PONTO DE VISTA
3º Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção reuniu em 2013 mais de 200 profissionais e estudantes
O Sr. foi responsável pela formação de importantes especialistas na área de pré-fabricado do concreto, que atualmente contribuem para a evolução do setor no Brasil. Como o Sr. avalia as contribuições desses profissionais? Qual é o sentimento por fazer parte dessa importante história?
É muito gratificante ver ex-orientados de pós-graduação tornaram-se docentes e darem continuidade aos estudos e desenvolvendo pesquisas na área. Mas, alguns deles têm feito isso de forma mais concentrada, como o professor Marcelo Ferreira, na UFSCar, e o professor Daniel Araújo, na UFG. Eles concluíram o doutorado na faixa de 15 a 20 anos, quando a linha de pesquisa já havia se consolidado, e têm desenvolvido pesquisas e prestação de serviços de grande importância para o setor no Brasil, com linhas próprias de atuação. Naturalmente, isso dá uma satisfação muito grande, mas também se trata da continuidade do processo. Eu recebi os ensinamentos da geração anterior, agreguei com minha experiência e passei para a nova geração. E, assim, por diante.
Quais as características para o estudante de engenharia desenvolver pesquisas na área de pré-fabricado?
Como em outras áreas, o aluno precisa ter vontade, persistência, curiosidade e não ter medo de errar. Considero importante, ainda: enfrentar os desafios, não temer sair da zona de conforto e querer inovar. É relevante também buscar informações em diversas áreas de conhecimentos, pois estudos relacionados ao concreto pré-moldado estão espalhados em diversos periódicos e publicações. Para os estudantes da área de projeto de estruturas, é fundamental ter uma formação sólida em mecânica, mecânica dos sólidos (resistência dos materiais) e em resistência do concreto estrutural (concreto armado e protendido).
Qual é a importância da participação da Abcic, em conjunto com a Abece, na fib e em suas comissões para o desenvolvimento tecnológico do pré-fabricado de concreto no Brasil?
A participação da Abcic e da Abece na fib tem uma grande importante para o desenvolvimento tecnológico do Brasil na área do concreto estrutural, em particular para o setor de pré-fabricados. A Abece, representada pelo engenheiro Fernando Stucchi, tem tido uma participação significativa nos códigos modelos da fib. No MC-10 (o último código modelo da fib) já houve uma presença marcante. E agora, no próximo, o MC-2020, o Fernando já iniciou a coordenação da participação do Brasil. Esta atividade relacionada ao MC é importante, pois leva ao cenário internacional a experiência nacional e, por outro lado, traz a experiência internacional ao cenário nacional. A Abicic, mediante a engenheira Iria Doniak, tem tido também um importante papel na inserção do Brasil na comunidade internacional. A eleição da Íria para o Presidium da fib, no ano passado, reflete a importância da ABCIC, e do Brasil, dentro dessa federação. Essa participação tem resultado em importante contribuição ao setor de pré-fabricados. As visitas organizadas pela Abcic às fabricas no exterior e a vinda de renomados profissionais em nível internacional nos seminários e cursos no Brasil são exemplos do resultado desta participação da Abcic na fib.
Qual é a principal contribuição da Comissão 6 da fib para o desenvolvimento da pré-fabricação no mundo?
A comissão 6 reúne profissionais do meio acadêmico e do setor produtivo, de forma bem equilibrada, com grupos de trabalho que focam temas de interesse para a pré-fabricação. A maior contribuição são as publicações geradas nos GTs e depois aprovadas no âmbito da comissão, sendo disponibilizadas na forma de boletins. Entre os destaques estão: o Boletim 43 sobre ligações (Structural connections for precast concrete buildings) e o Boletim 74, que seria o manual do concreto pré-fabricado (Planning and design handbook on precast building structures), distribuído no Brasil pela ABCIC. Embora o assunto ainda receba pouca atenção no país, há o recém-laçando Boletim 78 sobre aplicações em áreas sujeitas a sismos (Precast concrete buildings in seismic areas).
Quais são seus planos para os próximos anos?
Pretendo continuar com as atividades acadêmicas, como professor sênior do departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, em orientações na pós-graduação no programa de Engenharia Civil (Estruturas), nas aulas nas disciplidas de concreto pré-moldado (uma de pós-graduação e uma de graduação optativa do curso de Engenharia Civil), e em orientações associadas com professores mais novos. Atualmente, estou atuando como co-orientador em duas pesquisas em nível de doutorado relacionadas ao concreto pré-moldado e UHPC, nas quais participo, principalmente, com a minha experiência nas partes experimental e do concreto pré-moldado. Estou preparando um curso online de concreto pré-moldado, com dois níveis: um básico para alunos de graduação e outro avançado. Tenho a intenção de publicar um livro sobre pontes de concreto, com base em material didático feito em co-autoria com o professor Toshiaki Takeya, de saudosa memória. Pretendo-me dedicar ainda à viabilização de um sistema construtivo para paredes e lajes, denominado “Sistema construtivo com componentes pré-fabricados à base de painéis alveolares de material cimentício”. E viajar, pois tenho muitos lugares para conhecer ainda.
Quais são as novidades da segunda edição de Concreto Pré-Moldado: Fundamentos e Aplicações, a ser lançada em agosto?
A primeira edição foi lançada em 2000 e, naturalmente, precisava de uma revisão, uma vez que alguns assuntos ficaram desatualizados, em função das pesquisas desenvolvidas, como, por exemplo, o cálculo de cálice de fundação. Outro ponto foi a incorporação de aspectos que vêm ganhando importância, como a sustentabilidade. Dois capítulos – projeto de elementos e estruturas e ligações – foram reordenados, objetivando concatenar melhor as partes. O livro também cresceu, com ampliação sobre produtos pré-moldados, além da criação de anexos: um com exemplos numéricos, um com uma introdução ao concreto protendido e dois sobre pesquisas desenvolvidas junto ao programa de pós-graduação. Na parte das aplicações, acrescido àquelas dos Estados Unidos e da Europa que estavam na primeira edição, estão vários exemplos do Brasil, resultados dos encontros “PPP” (Pesquisa-Projeto-Produção) e do fato de ter havido maior divulgação, após a primeira edição. Neste sentido, merece destacar as publicações da ABCIC, em particular a revista Industrializar em concreto. Está previsto também um webseminário pela editora Oficina de Textos que publica o livro, em setembro, no qual haverá um detalhamento do conteúdo da nova edição. Fica o convite aos interessados para assisti-lo.