ABCIC EM AÇÃO
Realizado em formato virtual, o tradicional evento da Abcic contou com a apresentação da economista Ana Maria Castelo, da FGV, que tratou do cenário econômico e perspectivas para este ano; e com a palestra de Luciene Rosa e Hermano Pinto, da Informa Markets, organizadora do Concrete Show South America, que mostrou as atividades previstas para a feira em formato híbrido
Economista Ana Castelo, da FGV, tratou do tema “Perspectivas para 2021: a construção pode ser propulsora da retomada? (Desafios e Soluções)
O anúncio recente de elevação da taxa de juros em 0,75%, acima da maioria das projeções para segurar o movimento de alta da inflação, reverteu o ciclo de baixa, com o patamar mínimo histórico registrado. Mas, de acordo com a avaliação da economista, essa taxa não afeta a construção no momento, porque o impacto da Selic no crédito e financiamento imobiliário é lento.
Sobre o PIB da construção para este ano, a FGV manteve suas projeções, com crescimento da ordem de 3,8%, puxado pela atividade formal (4,1%). “O setor ter sido considerado atividade essencial foi bastante favorável, mas de todo modo ainda nos deixa muito longe do pico alcançado no setor em 2013”, ponderou Ana Castelo, que ressaltou que um dos grandes desafios do setor será a alta de preços dos insumos, que pode afetar as perspectivas positiva e a continuidade de obras. “No final do ano já tinha elevação de custos, havia um cenário provável de arrefecimento nos primeiros meses, porém isso não aconteceu. As commodities estão subindo seus preços em dólar e o câmbio brasileiro está desvalorizado. Como resultado, haverá o repasse de custos às famílias, que ficarão ainda mais pressionadas, complicando todo o cenário”.
Desse modo, Íria indagou a Ana Castelo se a construção pode ser uma força motriz da economia. Ela respondeu positivamente porque o setor possui um efeito multiplicador importante tanto na capacidade de gerar emprego, mas também de fomentar a renda. Além disso, déficits habitacional e de infraestrutura precisam ser sanados, mas para isso é necessário investir. “Hoje o momento é bastante complicado para atrair investidores. Nossa maior incerteza é a nossa capacidade de lidar com a economia”, refletiu.
A economista ainda complementou a resposta dizendo que para ser a força motriz é preciso aumentar o ritmo de vacinação. “Não adianta, neste momento, pensar em médio e longo prazos. Nossa urgência é resolver a pandemia. A imunização em massa é o melhor instrumento de política econômica”, finalizou.
Logo após, Íria mediou um debate entre os participantes, que responderam perguntas dos associados, convidados. As indagações foram feitas por empresários da indústria, fornecedores, profissionais do setor e jornalistas. Duas perguntas estiveram relacionadas ao aspecto político: aprovação das reformas e dos marcos regulatórios.
Para Ana Castelo, as reformas microeconômicas têm o potencial grande de estimular o investimento e o setor da construção, como é o caso do Marco do Saneamento e da Lei do Gás, uma vez que trazem um ambiente de menos incerteza, abrindo o mercado para o investidor. Já as reformas administrativa e tributária, por sua complexidade de jogos de interesse, são importantes, mas é preciso de um contexto mais favorável para chegar a um consenso mais amplo.
Quando perguntada sobre investimentos em programas de concessões e infraestrutura, Ana Castelo respondeu que a pandemia controlada permitirá uma retomada do ritmo de concessões de forma mais acelerada. “Esse ano havia a perspectiva um ritmo mais forte. Mas, as incertezas voltaram e o cenário doméstico é pouco amigável para atrair o investidor. Mesmo assim, ainda não foi sinalizada nenhuma mudança no que havia sido planejado”.
Sobre inovação e tecnologia, a economista reforçou que a cadeia produtiva percebe a importância e a industrialização do setor. Com isso, a crise não mudou esse cenário, com uma agenda de médio e longo prazos se mantendo e ganhando força ao longo do tempo.
Para Íria, a pandemia pode ter contribuído para catalisar esse movimento de inovação e industrialização, porque quando o canteiro de obras se transforma em um local de montagem, há uma menor movimentação de pessoas, diminuindo riscos de acidente e, no caso, de contágio e transmissão da Covid-19. A quantidade maior de profissionais está na indústria, cujo ambiente é controlado, facilitando a implementação de medidas de distanciamento social e higienização constante.
Ela ressaltou ainda que o setor tem se pautado nas medidas e na cartilha publicada pela CBIC no início da pandemia e que de uma forma geral os resultados de todo o setor da Construção Civil estar comprometido com a implementação das medidas sanitárias com rigor, como aponta as recentes pesquisas da ABRAINC, tem sido uma demonstração importante de que o trabalho é fundamental para a subsistência das famílias se conduzido com a devida responsabilidade.
Por fim, Íria comentou também sobre as ações institucionais e a importância das entidades que culminou na interface para com o governo a fim de que a construção civil fosse considerada atividade essencial. “É necessário avançarmos, superando os desafios em união com as entidades parceiras e apoiando a aprovação das reformas fundamentais para o desenvolvimento do país”.
Num balanço geral, o evento repercutiu de forma muita positiva entre os presentes de forma “virtual”, pois num cenário de tantas incertezas, na opinião de muitos, manter um clima de unidade e promover o debate e troca de ideias impacta de forma positiva e motivacional na condução das empresas.