ABCIC EM AÇÃO
Entrada em vigor da norma de painéis de parede de concreto pré-moldado e da revisão da norma de estruturas pré-moldadas de concreto trazem ainda mais confiabilidade para as estruturas industrializadas de concreto
Mesa-Redonda, com a presença de Maria Salette Weber, do Ministério das cidades e palestrantes, promove importante debate.
Na sequência, o professor Marcelo de Araújo Ferreira, do Núcleo de Estudo e Tecnologia em Pré-Moldados de Concreto da Universidade Federal de São Carlos (NETPRE/UFSCar), contou sobre sua experiência como pesquisador, fez uma análise da estabilidade de estruturas pré-moldadas, com foco no efeito da consideração das ligações semirrígidas, e trouxe considerações acerca da revisão norma. “Fora do Brasil, tudo o que temos em literatura está ligado às questões com ênfase em regiões sísmicas”, disse. Assim, o NETPRE deve lançar um livro sobre estabilidade global, com informações e conteúdo técnico a respeito do assunto.
Segundo Ferreira, a ABNT NBR 9062 levou conta o que já estava em uso em outros lugares: “A tradição do PCI é o método de componentes, que busca o equilíbrio das forças internas na ligação; já o manual da fib é voltado para tecnologia do concreto e a interação com outras regiões. Analisando os resultados experimentais, vi que era impossível usar apenas o método de componentes para fazer o cálculo semirrígido”, comentou o professor. As atualizações da NBR 9062 trouxeram também questões de deformações da estrutura, uma vez que é sempre aconselhável projetar e detalhar as ligações de modo a evitar rupturas frágeis no caso da ligação ser atingida por forças acima daquelas previstas no projeto.
Ele ainda explicou que, para a norma brasileira, é utilizado o conceito de rigidez secante antes do início do escoamento, situada, portanto, no limite da deformação plástica e que não reconhece o achatamento provocado no momento da rotação. No caso de regiões sísmicas, é utilizado nos cálculos o valor da rigidez última no momento de rotação. Segundo o professor Marcelo, “o centro de rotação está bem definido na norma brasileira, assim como o fator de rigidez aplicado na viga, seja ela concreto armado ou protendido; tudo isso ficou muito mais claro, inclusive para aplicação em softwares de projetos”.
Ainda sobre a nova versão da NBR 9062, Ferreira explica que “a questão principal da ligação semirrígida é a ampliação do deslocamento da estrutura, portanto, o mais importante do estudo foi oferecer uma segurança maior”. Outra novidade é o estímulo a novas pesquisas: “O capítulo sobre projeto, por exemplo, prevê projetos acompanhados por experimentação, logo permite que os projetistas melhorem as ligações”.
Sistemas habitacionais
Os conceitos e perspectivas de desenvolvimento da ABNT NBR 16475:2017 foram trazidos pelo engenheiro Augusto Pedreira de Freitas, coordenador da Comissão de Estudos da ABNT NBR 16475. “Um sistema que não tem normalização, não tem garantia, afetando sua confiabilidade, o que acarreta na insegurança de alguns construtores e/ou agentes financiadores de obras”.
Ele conta que o principal objetivo da busca por uma norma específica é difundir o uso do sistema construtivo de painéis, de forma segura e com condições que permitam aos profissionais da área desenvolver projetos e produzir painéis. “Para tanto, nós nos preocupamos em utilizar experiências nacionais e internacionais, de forma a reduzir as possibilidades de insucesso. Outro ponto que focamos, ao longo do trabalho de elaboração da nova norma, foi na evolução do sistema. Não podíamos “engessá-lo”. Logo, foi proposto, no decorrer do texto, requisitos para que novos desenvolvimentos sejam utilizados de forma consciente”, afirmou.
Ele lembrou ainda que em relação ao desempenho, no que tange a ABNT NBR 15575, aplicável a edificações habitacionais a nova norma de painéis dá toda a cobertura necessária para assegurar o desempenho estrutural, mas que, no entanto desempenho à estanqueidade, térmico, acústico, que dependem dos subsistemas a norma remeteu diretamente a ABNT NBR 15575.
