PONTO DE VISTA
Mesmo diante de desafios, existem diversas oportunidades para a construção modular para os próximos anos. Quais são as principais, em sua avaliação?
As oportunidades são muitas: responder ao déficit habitacional em áreas urbanas, especialmente em cidades com forte atividade turística; construir rápido, a custos acessíveis e com qualidade, em zonas afetadas por calamidades naturais (sismos, inundações, furacões, pandemias) ou causadas pelo homem (guerras); além disso, há chance de desenvolver soluções otimizadas (em arquitetura, flexibilidade, sustentabilidade, eficiência, custo e tempo de construção), para diversas tipologias, como moradias unifamiliares, edifícios de habitação, residências estudantis, escritórios, hospitais, entre outros.
Como integração entre a academia e o setor produtivo pode contribuir para o desenvolvimento da pré-fabricação em concreto?
A colaboração de todos os atores é essencial. A academia pode estudar soluções para problemas específicos, ajudando a otimizar produtos e processos, além de contribuir para o desenvolvimento e melhoria da regulamentação. Projetistas também devem estar envolvidos, mas as empresas de pré-fabricação precisam liderar o processo. Associações, como a Abcic, são fundamentais por terem redes de colaboração eficazes entre os diferentes stakeholders.
O professor está envolvido em um projeto disruptivo, o R2UTechnologies. Quais são as contribuições desse pacto de inovação para a construção civil em Portugal, mas também no mundo?
O R2UTechnologies, financiado em quase 100 milhões de euros, via PRR – Plano de Recuperação e Resiliência atribuído pela União Europeia a Portugal, com 24 empresas e 21 universidades envolvidas, é uma oportunidade única para desenvolver o conceito de Construção Modular. No Instituto Superior Técnico, foi criado um subprojeto focado em Construção Modular Pré-Fabricada em Concreto, em parceria com a empresa de pré-fabricação Vigobloco, a cimenteira Cimpor e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, para reinventar o conceito, considerando todos os fatores relevantes, incluindo aqueles que, no passado, o fizeram fracassar.
Quais são os diferenciais desse projeto e sua importância para a construção civil?
Atualmente, nada pode ser esquecido ou passado para segundo plano. As soluções precisam ser verdadeiramente integradoras. Assim, o nosso projeto está sendo desenvolvido num conjunto de 13 atividades que se interligam: arquitetura modular adaptável e flexível; elementos estruturais que facilitem montagem e desmontagem para reutilização ou reciclagem; ligações estruturais seguras, mesmo em zonas de forte sismicidade; concretos com baixa pegada ecológica, mas com alto desempenho mecânico e durabilidade; segurança contra incêndios; instalações hidráulicas e elétricas aplicadas em fábrica; conforto térmico e acústico; além do uso de BIM e digitalização para apoiar a implementação completa e integrada de todas as vertentes referidas. O objetivo é ambicioso: mudar o paradigma da construção tradicional para a construção modular pré-fabricada em concreto.
As mudanças climáticas têm impactado todos os continentes. Como a construção modular pré-fabricada pode contribuir para mitigar essa questão, reduzindo o impacto ambiental das obras?
Como destaquei, a sustentabilidade está integrada em todas as etapas do nosso projeto, que assume o compromisso firme de reduzir o impacto ambiental do conceito que estamos a reinventar. Isso envolve o uso de concretos ecoeficientes, a diminuição do volume de material consumido e a minimização de resíduos. Além disso, incorporamos desde o início o conceito de desmontagem para facilitar a reutilização e reciclagem. Também há especial atenção ao conforto e à eficiência energética das construções. A utilização do BIM permite avaliar e comparar os impactos ambientais de diferentes soluções, garantindo escolhas mais sustentáveis. Todos esses fatores, combinados, contribuem significativamente para mitigar o impacto ambiental do setor da construção.