PONTO DE VISTA
Na sua visão é uma tendência global? Quais os motivos para que atualmente esteja em evidência?
Estou convencido de que, se ainda não é, a construção modular será certamente uma tendência global num futuro próximo, por diversos motivos. No caso da Europa, há uma escassez generalizada de mão de obra. A transferência da produção do canteiro para as fábricas de pré-fabricação ajuda substancialmente a mitigar esse problema. Pode-se questionar essa afirmação, já que as fábricas demandam mão de obra. No entanto, a vantagem reside na facilidade de automatização dos processos em ambiente fabril. Atualmente, já existem pré-fabricadoras totalmente automatizadas.
Outra razão tem a ver com o tempo necessário para construir edifícios. Ao transferir parte significativa da produção para a fábrica, o tempo de execução no local reduz-se consideravelmente. A utilização de módulos prontos, como banheiros e cozinhas completamente acabados, contribui decisivamente para esse ganho de tempo. Isso traz impactos muito positivos, especialmente do ponto de vista econômico, mas também ao nível da eficiência e sustentabilidade.
Poderia fazer uma avaliação do mercado de construção modular em Portugal e na Europa?
Não disponho de dados estatísticos que me permitam fazer uma avaliação quantitativa rigorosa, mas conheço vários casos em diferentes países que permitem traçar um retrato confiável. Em Portugal, por exemplo, já existem duas empresas totalmente automatizadas – ou seja, concebidas com esse objetivo – e outras que estão a investir na automação de diversos processos.
Relativamente à construção modular, várias empresas estão apostando fortemente nessa solução, adotando abordagens distintas. Algumas especializam-se na produção de módulos específicos, como banheiros e cozinhas, enquanto outras optam por uma modularização quase total. Um exemplo notável são as novas residências estudantis, atualmente construídas com módulos totalmente pré-fabricados (quarto, banheiro, quitinete, sala), transportados já acabados e montados in situ.
Quais são os principais avanços da construção modular pré-fabricada na última década?
Diria que houve avanços muito significativos na construção em geral, com reflexos diretos na construção modular. A modelagem BIM (Building Information Modeling) é, sem dúvida, uma das inovações mais relevantes, ao permitir a redução de erros e uma melhor integração entre as etapas de projeto e execução.
A robótica e a automação, especialmente no setor da pré-fabricação, têm ganhado cada vez mais importância, tanto pela escassez de mão de obra qualificada como pelo impacto positivo na produtividade, qualidade e redução de resíduos. Além disso, há um esforço crescente no desenvolvimento de novos materiais e soluções mais sustentáveis. A eficiência energética e a preocupação com a reutilização e reciclagem de materiais também são tendências marcantes. Todos estes avanços convergem para fortalecer o papel da construção modular como solução técnica, econômica e ambientalmente vantajosa.
Em sua análise, quais são os grandes desafios para esse setor em âmbito global?
Os desafios são diversos. Um dos principais é a necessidade de responder a diferentes exigências de qualidade e conforto, que variam conforme os mercados, e as condições geográficas – como a atividade sísmica ou as amplitudes térmicas.
Questões relacionadas com normalização, regulamentação e burocracia são igualmente críticas. O investimento inicial é outro fator a considerar, uma vez que uma solução totalmente automatizada exige planejamento e implementação desde o início. O transporte, sobretudo de módulos já acabados em fábrica, representa também um desafio logístico e econômico importante. Superar esses obstáculos exige inovação, cooperação e um planejamento integrado desde a fase de concepção.