PONTO DE VISTA
O pré-fabricado de concreto oferece inúmeros benefícios e também possui aspectos únicos, como as ligações. Assim que a indústria produz um elemento pré-fabricação, haverá ligações para a montagem da estrutura. Então, quando se pensa em desempenho e se compara com a estrutura moldada in-loco, os comportamentos são diferentes e assim que deve ser. Para a área de sismos, foi desenvolvido um sistema, no qual é colocado um cabo de ponta a ponta no elemento pré-fabricado de concreto, que permite seu balanço em situações de sismos, dissipando a energia, controlando os danos. Foi possível ter esse controle já no projeto. E essa técnica abriu um novo caminho para aprimorar o uso de estruturas pré-fabricadas de concreto em área de sismos.
Poderia detalhar seu envolvimento com o programa do PCI?
O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, é um mercado importante para o setor da construção. Contudo, por ser uma área com sismos, o pré-fabricado de concreto não era um sistema muito utilizado, entre as décadas de 1980 e 1990. Então, o PCI negociou com as autoridades locais para desenvolver o programa na região. Particularmente, não estive presente nas duas primeiras etapas, que consistiram em avaliar conceitos e encontrar soluções para que elas fossem aplicadas. A segunda fase consolidou todo o conceito para que na fase três, na qual participei, o sistema com pós-tensão não aderente, fosse colocado em prática, por meio da construção de edifício em pré-fabricado de concreto, na cidade de San Diego. Fiquei responsável por fazer todos os testes em uma parte do edifício. Esse programa chamou atenção nos Estados Unidos e no exterior. A Europa, a América Central, a Oceania ficaram interessados nos testes realizados. Como resultado, todas os conceitos aplicados foram disseminados, contribuindo para uma maior aplicação do pré-fabricado de concreto em construções em área de sismos nessas regiões. É importante ressaltar que fizemos inúmeros testes para comprovar os benefícios do sistema construtivo.
Qual é o panorama do mercado americano de pré-fabricados de concreto?
Nos Estados Unidos, o setor de pré-fabricados de concreto cresceu de forma sustentável e está consolidado. O mercado de pontes, por exemplo, é um dos destaques, nesse sentido. O país conta com mais de 200 mil pontes e as autoridades locais e as agências governamentais compreendem os benefícios do sistema construtivo para manutenção, reforma e para novas pontes. Em edifícios, o setor tem potencial para evoluir, pois parte dos responsáveis pelas obras em edifícios preferem utilizar tecnologias antigas, o que é um desafio no sentido de inovar e usar novas tecnologias. Contudo, o sistema construtivo vem crescendo em participação em áreas como energia, além de shopping centers e empreendimentos industriais e comerciais.
Como avalia o mercado de pré-fabricado de concreto no mundo?
Em minha opinião, o sucesso do pré-fabricado de concreto está ligado às construtoras, à indústria do concreto e aos governos. Na China, por exemplo, a política governamental é um fator importante e tem impulsionado o uso do sistema construtivo, ainda mais com os objetivos de diminuir as emissões de gases de efeito estufa em cidades maiores. Na Nova Zelândia, os dois primeiros setores – construtoras e indústria de concreto – fomentam o mercado.
Como as novas tecnologias contribuem para o avanço da engenharia e da construção civil?
Quando pensamos em tecnologias, podemos fazer algumas divisões para entender como elas vêm beneficiando a engenharia e a construção. Na área de tecnologia digital, o Building Infomation Modeling (BIM), por exemplo, tem permitido que as construtoras tenha mais eficiência e mais agilidade e consigam construir de acordo com os cronogramas, diminuindo atrasos de projeto. A automação dos processos e a robótica, incluindo inteligência artificial, são bastante comentadas, mas ainda há um campo a ser explorado. É importante refletir que os consumidores estão abertos à inovação e buscam conhecer os benefícios de se construir mais rápido e com maior eficiência. Nos Estados Unidos, temos o programa ABC (Accelerated Bridge Construction), que tem trazido resultados importantes para a população norte-americana. Atualmente, esse metodologia está evoluindo e estão sendo realizados estudos para seu aprimoramento, o que eu chamo de ABC 2.0. Tanto o Departamento de Transportes do Iowa como o da Califórnia têm estudado novos materiais. O uso do UHPC, por exemplo, vai permitir construir de forma bem diferente do que foi feito até o momento. Poderemos criar produtos para uma engenharia diferente. São os novos materiais que farão o ABC avançar.