Freitas trouxe, também, uma perspectiva de futuro em relação aos benefícios com essa nova norma. “Sua entrada em vigor pode contribuir para que mais professores universitários tenham o conhecimento do sistema, para que haja um maior consumo e maior produção. Com isso, haverá uma maior disponibilidade de conexões, com redução de custos, e também o desenvolvimento de projetos mais complexos e a evolução tecnológica do setor”.
Após essa palestra, os engenheiros Luciana Alves de Oliveira, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Marcelo Luis Mitidieri, do Instituto Falcão Bauer, falaram sobre o desempenho de sistemas habitacionais produzidos com painéis pré-fabricados de concreto e que já possuem DATECs emitidos, trazendo desta forma a experiência acumulada do setor e a comprovação do atendimento à norma de desempenho.
Luciana explicou sobre o funcionamento do Sistema Nacional de Avalições Técnicas (SiNAT), dentro do PBQP-H, para a obtenção do DATec, documento que comprova a qualidade dos produtos, emitido pelo Ministério das Cidades. “O SiNAT harmoniza a forma de realizar as avaliações, por meio de diretrizes, requisitos, métodos e critérios. E é essa avaliação que traz as informações de desempenho”, ressaltou. Entre as etapas analisadas pelos organismos aprovados pelo MCidades estão a avalição de projeto, a caracterização dos principais materiais e componentes, os protótipos e os ensaios.
Na análise de projetos, são avaliados como os painéis são fabricados e todas as soluções construtivas de interface, como por exemplo, juntas entre painéis, juntas entre esquadrias, as interfaces com instalações, entre outros. “Eles são importantes para a avaliação de desempenho porque preciso entender os detalhes e montar os ensaios. Assim, não realizamos a avaliação do painel, mas sim do sistema de paredes, composta por painéis e suas interfaces”, explanou Luciana.
Após a caracterização dos materiais e componentes que compõem o sistema de paredes, vem o ensaio do desempenho e o acompanhamento da montagem do protótipo. “É nesse momento que iremos verificar os procedimentos de execução, que influenciam muito as questões de desempenho”, afirmou Luciana. “Todas as informações de desempenho são necessariamente atreladas às características dos materiais e componentes e os detalhes de montagem. É uma engrenagem”, acrescentou.
Em caso de mudanças no sistema de juntas ou na resistência do concreto, Luciana revelou que a avaliação do desempenho pode até ser válida, mas que não há como atestá-la. “Algumas modificações feitas nos componentes levam a necessidade de realização de novas análises. Mas, é importante que tudo o que for feito em laboratório precisa representar de fato o que vai ser feito na prática”.
Os principais DATecs para o sistema de painéis gerenciados pelo IPT são o maciço, o nervurado e o misto com bloco cerâmico. Na avaliação, são consideradas a segurança da estrutura, a segurança contra incêndio, a estanqueidade, a isolamento acústico e desempenho término. Há ainda a análise sobre durabilidade e manutenibilidade. “A nova norma suporta a avaliação de desempenho estrutural do ponto de vista estado limite último e de serviço. Outros requisitos não constam, daí busca a ABNT NBR 15.575 e Diretriz SiNAT 002”, disse Luciana.
Mitidieri trouxe um estudo de um caso do sistema de painéis pré-fabricados mistos de concreto armado e blocos cerâmicos, sem função estrutural, da Precon Engenharia, mostrando a evolução do sistema construtivo desde o início dos estudos, em 2010, passando pela emissão da primeira DATec (Nº 12), em julho de 2012, até a quarta DATec (Nº 12-C), aprovada em março de 2017.
Para a primeira DATec, as verificações e ensaios de comprovação do desempenho seguiram a Diretriz SiNAT nº 02, rev. 01. Foram realizadas análises das memórias de cálculo de edifícios para quatro pavimentos e para oito pavimentos, impactos de corpo mole, impactos de corpo duro, transmissão de esforços por impactos de porta, ensaios de peças suspensas, de compressão excêntrica e de flexão, além dos ensaios de estanqueidade, de desempenho término e de desempenho acústico.
