PONTO DE VISTA
Nesse sentido, como a tecnologia pode contribuir para reduzir o impacto ambiental do setor da construção?
Sem mudança de tecnologia não existe qualquer possibilidade de reduzir os impactos ambientais, particularmente a redução da pegada de CO2, de energia, resíduos, uso de recursos materiais e água. Tivemos um processo incrível de otimização dos projetos e canteiros nos últimos 20 anos. E agora estamos estagnados – o que é bem visível na indústria de cimento, onde a pegada de CO2 está estabilizada há pelo menos 20 anos. Avanços significativos acontecem somente com mudança da base tecnológica, com inovação.
Com o festival de eventos climáticos extremos – 15 mortes europeias em ondas de calor, secas prolongadas associadas aos incêndios florestais, tempestades de areia no interior de São Paulo, tempestades com ventos fortes proliferando no Sul e Sudeste do Brasil, falta de água, deslizamentos de encostas associados às chuvas torrenciais - lentamente as pessoas (e em consequência, as empresas) começam a se dar conta que a questão ambiental vai trazer custos e limitar a competitividade. Isto é muito evidente na área de mudanças climáticas, onde a precificação de carbono está bem visível no horizonte e já chegou a Argentina e Colômbia.
Quais outros caminhos o setor da construção pode seguir para contribuir com as metas brasileiras de descarbonização da economia?
Acredito que a primeira etapa é colocar o monstro disforme – impacto ambiental – em números: precisamos começar a medir de forma sistemática e padronizada a pegada do setor, de cada cadeia de valor, dos produtos, dos edifícios, etc. Felizmente, o Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (Sidac) oferece uma metodologia de pegada de carbono e energia. É uma abordagem simples, barata, direta e que permite medir 90% dos gases do efeito estufa da construção.
Hoje, temos apenas dados públicos validados da fabricação do cimento, o que é uma vantagem enorme para as cimenteiras e para a sociedade. Mas faltam do concreto, das argamassas, das cerâmicas, das estruturas, das alvenarias, coberturas e dos edifícios – da construção até o fim da vida útil. A realização da coleta de dados de empresas poderá ser rápida, caso as entidades setoriais mobilizem seus associados, compartilhando custos e trocando experiências.
Estes dados irão para o Sidac e permitirão as entidades setoriais medirem a pegada do setor. As empresas se compararem seu desempenho ambiental com os competidores que fazem o mesmo produto vão descobrir que tem enorme potencial de mitigação. As empresas mais competitivas certamente vão emitir declarações de desempenho ambiental de produtos (DAP), comunicando seu desempenho para seus clientes. Teremos benchmarks de edifícios, concretos, blocos cerâmicos, entre outros, gerando um círculo virtuoso.
Nesse sentido, cabe ao estado usar seu poder de compra para incentivar este processo. Me parece que a incorporação de indicadores ambientais no PBQP-H é perfeitamente possível.