ARTIGO TÉCNICO
O objetivo deste artigo é apresentar um estudo de viabilidade econômico-financeira da aplicação do concreto pré-moldado na construção de reservatórios apoiados a ser implementados em uma empresa de saneamento básico, comparando-o com análise da utilização de estruturas de concreto moldado no local. Foram avaliados os reservatórios com capacidades de 2.000 m³, 5.000 m³ e 10.000 m³ e os resultados indicaram que a viabilidade econômico-financeira da aplicação do concreto pré-moldado nessas obras está diretamente ligada à antecipação do lucro operacional no início do fluxo de caixa, ou seja, a redução do prazo de construção se apresenta como elevado potencial para viabilizar o projeto, uma vez que a antecipação da operação do abastecimento de água possibilita acumular um acréscimo de lucro que não seria possível com a alternativa do reservatório em concreto moldado no local. Além disso, através de um conjunto de análises de sensibilidades, foi possível identificar que a diferença entre os prazos de execução dos dois sistemas construtivos e o lucro operacional da concessionária por unidade de consumo (residência) são as variáveis que causam maior impacto no custo anual do projeto, enquanto as variações da vida útil do projeto e dos custos com manutenção resultaram em menor impacto na viabilidade do investimento.
Em que: n é o tempo de duração do projeto (a vida útil do reservatório em estudo), i é taxa de desconto anual (custo de capital sobre o investimento ou taxa mínima atrativa) e VPLc é o Valor Presente Líquido dos Custos descontados a mesma taxa mínima atrativa, incluindo o investimento inicial e custos de manutenção do reservatório.
OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivo geral elaborar um estudo de viabilidade econômico-financeira da aplicação de reservatórios circulares em concreto pré-moldado no sistema de abastecimento de água de municípios brasileiros, em comparação com análises de utilização da estrutura de concreto moldado no local. Além disso, buscou-se realizar a análise de sensibilidade do estudo de viabilidade em relação às premissas adotadas na pesquisa, visando auxiliar a tomada de decisão de um gestor de projetos do setor de saneamento básico.
METODOLOGIA
O objeto de estudo deste trabalho foi o reservatório apoiado, uma vez que, a partir de revisão bibliográfica internacional, foi encontrada uma quantidade maior desse tipo de reservatório construído em painéis de concreto pré-moldado, assim como exemplares de reservatório semienterrado.
A análise de viabilidade da aplicação do reservatório apoiado em concreto pré-moldado foi desenvolvida através do estudo de viabilidade econômico-financeira entre os projetos de estruturas de reservatórios em concreto moldado no local1 e concreto pré-moldado, para os volumes de 2.000 m³, 5.000 m³ e 10.000 m³. Esses volumes foram escolhidos para análise após contato com a equipe técnica de uma empresa brasileira que atua em parceria com empresa europeia de construção de tanques circulares em concreto pré-moldado protendido. Os técnicos dessa empresa informaram que possuíam sistema de fôrmas para produção de painéis de reservatórios com capacidade a partir de 2.000 m³.
Nesta pesquisa, avaliou-se a viabilidade da aplicação dos reservatórios apoiados, considerando as alternativas de construção da estrutura em concreto moldado no local e concreto pré-moldado com vida útil distinta para cada sistema construtivo. As seguintes situações foram consideradas para análise:
Deve-se ressaltar que, tanto para a estimativa do prazo quanto estimativa do custo de execução, foram utilizadas como referência somente as etapas de execução após a fundação, já que esta é uma etapa comum em ambos os sistemas construtivos. Não se avaliou, no entanto, a possibilidade de redução de cargas e custo da fundação com o uso dos painéis pré-moldados, pois deveria ser executada a sondagem do solo local, o dimensionamento e projeto da fundação a ser implantada para sustentar o reservatório e isso pode variar significativamente em cada caso.
O Valor Presente Líquido dos Custos (VPLc) e o Custo Anual Equivalente (CAE) de cada fluxo de caixa foram calculados com a taxa de desconto (i) adotada como sendo a taxa mínima de atratividade (TMA) para a empresa concessionária de saneamento básico, ou seja, a weighted average cost of capital (WACC) ou custo médio ponderado de capital. Segundo Neto et al (2008), as condições com que a empresa capta seus recursos financeiros no mercado de capitais estabelece esse custo de capital. O custo médio ponderado de capital (WACC) pode ser interpretado como o retorno mínimo exigido na avaliação econômico-financeira de fluxos de caixa de investimentos e seu valor é dado em porcentagem (%), sendo uma variável característica de cada empresa. O valor de custo de capital adotado na análise desta pesquisa foi de 10% ao ano, que representa um valor hipotético, porém dentro da realidade da média das empresas do setor de saneamento do país.
Com os dados de entrada definidos, foram então calculados os valores de CAE para cada situação (estrutura construída em concreto moldado no local e estrutura de painéis de concreto pré-moldado) e cada volume (capacidades de 2.000 m³, 5.000 m³ e 10.000 m³). É importante destacar que, no caso do concreto pré-moldado, foram feitas as análises de consideração dos custos do transporte dos painéis a uma distância de 1.400 km e análises desconsiderando os custos com o transporte, na intenção de se avaliar o impacto desse item na análise de viabilidade.
Através do levantamento de empresas brasileiras que possuíam em seu catálogo um sistema de construção de reservatórios apoiados em concreto pré-moldado, encontrou-se uma empresa que encaminhou informações do orçamento de uma proposta comercial para os volumes de reservatórios avaliados nesta pesquisa. As informações disponibilizadas, conforme Tabela 1, resumiram-se em preços dos reservatórios, prazos de execução dos painéis e montagem do reservatório e a porcentagem de cada etapa na composição do preço final do reservatório, considerando a distância relativa ao transporte sendo de aproximadamente 1.400 km.