Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 35 - agosto de 2025

PONTO DE VISTA

Forte ligação entre a pesquisa, projeto e produção tem impulsionado a evolução do pré-fabricado de concreto

Eduardo Julio , Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa


O engenheiro civil Eduardo Julio é professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa, presidente do Grupo Português de Betão Estrutural (GPBE) e membro vitalício honorário e fellow da International Federation for Structural Concrete (fib), sendo integrante de várias comissões, coordenador de três grupos de trabalho, e editor-chefe associado da Structural Concrete, a revista da fib.

Foi docente da Universidade de Coimbra (UC), entre 1990 e 2011, antes de se transferir para o IST. Recebeu por várias vezes o prémio ‘Professor Excelente’ do IST. Desenvolveu 35 projetos de P&D&I, com financiamento competitivo ou apoio direto da indústria, num total de mais de 11 milhões de euros. Orientou 16 teses de doutoramento concluídas e 65 dissertações de mestrado concluídas. É autor de mais de 500 artigos publicados em revistas e em atas de conferências internacionais e nacionais. Foi incluído na lista dos "2% Cientistas Mais Influentes do Mundo", elaborada pela Universidade de Stanford, nas categorias "Carreira" e "Anual" em vários anos.

Sua pesquisa tem se focado no desenvolvimento de novos concretos e produtos inovadores para o setor da pré-fabricação em concreto. Integrou comissões de trabalho nacionais sobre o Eurocódigo 2: Projeto de Estruturas de Concreto. Atualmente, lidera um projeto de grande dimensão na área da construção modular préfabricada de concreto, com as empresas VIGOBLOCO e CIMPOR, financiado pelo PRR (Plano de Recuperação e Resiliência).

Recentemente, Julio veio ao Brasil à convite da Abcic para ser um dos keynote speakers do 4º Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto Pré-Moldado (PPP). Em entrevista para a Revista Industrializar em Concreto, Júlio comenta sobre a importância do evento, da integração entre pesquisa, projeto e produção e sobre sua atuação na fib, incluindo a organização do 7th fib Congress 2026. Faz também uma avaliação sobre o mercado da construção modular pré-fabricada, seus desafios e oportunidades. “A construção modular será certamente uma tendência global num futuro próximo, por diversos motivos. No caso da Europa, há uma falta generalizada de mão de obra. A transferência da produção do canteiro para as fábricas de pré-fabricação ajuda substancialmente a mitigar esse problema.”

A seguir, estão os principais pontos abordados por ele:

A construção modular é um conceito que já existe há algum tempo.  Poderia conceituar e estabelecer a relação da construção modular com a pré-fabricação em concreto?

Com certeza. O termo “pré-fabricação” é usado por oposição à construção convencional no local. No caso da pré-fabricação em concreto, os elementos estruturais – lajes, vigas, pilares e sapatas – são produzidos em fábrica, transportados para o local e montados, permitindo a execução da estrutura de forma muito mais rápida. Já o termo “construção modular” refere-se a um tipo de construção baseado em módulos. Os componentes são pré-fabricados e podem ser reunidos e até mesmo finalizados na fábrica, incluindo instalações, caixilhos, pavimentos, revestimentos, etc., e, posteriormente, transportados para o local. Em alternativa, os módulos podem ser transportados parcialmente acabados sendo finalizados no canteiro de obras.

A construção modular pré-fabricada em concreto já foi utilizada no passado, mas enfrentou desafios significativos que contribuíram para sua descontinuidade. Um deles foi o caráter repetitivo e pouco atrativo dos projetos arquitetônicos. Outro teve a ver com o desempenho inadequado das ligações, que levou a acidentes com grande repercussão internacional, com por exemplo, o caso do Ronan Point, em Londres (Inglaterra), comprometendo a credibilidade da construção pré-fabricada em concreto. Atualmente, o estado da técnica é muito mais avançado e todos os fatores relevantes podem e devem ser considerados no projeto. Além disso, há uma forte ligação entre a pesquisa (nas universidades), o projeto (nos escritórios de engenharia) e a produção (nas pré-fabricadoras), o que tem impulsionado a evolução do setor. No 4º PPP, pude testemunhar o enorme dinamismo e o papel essencial que a Abcic desempenha neste contexto, ao mobilizar e articular esses atores.

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