrutura adequada não é possível avançar. Para finalizar o artigo, com casos reais, introduzimos três aplicações relacionadas às necessidades básicas e que imprimem maior qualidade de vida aos habitantes, em recentes realizações no Brasil, um país em desenvolvimento em que em paralelo aos grandes desafios impostos pela 4ª Revolução Industrial, em muitos locais, ainda implanta sua infraestrutura.


1. Introdução
As cidades inteligentes podem ser definidas como aquelas em que se utiliza tecnologias digitais para melhorar a infraestrutura urbana e tornar os centros urbanos mais eficientes e melhores de se viver. O CIB tem uma definição mais complexa em que considera a cidade inteligente como aquela que é constituída por um ecossistema dinâmico de cidadãos, autoridades, companhias e pesquisadores, que cooperam para desenvolver produtos e serviços que promovam inovações, com o objetivo de desenvolver cidades atraentes, competitivas e sustentáveis. As cidades nunca estiveram tão populosas. Há 200 anos, apenas Londres, Tóquio e Pequim possuíam mais 1 milhão de habitantes, hoje são 442 metrópoles que ultrapassam os sete dígitos e mais de 50% da população mundial vive nos centros urbanos.
Segundo o relatório “A Projeção da População Mundial: revisão de 2012”, estima-se que a população, que hoje é de 7,2 milhões de habitantes, chegue a 9,6 bilhões até 2050.
O relatório de desenvolvimento humano da mesma entidade indica que 2,2 bilhões de pessoas vivem ou estão em condição de pobreza e que cerca de 1,5 bilhão de pessoas sofre de pobreza multidimensional em 91 países em desenvolvimento, ou seja, passam por privações nas áreas de saúde e educação, sendo que 842 milhões têm fome crônica.
Paradoxalmente, já adentramos na chamada 4ª Revolução industrial, enfatizada no último Fórum Econômico Mundial em Davos, onde tecnologia (digitalização), globalização e desigualdades sociais foram os temas centrais. Segundo Klaus Schuwab, “os governos deverão, portanto, imaginar formas de acabar com o fosso digital dos países em todas as fases de desenvolvimento para garantir que as cidades e os países tenham a infraestrutura básica necessária para criar oportunidades econômicas e prosperidade compartilhada, que é possível pelos novos meios de colaboração, eficiência e empreendedorismo”. 
Como adentrar nesta era quando muitos países, compostos por suas cidades, ainda não possuem sequer uma infraestrutura urbana capaz de atender as suas necessidades básicas? 
As cidades, indiscutivelmente, são as molas propulsoras do desenvolvimento de uma nação, pois a partir delas é que o desenvolvimento econômico e o progresso de uma região são estabelecidos.
Segundo a União Europeia, as cidades são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. O uso estratégico da infraestrutura, dos serviços e da comunicação devem dar respostas as demanda sociais e econômicas da população.
De acordo com o Cities in Motion Index, do IESE, Business School, na Espanha, dez dimensões indicam o nível de inteligência de uma cidade: governança, administração pública, planejamento urbano, tecnologia, meio ambiente, conexões internacionais, coesão social, capital humano e a economia.
Embora as cidades inteligentes estejam fortemente relacionadas com o uso das tecnologias digitais, reduzir o consumo de energia e tornar as operações mais eficientes são dois requisitos fundamentais relacionados à produtividade e sustentabilidade e, portanto transversais, passando por todas as operações realizadas, inclusive pelos métodos construtivos que serão empregados no aproveitamento e desenvolvimento de sua infraestrutura. 
Segundo o arquiteto urbanista Jaime Lerner, reconhecido internacionalmente por ter ainda na década de 90 transformado Curitiba na “cidade modelo”, quando foi prefeito durante três gestões – anos 70, 80 e início dos anos 90 –, a inovação é fundamental, mas nem sempre é tecnológica, pois falta inovação na concepção das cidades. O comprometimento com a qualidade de vida das pessoas e com o meio ambiente é essencial.
Poderíamos desta forma concluir que, ainda que o conceito de “smart cities” leve a questões relacionadas com a era da digitalização e a chamada 4ª Revolução Industrial, um trabalho de base é necessário e está relacionado com os aspectos de concepção das cidades, visando trazer qualidade de vida as pessoas que nela vivem e preservar o meio ambiente.
Tal conclusão vem ao encontro do trabalho da ISO TC 268 (Technical Comitte 68), Sustainable Cities and Communities, que estabeleceu, através da norma técnica ISO 37120:2014 Sustainable development of Communities – Indicators for city services and quality of life, 100 indicadores, sendo 46 essenciais e 54 de apoio, englobando: Segurança, Habitação, Resíduos Sólidos, Telecomunicações, Transportes, Planejamento Urbano, Agua e Saneamento. A ISO TC 268 tem uma comissão espelho no Brasil no âmbito da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que é a CEE 268 (Comissão de Estudos Especial). No Brasil, a ISO 37120:2014 já é uma norma nacional, a ABNT NBR ISO 37120:2017, tendo sido elaborada na CEE 268 e seu processo de tradução e desenvolvimento liderado pelo CBCS (Conselho Brasileiro da Construção Sustentável), em conjunto com o Ministério das Cidades, outras entidades representativas da cadeia produtiva da construção civil. Dela podemos extrair alguns indicadores, como exemplo:
1.1)    Habitação:
% da população urbana morando em favelas (essencial) 
Número de sem-teto por 100.000 habitantes (apoio) 
% de moradias sem títulos de propriedade registrados (apoio)  

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