Segundo Mitidieri, após a emissão da DATec, foram feitas auditorias semestrais de manutenção, originando a minuta do DATec SiNAT Nº012-A. “Foi interessante ver não apenas o que está sendo executado, em especial, a questão do controle de qualidade dentro da fábrica e das obras, mas também acompanhar a evolução durante a produção e a montagem. É possível perceber as mudanças e as melhorias que podem ser incorporadas ao sistema. Afinal, quem vai propor soluções e reinvindicações de melhoria é sempre a indústria”.
Neste ponto, Mitidieri comentou sobre duas mudanças: no processo produtivo os painéis são revestidos em uma das faces com concreto fck=25MPa (espessura 15mm); e para o cobrimento das armaduras, as treliças metálicas empregadas nas nervuras de concreto dos painéis ficam protegidas por uma capa de concreto com espessura de 25mm na face interna e de 45mm na face externa. “Esses dois exemplos mostram que o sistema foi saindo de um processo artesanal para a industrialização dentro da fábrica”. Em setembro de 2014, a Precon obteve a segunda DATec (Nº12-A).
Entre a segunda e terceira DATec, houve a segunda revisão da diretriz nº 002 do SiNAT, que trouxe a utilização do concreto auto adensável (CAA). “Ele empregado nas nervuras e na camada superior dos painéis pré-fabricados mistos apresenta resistência característica a compressão (fck) igual a 25MPa (classe C25), espalhamento classe SF2 (660mm a 750mm), massa específica de 2307kg/m3 e fator água/cimento (a/c) de 0,52. A resistência mínima a compressão do concreto, especificada para a desenforma após 16h da concretagem é de fck=15Mpa", detalhou Mitidieri.
Para a quarta DATec, a solicitação da Precon foi a análise do sistema para edifícios multifamiliares até 16 pavimentos. “Um fator importante para a obtenção de seu quarto documento foi o estudo feito pela empresa, a cautela com que foi tratado o assunto, afinal não poderia colocar em escala nacional um sistema que tivesse problemas”, disse.
Outro fator importante foi o envolvimento de toda a empresa em relação à qualidade e em relação à evolução do sistema construtivo. “Para a industrialização ocorrer, é preciso ter normas e fundamentos técnicos, além do envolvimento das pessoas, das entidades setoriais e do governo. Assim, tudo será feito com segurança e qualidade”, frisou Mitidieri.
Maria Salette contou que o SINAT foi instituído para que o financiamento e as compras do poder público pudessem ocorrer, uma vez que há licitações e concessões que duram várias décadas. “Era necessário garantir o desempenho”. Segundo ela, o SINAT também é aplicado agora para os sistemas convencionais e as diretrizes estabelecidas harmonizam as avaliações e a qualidade das soluções usadas na engenharia. “Elas (diretrizes) servem de padrão ou regra de acompanhamento”, concluiu.
O Seminário ABCIC – Normalização, Eficiência e Desempenho das Estruturas e Painéis Pré-Moldados de Concreto: O impacto e a entrada em vigência das novas normas aplicáveis teve como patrocinadores fornecedores: ArcelorMittal, GCP, Gerdau, Lenton, TQS e Votorantim Cimentos. Já as fabricantes pré-fabricadoras patrocinadoras são Cassol, IbPré, Incopre, Leonardi, Premodisa, Protendi e Rotesma. Os projetistas de estruturas patrocinadores são Pedreira Engenharia, Zamarion e Millen Consultores e Fhecor do Brasil Engenharia. Além disso, a Abcic contou com o apoio institucional da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece), Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Associação Brasileira da Indústria de Materiais para Construção (Abramat), Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), Instituto de Engenharia (IE), Sindicado da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP), Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Cimento (Sinaprocim), Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e o NetPre – UFSCar.